As cabeças viram-se quando An Hui e Ye Jianbin andam na rua na cidade chinesa de Shenzhen com os trigémeos, que foram concebidos graças à doação de um óvulo e a uma barriga de aluguer..As pessoas estão na maioria curiosas com a sua família não convencional, disse An, acrescentando que nem sempre é assim na China, onde os casais homossexuais há muito têm que lutar contra os valores confucionistas conservadores.."Tenho sorte porque nasci na China durante um período de rápidas mudanças. A sociedade de hoje é muito mais tolerante", disse à Reuters o gerente de investimentos no seu escritório, no bairro financeiro de Shenzhen.."Se tivesse nascido durante a Revolução Cultural, estaria morto", disse An, de 33 anos, que conheceu o parceiro Ye em 2008..Os dois homens queriam uma família e começaram a explorar a opção da fertilização in vitro (FIV), com a ajuda de uma doadora de óvulos e de uma barriga de aluguer..Em 2014, uma mulher tailandesa deu à luz em Hong Kong aos três rapazes - An Zhizhong, An Zhiya e An Zhifei - que foram concebidos usando óvulos de uma modelo alemã, segundo An..Ele negou identificar a mulher ou a empresa que organizou os procedimentos..A questão de os casais gays ou lésbicas terem acesso a tratamentos de reprodução medicamente assistidos, como a FIV, lançou o debate político em vários países, incluindo mais recentemente em França e Israel..O governo chinês não expressou uma posição clara em relação à comunidade LGBT do país, segundo Yanzi Peng, diretor de um grupo de defesa dos direitos LGBT, com sede em Guangzhou (Cantão).."A melhor palavra para descrever a atitude do governo chinês é 'ignorar'", disse Peng.."É difícil avaliar a atitude exata deles. Eles não se opõem diretamente à comunidade LGBT porque isso iria contra as atitudes internacionais sobre o assunto", acrescentou Peng..Outros grupos de defesa dos direitos da comunidade lésbica, homossexual, bissexual e transgénero (LGBT) dizem que a a China devia suavizar as leis que limitam a gravidez a casais heterossexuais.."Os casais homossexuais não têm forma de usar legalmente a tecnologia de reprodução. Muitas pessoas têm que viajar para fora e pagar um valor muito elevado para terem crianças", disse Bin Xu, diretor do grupo LGBTI+, sedeado em Pequim..Após décadas de pudor comunista sobre o sexo de qualquer tipo, os chineses LGBT têm abertamente enfrentado burocracia, insegurança jurídica e normas sociais arraigadas para afirmar o seu lugar na sociedade..Apesar de as grandes cidades chinesas terem uma animada cultura homossexual e de as relações entre pessoas do mesmo sexo não serem ilegais, o governo não mostrou qualquer interesse em legalizar os casamentos homossexuais e lança operações periódicas sobre conteúdo homossexual online..An Hui, que é membro do Partido Comunista, diz que é hora de repensar as ideias tradicionais de família e de casamento na China, que enfrenta os problemas de uma população cada vez mais idosa e a diminuição na taxa de nascimentos..A China permitiu em 2016 que os casais tenham um segundo filho, relaxando as barreiras impostas há quase quatro décadas. Os media oficiais dizem que este ano o governo estava a considerar retirar todos os limites ao número de filhos que as famílias podem ter.."Na China, muitas pessoas dizem que uma família é um laço entre um homem e uma mulher, mas esse não é necessariamente o caso", disse An.."Se um homem solteiro tem filhos, uma mulher solteira tem filhos, dois homens têm filhos e duas mulheres têm filhos, então estas pessoas têm uma família", afirmou. "Uma família precisa de amor para ser uma família. Não tem nada a ver com sexualidade."