Pais de futuros bailarinos exigem melhores condições enquanto duram obras na escola
Pais e encarregados de educação de alunos da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional apelam à Câmara Municipal de Lisboa para que os estudantes sejam transferidos para um único edifício enquanto não avançam as obras no prédio original, no Bairro Alto, em Lisboa. Há três anos que estão nesta situação.
"Já estamos nesta situação há quase três anos, há um conjunto de condições que deveriam ser garantidas aos alunos e que deixaram simplesmente de existir e isso vai acabar por comprometer a entrada dos alunos no mercado de trabalho", considera a presidente da associação de pais do Conservatório do Dança, Maria João Ribeiro.
A Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional (EADCN), que comporta alunos do 2º ciclo e ensino secundário, está localizada num edifício do século XIX no centro histórico de Lisboa que, até ao ano de 2019, nunca tinha sofrido qualquer intervenção para requalificação. As condições centenárias e desgastadas das instalações causaram, durante muitos anos, alarido entre a comunidade estudantil, os profissionais e encarregados de educação. Em maio de 2019 a instituição vê, finalmente, uma luz ao fundo do túnel com a autorização para início de obras. Em janeiro de 2020, devido a incumprimentos por parte do empreiteiro, as obras foram suspensas e dá-se início a um novo processo de concurso público de adjudicação.
Até hoje a solução provisória foi transferir os estudantes de dança para outros três edifícios dispersos por toda a cidade de Lisboa, o que implica a deslocação de alunos e docentes entre os diferentes imóveis. As instalações que ainda funcionam na Rua dos Caetanos, edifício original, estão degradadas e constituem um risco para os alunos, professores e todo o pessoal docente. Para além disto, com a mudança perderam-se três estúdios, dois balneários, três salas de aula, o refeitório, lavandaria, guarda-roupa e outros espaços, como é o caso da sala da associação de pais.
A constante deslocação dos alunos para os diferentes edifícios leva a que os mesmos não consigam chegar a horas a algumas aulas, diz a presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação (APEE). A título de exemplo, muitos dos estudantes têm desenvolvido lesões por não conseguirem fazer aquecimento devido à escassez de tempo: "Quinze minutos de intervalo não é suficiente para que os alunos consigam movimentar-se de um edifício para o outro e ainda tenham tempo de se equipar para a aula seguinte", afirma Maria João Ribeiro, ao telefone com o DN.
Também as condições desfavoráveis dos estúdios e balneários servem de alerta: são muitos os alunos que não chegam sequer a tomar banho e seguem para as aulas transpirados, correndo o risco de adoecerem no Inverno. A Associação de Pais e Encarregados de Educação afirma que faltam desde cabeças de chuveiro, a torneiras e bancos onde os alunos se possam sentar durante a muda de roupa entre as aulas.
Desta forma, Maria João Ribeiro alega que a "atual luta" desta APEE que dura pelo menos há dois anos, desde o início das obras, visa conseguir vir a resolver este problema que afeta o ensino e o aproveitamento dos alunos.
Esta solução provisória custa ao Estado cerca de 200 mil por ano e os encarregados de educação defendem que esta não tem sido uma estratégia viável para o desenvolvimento da comunidade estudantil. "O novo concurso público de adjudicação não está sequer aberto, as obras levarão cerca de quatro a cinco anos, e nós não podemos deixar que 160 alunos continuem a ter aulas nestas condições", sublinha a presidente da APEE. Esta questão tem custado alunos à escola de dança: "o número de estudantes por turma tem diminuído e isto acontece precisamente por causa das más condições das instalações", acrescenta ainda.
Os encarregados queixam-se também de uma outra situação: os alunos mais novos estão agora condicionados e não conseguem assistir às aulas e às avaliações dos colegas mais velhos. Isto acontece porque os estudantes estão todos separados, em edifícios diferentes. Esta dispersão em momentos cruciais de avaliação na vida de um aluno, principalmente na área artística que requer muita observação e prática, torna-se um entrave à aprendizagem e ao amadurecimento profissional dos mesmos.
A esta situação acresce ainda o contexto pandémico que se vive atualmente que veio acentuar ainda mais os níveis de stress e ansiedade da comunidade estudantil, o que preocupa os pais e encarregados de educação.
É neste âmbito que a APEE apela à Câmara de Lisboa. "O que nós procuramos é uma solução provisória, a curto e médio prazo, até ao início das obras e enquanto estas decorrem. Queremos uma solução semelhante ao que aconteceu à Escola de Música do Conservatório, em que 750 estudantes foram transferidos para um único edifício."
É importante ressalvar que uma formação em dança implica a utilização de espaços que comportem chão e instrumentos especiais para a aprendizagem dos estudantes.