Park Chan-wook enrolou-se e os Dardenne perdem a fé humana

A entrar no último terço a competição tem estado num nível bem forte, mas a maior desilusão talvez tenha sido <em>Decision to Leave</em>, de Park Chan-wook. <em>Tori et Lokita</em> trouxe os Dardenne ainda mais explícitos na exposição da miséria.
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É neste momento o filme com melhor classificação num quadro de estrelas de críticos internacionais organizada pela Screen International, revista da indústria. Vale o que vale, mas não deixa de ser surpreendente que Decision to Leave, do coreano Park-Chan wook, esteja tão em alta quando numa das sessões de imprensa tenha havido poucos aplausos e mesmo algumas desistências. São 2 horas e meia para contar uma história policial de dois crimes com a mesma mulher como suspeita. Uma mistura de thriller puro e duro com um romance improvável - o polícia que investiga os crimes está irremediavelmente apaixonado por ela.

Cheio de truques e truquezinhos de montagem, fica-se com a ideia de que é um filme a exibir as suas diversas soluções visuais como, por exemplo, o detetive a entrar nas cenas do crime por magia do cinema. Uma câmara que igualmente abana, circula, aproxima-se e volta a abanar, isto é, uma histeria visual que nem sempre tem bom gosto. O que redime em parte este objeto é a construção em jeito literário da personagem do detetive, alguém que não dorme e é obcecado pelo crime, mas trata-se realmente um Park Chan-wook longe dos tempos de Old Boy e Vingança Planeada.

De mal como o mundo parecem andar os irmãos Dardenne. Os cineastas belgas apresentaram ontem Tori et Lokita, história de uma adolescente africana na Bélgica e do seu irmão menor. Dois seres recusados pela sociedade e que fazem tudo para sobreviver numa cidade que os rouba e persegue. Duro, duríssimo, Tori et Lokita não é dos melhores filmes da dupla mas ensaia algo novo no seu cinema: uma narrativa de suspense. E o que se pode afirmar é que esta capa de thriller realista resulta muito bem. Tori et Lokita perturba e deixa-nos a pensar como podemos estar de olhos fechados quando ao nosso lado existe escravidão humana, neste caso de refugiados. Daqui ninguém se salva...

dnot@dn.pt

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