Novembro não foi há muito e a Festa do Cinema Italiano está de volta. Abril volta a ser o mês habitual desta mostra de cinema depois das fintas da pandemia. Um regresso que põe em ordem o prazer do reencontro com a memória e a novidade da sétima arte italiana. Da fornada de 2022 as antestreias continuam a ser o prato forte, sobretudo nesta edição que consegue não deixar de fora os grandes títulos que se destacaram no circuito dos festivais. Mais do que nunca, é um evento que ajuda a que os filmes italianos ganhem cota de mercado em Portugal. Uma promoção que ao longo dos anos conseguiu impor autores e manter um público que já não passa sem cinema transalpino..Com a curadoria de Stefano Savio, esta Festa começa em Lisboa e abre com Ennio, de Giuseppe Tornatore, documentário sobre Morricone..Um começo atraente para uma festa que costuma ser uma comunhão bonita de cinéfilos, curiosos e amigos da cultura italiana. Da coleção de antestreias, o filme de encerramento poderá ser também um dos acontecimentos: o regresso de Roberto Andó, Il Bambino Nascosto, história da relação de um jovem da Camorra com um inspirador professor de piano. Exemplo de um ideal de cinema de grande público com a caução do Festival de Veneza, que, por coincidência também o programou como filme de encerramento..Outra das sessões mais esperadas é a de Das Profundezas, de Michelangelo Frammartino, nome de culto do cinema do real italiano que estará presente na Festa. Aqui filma uma expedição de um grupo de espeleólogos nos anos 1960 à segunda gruta mais funda do mundo: o Abismo de Bifurto. Espera-se cinema dos sentidos com um irrefutável sentido de aventura. Em Veneza venceu o prémio do júri..Também imperdível deve ser Marx può Aspettare/Marx pode Esperar, regresso de Marco Bellochio a esta mostra, desta feita com um documentário aclamado em Cannes e onde o veterano disseca o seu processo de cinema e expõe o seu trauma com a morte do irmão gémeo. Quem é fã do realizador de O Diabo no Corpo deve correr para ver esta sessão já que a sua estreia comercial não é para os próximos tempos..Da coleção dos grandes nomes também Luca Guadagnino marca presença. O cineasta de Chama-me Pelo Teu Nome está em destaque com o documentário Salvatore - Shoemaker of Dreams, sobre Salvatore Ferragamo, criador de sapatos que conquistou o mundo da moda depois de trabalhar em Hollywood. Veio do Festival de Berlim deste ano e pode servir de "entrada" para o próximo Bones and All, um dos filmes que se espera de Cannes 2022....Desilusões também encontramos, como por exemplo La Veduta Luminosa, de Fabrizio Ferraro, repescado ao Festival de Berlim de 2021, ponto de encontro entre uma iluminação de um cineasta a querer fazer cinema com os universos de Fiedrich Holderlin..Pedante e presunçoso, este passeio pela Floresta Negra só poderá fazer sentido estar aqui pela presença de Catarina Wallenstein, raro raio de luz numa obra que felizmente não seduziu nenhum distribuidor nacional..Amanhã a Festa torna-se mesmo dançante e está anunciada a festa Italo Disco entre as 21h e as 02h na Voz do Operário, onde atua o DJ Mário Valente, da Futura-Rádio de Autor, Nat&Tasha, artista não binária capaz de ser drag queen mas também drag king..O programa inclui ainda Lovely and The Gang, banda que tocará covers de música italiana..A nível de acontecimentos paralelos a Festa continua a seduzir em Lisboa com o já clássico Cine-Jantar, desta vez 4, 5 e 6 próximos mas em lugar secreto. O menu será em torno de Ugo Tognazzi, figura incontornável da "commedia all'Italiana" e o filme em destaque o infame Pato com Laranja, a tal comédia de Luciano Salce que nos anos 1980 teve exibição interrompida na RTP..Quem preferir concertos, este festival tem um momento especial: Salvador Sobral numa noite onde interpreta clássicos italianos em jeito de homenagem a Franco Battiato, o "maestro" da música pop italiana. Os fãs de Battiato terão ainda a possibilidade de a ver no documentário Temporary Road - (una) Vita, de Franco Battiato, de Mario Tani e Giuseppe Pollicelli..dnot@dn.pt