O "desconfinamento" setor a setor, segundo António Costa
António Costa deixou claro que as medidas de "desconfinamento" serão tomadas de forma gradual e medido o seu impacto na evolução da covid-19 para "não correr o risco de ter de reverter os passos", embora sem excluir esse cenário: "A primeira prioridade foi conter a pandemia sem matar a economia. A nova prioridade que temos agora é a de reanimar a economia sem deixar descontrolar a pandemia" afirmou, em entrevista publicada este sábado no semanário Expresso.
No dia 2 de maio, Portugal sairá do estado de emergência e o primeiro-ministro, depois de ouvidos os representantes políticos e a equipa de cientistas que trabalha para a Direção Geral de Saúde, gostaria de "poder anunciar o calendário e o programa de desconfinamento progressivo de um conjunto de atividades que têm a ver com o sistema de ensino, com as atividades comerciais e de restauração e com as atividades culturais", a 30 de abril, depois da reunião do Conselho de Ministros.
Mas, na referida entrevista, António Costa adiantou já o que podemos esperar. Antes de mais, apesar de uma maior incidência de covid-19 na região norte, António Costa não gostaria de fazer diferenciações regionais no processo de "descofinamento" e também rejeita qualquer tipo de vigilância das pessoas por meios eletrónicos, admitindo apenas que os cidadãos possam descarregar, voluntariamente, aplicações que servem para partilhar "avisos entre os próprios e sem intervenção de autoridades".
O primeiro-ministro aponta para junho o regresso ao trabalho - e mesmo assim de forma desencontrada em termos de horários e semanas, defendendo a manutenção do "maior número de pessoas possível em teletrabalho".
O regresso às aulas presenciais para a esmagadora maioria dos alunos portugueses ficará para o início do novo ano letivo, em setembro, se tudo correr bem. Para já, em maio prevê-se que os alunos do 11º e 12º anos voltem à escola, assim como as crianças dos 0 aos três anos, que frequentam a creche. Quanto ao pré-escolar, o primeiro-ministro espera que possam voltar às atividades em junho, no período praia/campo.
Nas escolas e transportes públicos será "obrigatório o uso de máscara comunitária", avisou António Costa.
Depois de dois meses confinados a casa, os portugueses anseiam por saber o que podem esperar do período de verão, em que tradicionalmente são gozadas as férias. Mas também nesse caso, existirão restrições, nomeadamente na frequência de praias, pelo menos naquelas em que já costuma existir uma grande aglomeração de pessoas.
"A aglomeração não vai poder existir. As autarquias e as capitanias vão ter de tomar as medidas necessárias para que possamos ir à praia sem que se verifique uma aglomeração", disse António Costa.
Na área da cultura não se comprometeu com uma data para a realização de grandes festivais, reiterando que será mais fácil reabrir os equipamentos com "lugar marcado". "Num cinema, a lotação é restrita, os lugares passam a ser todos marcados, só podem vender bilhetes de duas em duas filas, de três em três cadeiras", exemplificou.
Sobre o regresso dos campeonatos de futebol, Costa admite que seja possível concluí-los "à porta fechada ou só com os lugares cativos distribuídos pelo estádio".
António Costa esclarece que o plano de recuperação da economia depois da pandemia de covid-19 terá de "assentar num fortíssimo plano de investimento", apontando áreas como a ferrovia e os hospitais, e "um programa de emprego que permita absorver muita da mão-de-obra que ficou disponível", quer na área do emprego público, quer social.
"Tínhamos enormes queixas na construção de falta de mão-de-obra, creio que é um problema (por más razões) que já não haverá. Temos o programa de reestruturação da floresta, que implica mão-de-obra intensiva, porque temos os incêndios a seguir. Temos também a necessidade de reforçar muito as condições de apoio pessoal, porque ficou manifesta a fragilidade de recursos humanos de muitas instituições de solidariedade social", exemplificou.
O primeiro-ministro reiterou que "o país não precisa de austeridade", e sim relançar a economia, mas recusa dar uma resposta definitiva sobre esse caminho: "Já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir"