"Não há um caos". Calma é palavra de ordem no concelho dos Açores fechado pelo vírus
A tranquilidade mantém-se por estes dias na Povoação, localidade da Ilha de São Miguel, depois da Autoridade de Saúde Regional ter decidido estabelecer um cordão sanitário no concelho onde foram registados vários casos positivos pelo novo coronavírus.
"Esta é uma situação inédita no concelho da Povoação, pelo que no princípio foi acatada com algum espanto e até alarmismo, mas logo de seguida, e mais friamente, as pessoas perceberam que se está a fazer esta medida tendo em conta a preocupação com a sua saúde e das famílias, pelo que toda a gente percebe", afirmou o presidente da Câmara Municipal da Povoação, Pedro Melo, em declarações à Açores TSF.
O autarca revelou ainda que, mesmo antes de ser decretado o cordão sanitário pelo Governo dos Açores, os povoacenses já estavam a permanecer em casa como recomendado pela Autoridade de Saúde Regional.
"As pessoas estão recatadas nas suas casas e penso até que com alguma tranquilidade, a qual nos próximos dias tenderá a aumentar", acrescentou.
A viver no centro da vila da Povoação, Ruben Bettencourt, professor na Escola Básica e Secundária, contou ao Açoriano Oriental que há já duas semanas que a vila está em recolhimento.
"Muito antes deste cordão sanitário ter sido estabelecido já as pessoas cumpriam rigorosamente a quarentena e só saiam de casa para efeitos absolutamente necessários", descreveu, revelando que "a vila está praticamente parada".
O professor contou que na segunda-feira necessitou de ir ao supermercado, tendo notado a primeira grande diferença em relação aos dias anteriores, dado que em vez de entrarem no estabelecimento, aos clientes era solicitada a entrega de uma lista com as compras, que depois eram entregues ao cliente.
Refira-se que os supermercados estão entre os estabelecimentos comerciais que se podem manter aberto após ter sido imposto um cordão sanitário ao concelho.
Ruben Bettencourt considerou ainda que o registo de doentes com covid-19 no concelho era "uma inevitabilidade", lembrando que se tratando de uma pandemia acabaria por atingir também os açorianos.
Nesse sentido, pediu a todas as pessoas para manterem a calma e tranquilidade, de forma a melhor ultrapassarem esta pandemia e os seus efeitos.
Já Francisco Gaspar, residente na freguesia de Nossa Senhora dos Remédios, contou que no domingo foi surpreendido com a decisão de colocar o concelho em cerco sanitário.
"Apesar de eu e as pessoas da freguesia já estarmos a tomar as medidas que tinham sido recomendadas, o que é certo é que estávamos praticamente todos desprevenidos", afirmou, contando: "por contacto telefónico e mesmo pelas redes sociais vejo que as pessoas estão apreensivas e cautelosas, mas conscientes que a condição no concelho pode ser ultrapassada se as indicações emanadas pela Direção Regional de Saúde forem respeitadas".
Calma foi a expressão escolhida por Luís Quental, habitante e empresário das Furnas, para descrever o ambiente na freguesia durante o dia de ontem.
"De uma maneira geral as pessoas reagiram de uma forma positiva e calma porque percebem que esta medida é para proteção e segurança de todos", contou ao Açoriano Oriental, acrescentando "não há um caos, nem toda a gente está assustada com o vírus. A situação é de calma e de um elevado grau de civismo".
O empresário lembrou que nesta freguesia todo o comercio não essencial já está encerrado desde 15 de março pelo que já se tem observado muito pouco movimento dos locais. Mesmo assim revelou que os bens essenciais não têm faltado.
"Não houve nenhuma rutura de stocks e os fornecimentos continuam a ser feitos com normalidade e mesmo a nível da Associação Empresarial das Furnas não notamos qualquer alteração. Tudo segue dentro da normalidade possível", revelou.
Mesmo assim Luís Quental não deixou de se revelar preocupado com o impacto que esta pandemia poderá ter numa freguesia que vive do setor do turismo.
"O turismo foi a primeira atividade a ser afetada, mas talvez todos vamos passar por essa circunstância. Agora a prioridade é proteger as pessoas", destacou.
O empresário revela que, no seu caso particular, apenas mantém a produção de bolos lêvedos um dia por semana de forma a manter um contacto com o exterior, mas que toda a laboração é realizada com o numero mínimo de pessoas e sem contacto com o público.