Pais que repreendem uma criança por estar a ler um livro à mesa durante a refeição? Eis um retrato que não combina com os dias de hoje. Em vez de livros, são os tablets ou smartphones que dominam a atenção dos mais novos... A contrariar essa cultura dos ecrãs, que matou a chama da curiosidade e o sentido de aventura de outrora, O Homem da Água devolve-nos a imagem "obsoleta" do miúdo viciado em livros, neste caso, nas histórias de Sherlock Holmes (um pouco como o filho de Assane, na série Lupin, com o bichinho da personagem criada por Maurice Leblanc)..YouTubeyoutubeBfqwRljSZio.O pequeno protagonista, Gunner (Lonnie Chavis), está à procura de inspiração para uma banda desenhada em desenvolvimento, sobre um detetive que investiga a sua própria morte. Mas quando descobre que a mãe (Rosario Dawson) está muito doente, e ela sim, próxima da morte, a ficção de quadradinhos dá lugar à crença numa lenda urbana sobre um homem imortal com poderes de cura - o Water Man do título..Nesta primeira longa-metragem assinada pelo ator britânico David Oyelowo há elementos que nos puxam para os anos 1980 e, em particular, para a fantasia segundo Steven Spielberg: o menino de bicicleta e a possibilidade de existência de uma figura que extravasa as leis terrenas, com o pano de fundo do drama familiar. Não é por acaso que a certa altura vislumbramos na tampa de uma caixa de lata as personagens de E.T. - O Extraterrestre. E lembramo-nos também de Os Goonies, de Richard Donner (realizador falecido esta semana). Porém, as referências não fazem mais do que manter segura uma leve nostalgia enquanto O Homem da Água se esforça para alcançar a nota certa..Com o único propósito de enganar a morte que ameaça a mãe debilitada, o jovem Gunner foge de casa e segue para a floresta em busca do mítico Water Man na companhia de uma miúda de cabelos azuis (Amiah Miller) que diz tê-lo encontrado, ostentando uma cicatriz para o provar. Mas à medida que fenómenos da natureza se traduzem numa linguagem fantasiosa, o perigo aproxima-se, e o pai do menino (Oyelowo) terá de o chamar à realidade. É preciso afinar as emoções lá em casa....Como objeto mainstream juvenil que é, à procura de uma expressão de jornada espiritual embrulhada em conto de fadas, O Homem da Água cumpre um imaginário ao nível puramente ilustrativo - da mesma forma que os desenhos com vida de Gunner assumem uma parte importante desse imaginário. Ou seja, é um filme sem espessura ou gravidade emocional, apenas com indicadores sentimentais. Pode ser por pudor ou por falta de jeito. Mas parece ser mais o segundo, já que um dos aspetos desastrados da produção é o uso excessivo de banda sonora, por vezes desadequada à escala das ditas emoções. .Em todo o caso, David Oyelowo tem a seu favor o que qualquer realizador-ator tem: sabe dirigir os seus intérpretes. É por isso que, entre o drama doméstico e o plano mágico da aventura, saem vencedoras as cenas caseiras entre pais e filho. Digamos que Spielberg fica como um sonho arrumado na estante, a acenar uma simpática tentativa falhada.
Pais que repreendem uma criança por estar a ler um livro à mesa durante a refeição? Eis um retrato que não combina com os dias de hoje. Em vez de livros, são os tablets ou smartphones que dominam a atenção dos mais novos... A contrariar essa cultura dos ecrãs, que matou a chama da curiosidade e o sentido de aventura de outrora, O Homem da Água devolve-nos a imagem "obsoleta" do miúdo viciado em livros, neste caso, nas histórias de Sherlock Holmes (um pouco como o filho de Assane, na série Lupin, com o bichinho da personagem criada por Maurice Leblanc)..YouTubeyoutubeBfqwRljSZio.O pequeno protagonista, Gunner (Lonnie Chavis), está à procura de inspiração para uma banda desenhada em desenvolvimento, sobre um detetive que investiga a sua própria morte. Mas quando descobre que a mãe (Rosario Dawson) está muito doente, e ela sim, próxima da morte, a ficção de quadradinhos dá lugar à crença numa lenda urbana sobre um homem imortal com poderes de cura - o Water Man do título..Nesta primeira longa-metragem assinada pelo ator britânico David Oyelowo há elementos que nos puxam para os anos 1980 e, em particular, para a fantasia segundo Steven Spielberg: o menino de bicicleta e a possibilidade de existência de uma figura que extravasa as leis terrenas, com o pano de fundo do drama familiar. Não é por acaso que a certa altura vislumbramos na tampa de uma caixa de lata as personagens de E.T. - O Extraterrestre. E lembramo-nos também de Os Goonies, de Richard Donner (realizador falecido esta semana). Porém, as referências não fazem mais do que manter segura uma leve nostalgia enquanto O Homem da Água se esforça para alcançar a nota certa..Com o único propósito de enganar a morte que ameaça a mãe debilitada, o jovem Gunner foge de casa e segue para a floresta em busca do mítico Water Man na companhia de uma miúda de cabelos azuis (Amiah Miller) que diz tê-lo encontrado, ostentando uma cicatriz para o provar. Mas à medida que fenómenos da natureza se traduzem numa linguagem fantasiosa, o perigo aproxima-se, e o pai do menino (Oyelowo) terá de o chamar à realidade. É preciso afinar as emoções lá em casa....Como objeto mainstream juvenil que é, à procura de uma expressão de jornada espiritual embrulhada em conto de fadas, O Homem da Água cumpre um imaginário ao nível puramente ilustrativo - da mesma forma que os desenhos com vida de Gunner assumem uma parte importante desse imaginário. Ou seja, é um filme sem espessura ou gravidade emocional, apenas com indicadores sentimentais. Pode ser por pudor ou por falta de jeito. Mas parece ser mais o segundo, já que um dos aspetos desastrados da produção é o uso excessivo de banda sonora, por vezes desadequada à escala das ditas emoções. .Em todo o caso, David Oyelowo tem a seu favor o que qualquer realizador-ator tem: sabe dirigir os seus intérpretes. É por isso que, entre o drama doméstico e o plano mágico da aventura, saem vencedoras as cenas caseiras entre pais e filho. Digamos que Spielberg fica como um sonho arrumado na estante, a acenar uma simpática tentativa falhada.