Já há quem argumente que os resultados de bilheteira do novo Bond estão a salvar os multiplexes. O filme de Cary Fukunaga está a provar, antes de mais nada, que há uma recetividade do grande público para voltar em massa às salas, sobretudo numa altura em que as mesmas já podem ter a sua lotação completa. Mesmo de máscara, prova-se agora que o apelo de ver um filme-acontecimento faz com que as pessoas encham de novo as salas..Em Portugal, perto da segunda semana já quase mais de trezentos mil bilhetes foram vendidos e esta segunda-feira os dados enviados pelo ICA referiam que esta última aventura com Daniel Craig era número 1 incontestável no top com cerca de 58 mil bilhetes, afastando sem problemas qualquer ameaça de Fátima, de Marco Pontecorvo, aliás uma das desilusões em termos de performance: apenas 7700 pagantes no fim-de-semana de arranque, números aquém do que se esperava de um filme internacional que chega a Portugal com um aparato de marketing considerável, um elenco com Harvey Keitel, Sônia Braga, Joaquim de Almeida, Lúcia Moniz e Joana Ribeiro em papéis de destaque e uma versão dobrada em português. É o caso para dizer que nem Nossa Senhora salvou um filme que foi entretanto trucidado pela crítica..Todos os santos estão com a muito celebrada despedida de Daniel Craig da pasta de Bond. Se em Portugal a "marca" Bond sempre pegou bem, neste caso houve uma campanha de meios e de publicidade forte e com ideias eficazes, conseguindo-se afastar um dos potenciais problemas: o seu atraso de estreia - Sem Tempo para Morrer teve duas datas e a primeira das quais remontava a abril do ano passado, poderia, efetivamente, registar-se um efeito de falta de novidade. Mas nada disso: os portugueses quiseram (e estão a querer) voltar ao convívio do maior agente secreto em cinema num grande ecrã. Ajuda também o filme ser poderoso e uma aliança notável de registos leves com um tom trágico possante..O fenómeno por cá também se explica com os timings do lançamento, precisamente neste período de soltura geral e em que quase toda a população volta à vida normal. E este sucesso vem também reafirmar uma tendência do nosso mercado: a validação dos filmes de grande lançamento, ou seja, os blockbusters. Não será de espantar que Venom - Tempo de Carnificina, de Andy Serkis, possa aproveitar essa maré. São tempos em que os filmes de alcance mediano funcionam de forma bem débil, podendo-se até pensar que o público adulto que pagava para ir ver esse tipo de cinema tenha ficado mais viciado no home-cinema dado pelas plataformas ou nas séries de televisão. No desacostumar está a perda....DestaquedestaqueMesmo com a tara dos filmes baseados em super-heróis, Bond resiste e continua a ser apetecível para diversos públicos e targets..Tal como em Portugal, 007- Sem Tempo para Mudar está acima das expectativas em muitos países. Em Inglaterra, os números da abertura foram recordistas. É como se não tivesse havido pandemia e o interregno de seis anos tivesse provocado uma euforia no público. Aí é até caso para dizer que os resultados ainda são melhores agora, coisa notável, sobretudo porque neste caso estamos perante o Bond mais comprido de sempre: são quase três horas de duração..Nos EUA, que ainda têm cidades sem a total abertura das salas, o filme também fez uma fortuna, entrando com combustão máxima para o primeiro lugar com 56 milhões de dólares. Aí não chegou aos números dos mais recentes Spectre, Quantum of Solace ou Skyfall, mas mostrou a sua força, mesmo não devendo ultrapassar o cumulativo da receita de Venom, que entrou no fim-de-semana com mais de 90 milhões de receita... Nos EUA, um filme do universo Marvel é bem mais acontecimento que uma nova aventura de James Bond....Nesta altura de retoma, a escala global de um filme como este faz com que os números internacionais ultrapassem os 300 milhões de dólares. Sucesso realmente espantoso e que vinca a vitalidade do franchise Bond, mesmo quando nesta história a narrativa tenha inventado acontecimentos inovadores para o que se espera desta série ( de recordar que nos créditos finais surja uma promessa escrita: "James Bond vai voltar"). Muito simplesmente, 007- Sem Tempo para Morrer está em primeiro lugar em qualquer território. Mesmo com a tara dos filmes baseados em super-heróis, Bond resiste e continua a ser apetecível para diversos públicos e targets..Em suma, o grande sucesso de 007 - Sem Tempo para Morrer prova que os blockbusters estão longe de estarem em perigo, mesmo quando a Paramount recua novamente com a data de estreia de Top Gun - Maverick e que a Warner tenha planeado uma estratégia de defesa com o lançamento faseado dessa semi-desilusão que é Duna- Dune. Na América, antes do boom 007 provou-se que os filmes de grande escala continuam a funcionar, que o digam os resultados de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis e estreia dessa semana, Venom - Tempo de Carnificina...