Novo Banco cede Vieira da Silva e Malangatana ao Museu do Crato

Cinco obras da coleção Novo Banco vão estar em exposição no Museu Municipal do Crato, abrindo assim um primeiro polo de pintura do século XX nesta instituição.
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Cinco obras de arte de autoria dos artistas, Manuel Trindade D'Assumpção, Vieira da Silva, Júlio Resende, Menez e Malangatana vão estar a partir desta sexta-feira em exposição no Museu Municipal do Crato, no âmbito de um protocolo de cedência de obras da coleção do Novo Banco, que será assinado neste dia entre o banco e a Câmara Municipal do Crato.

"As obras, de cinco artistas com um percurso marcante na história da pintura do século XX, abrangem um espaço temporal de 30 anos, entre 1968 e 1998, e são representativas da continuidade das pesquisas plásticas desenvolvidas em torno da figuração-abstração", explica o comunicado do Novo Banco, concluindo: "A incorporação, no Museu Municipal do Crato, deste conjunto de obras vem ao encontro da vontade deste Museu em desenvolver projetos em torno da arte do século XX, dando origem ao seu primeiro polo de pintura do século XX".

L'Aube Chromatique (1969), de Vieira da Silva, uma obra sem título de 1988, de Menez, Solidão (1968), de Manuel Trindade D'Assumpção, Mulher (1981), de Júlio Resende, e Percurso (1998), de Malangatana são as cinco obras que passam a constituir o novo núcleo de arte contemporânea no Museu do Crato.

Com estas são já 41 as obras da coleção de arte do Novo Banco que ficam em exposição permanente em 21 museus do país, desde Castelo Branco, Guarda, Guimarães, Setúbal, Caldas da Rainha, Figueiró dos Vinhos, Lisboa, Viseu, Torres Novas, Óbidos, Madeira, Açores, Faro, Beja, Évora, Portalegre e Crato.

"A escolha das obras é sempre feita em diálogo com as instituições, procurando aquelas que podem acrescentar valor a cada museu", explica ao DN Paulo Tomé, coordenador do Departamento de Comunicação e Relações Institucionais do Novo Banco. No caso do Crato, a proposta era criar um núcleo de arte contemporânea lusófona (um pouco à semelhança do que foi feito na Guarda). "Cada caso é um caso e é tratado de maneira diferente", diz este responsável. Ainda no dia anterior a equipa do Novo Banco esteve Museu da Tapeçaria de Portalegre onde deixou um quadro de Carlos Botelho e uma tapeçaria de 7,3 metros, com uma paisagem de Lisboa, também de de Carlos Botelho. Em Figueiró dos Vinhos colocou uma peça relevante de José Malhoa, artista que residiu naquela localidade. Para o Museu de Arte Antiga foi um retrato da Condessa de Verdun, pintado por Elisabeth Louise Vigée Le Brun.

"A nossa ideia é levar a arte contemporânea para zonas menos privilegiadas do país, sobretudo fora de Lisboa. E a condição é que as obras estejam expostas, não podem ficar em acervo, precisamente porque queremos que estejam acessíveis à população", explica Paulo Tomé.

O protocolo será assinado às 11.30, pelo presidente da Câmara Municipal do Crato, Joaquim Diogo, e pelo CEO do Novo Banco, António Ramalho. Às 17.00, será apresentado no museu um novo espaço de exposição arqueológica dedicado a Agostinho F. Isidoro, natural de Aldeia de Mata, que enquanto antropólogo ao serviço da Universidade do Porto, desenvolveu localmente um alargado conjunto de escavações arqueológicas no património megalítico.

Uma coleção de pintura que merece ser vista

A coleção de arte do BES resulta da venda do Novo Banco ao fundo Lone Star e a instituição assumiu com o Estado "o compromisso de disponibilizar à fruição pública o património cultural e artístico do Novo Banco, através de parcerias com entidades públicas e privadas, como museus e universidades, de âmbito nacional e regional.

O Museu Nacional dos Coches, em Belém, foi o primeiro a receber um destes depósitos de longa duração - a tela a óleo Entrada Solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro. O alto membro do clero é recebido em Lisboa a 22 de abril de 1693, da pintura em concreto pouco se sabe, para lá de usar uma técnica comum na região do Veneto de onde o Núncio Cornaro é oriundo.

Foi o início de "um programa de depósito descentralizado da coleção de pintura, colocando à fruição pública 97 obras de relevante valor artístico, em vários museus espalhados pelo território nacional", de acordo com as instituições.

A coleção de pintura do Novo Banco inclui obras dos séculos XVI a XX. De Os Financeiros, atribuída a Quentin Metsys, no século XVI, A Torre de Babel, de meados do século XVII da Escola Flamenga, passando paisagens do francês Jean Baptiste Pillement, que em 1745 saiu do país natal em direção a Espanha e Portugal para trabalhar como pintor e decorador. Uma das obras do NB é uma representação de um momento que se seguiu ao naufrágio do navio de guerra San Pedro de Alcântara, nas falésias da Papoa, em Peniche.

Dos séculos XIX e XX, destacam-se obras de artistas portugueses como Silva Porto, José Malhoa, Artur Loureiro, Júlio Sousa Pinto, Eduardo Malta, Júlio Pomar, Júlio Resende, Eduardo Viana, Maria Helena Vieira da Silva, Manuel d"Assumpção, Carlos Botelho, Manuel Cargaleiro, Mário Dionísio, Nikias Skapinakis, Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, Graça Morais e Pedro Croft. Neste conjunto estão ainda incluídos quatro portulanos. Estes mapas antigos de portos conhecidos também fazem parte do conjunto que será depositado em museus nacionais.

Uma marca para quatro coleções

Com a assinatura do acordo entre Novo Banco e Ministério da Cultura foi também apresentada a marca Novo Banco Cultura, que pretende agregar, sob o mesmo conceito, quatro coleções distintas do ex-BES - pintura, fotografia, livros e numismática - "com o objetivo último de preservar e divulgar o seu vasto património".

A coleção de fotografia contemporânea do NB, constituída a partir de 2004, tem hoje mais de mil obras de 280 artistas de 38 nacionalidades (portugueses, incluídos). A seleção procura obras representativas dos artistas, em vez de adquirir grandes séries para incluir um maior número de artistas e distintas práticas artísticas. O acervo reúne mais de mil obras de 280 artistas, de 38 nacionalidades, incluindo portugueses.

A biblioteca de Estudos Humanísticos tem cerca de 1100 livros antigos - títulos impressos no século XVI como Utopia, de Thomas Moore, com texto introdutório de Guillaume Budé, e outras obras raras como uma edição de Os Lusíadas, comentados por Manoel Correa, em 1613, cartas régias de D. Afonso V e D. Manuel, os inventários da Casa da Tapada, mandada construir por Sá de Miranda em 1540 - e fundos documentas de Francisco Marques de Sousa Viterbo e Carolina Michaëlis.

Deste conjunto faz parte a biblioteca do professor e investigador da cultura portuguesa e europeia José Vitorino de Pina Martins, a quem, em 2008, foi adquirida a biblioteca pessoal.

A quarta coleção do Novo Banco Cultura é de numismática, adquirida a Carlos Marques da Costa, em 2007. Tem cerca de 13 mil moedas, cunhadas em Portugal ou em território português, com exemplares anteriores à formação do reino de Portugal e passando pelo dinheiro das colónias.

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