Descontando o pecado original - a extinção à força de um Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que não só funcionava bem como é amplamente elogiado pelas estruturas internacionais, por uma teimosia do Executivo em funções para salvar a estafada e irreparável face a um ministro que durante quatro anos se esquivou a assumir responsabilidades políticas por sucessivas desgraças -, já se sente os ventos de mudança no MAI. Ainda que continuem abertas as feridas da insegurança, dos maus-tratos e das precipitações autistas da anterior gestão..Sob a tutela de José Luís Carneiro, a Administração Interna tem privilegiado um desenho de políticas feito da única forma possível para que se tornem eficazes: ao lado das forças de segurança que representa, em vez de em oposição a elas. Contando com as impressões e posições de quem está no terreno e melhor sabe que estratégias e organização podem ajudar e que medidas terão efeito contrário ao que se diz pretender..Ainda que, infelizmente, não possa deixar de prosseguir os movimentos desencadeados por Costa e Cabrita, e que tenha ainda de trabalhar na cicatrização dos traumas, o novo ministro tem dado provas de uma postura radicalmente diferente do antecessor. Isso mesmo foi visível quando partilhou as prioridades para a área, aquando da discussão do Orçamento do Estado, em que se debruçou sobre o papel estratégico e fundamental das forças de segurança no país e realçou a importância de investir no reforço e na valorização dos profissionais e nas suas condições de trabalho..E além das palavras, chegou aos atos, incluindo medidas práticas como o adiamento sine die do processo de extinção do SEF - um dossier que, aparentemente, encontrou a zeros quando, pelas datas definidas por Costa e Cabrita, já deveria estar executado - e a capacidade de reavaliar decisões, como agora fez na definição do controlo das fronteiras marítimas (leia aqui)..A extinção do SEF é, ao que tudo indica mesmo que contra todas as vozes conhecedoras das atividades e do currículo desta estrutura, irrevogável. Mas pelo menos será feita ao ritmo necessário para não ser uma desgraça completa, construindo-se com a visão de todas as dimensões do processo e com a noção do que essa reestruturação implica, amadurecendo decisões e consensualizando-as tanto quanto possível. E partindo da certeza de que é essencial garantir a segurança e a ordem nas nossas fronteiras, mas é igualmente fundamental assegurar o bem-estar dos agentes. Que não se pode descurar que os responsáveis por essa exigente tarefa estão integrados, são valorizados e mantêm ou melhoram direitos e condições de trabalho e na carreira..Há muitos e duros caminhos a trilhar, sobretudo para reconquistar a paz social e a confiança das nossas tão negligenciadas forças de segurança. Mas a mudança que começou no Terreiro do Paço parece ir no sentido certo.