Em toda a Europa, os cidadãos confrontam-se hoje com um desafio sem paralelo há várias gerações. Em alguns meses, a propagação exponencial da covid-19 traduziu-se numa emergência de saúde pública e numa crise económica que perturbaram o nosso quotidiano de forma sem precedentes..Os últimos meses lembraram-nos a todos, da forma mais dramática, que a saúde é uma dádiva. Para proteger esta dádiva, foram tomadas medidas de saúde pública sem paralelo para reduzir o número de novas infeções. Estas medidas, juntamente com os enormes sacrifícios dos nossos cidadãos, possibilitaram o levantamento progressivo de muitas das restrições impostas nos últimos meses, o que constituiu uma oportunidade para as pessoas e as nossas economias respirarem após meses de confinamento - um raio de esperança..No entanto, em muitos aspetos, entramos agora na fase mais importante. Assistimos à reabertura de bares, restaurantes e cinemas e muitos de nós preparam-se para desfrutar das férias de verão. Os cidadãos aguardam ansiosamente, e com razão, a oportunidade de retomarem planos desfeitos de celebrações de etapas importantes da vida - fim de estudos, primeiros passos na vida profissional das gerações mais jovens, casamentos ou férias. No entanto, mais do que nunca, a vigilância e a prudência por parte de todos são agora fundamentais..Embora se tenha assistido a uma melhoria constante da situação na União Europeia (UE), com uma diminuição de novos casos e de óbitos, aliviando a pressão sobre os hospitais após meses de situações caóticas e muito difíceis, o vírus continua bem presente entre nós e poderá ressurgir novamente, com virulência, se deixarmos de ser cuidadosos. Estamos já a ver sinais disto mesmo, com vários países da UE, incluindo Portugal, a comunicar vagas de infeções ou importantes surtos localizados..Não é tempo de baixar a guarda. É tempo, sim, de nos concentrarmos no reforço da nossa capacidade de resposta e de proteção dos cidadãos em caso de novos surtos. O tempo é um fator determinante..É por esta razão que apelo a todos os Estados membros para que multipliquem o número de testes de diagnóstico, o rastreio dos contactos e a vigilância da saúde pública. Qualquer novo foco potencial deve ser detetado sem demora e imediatamente contido a nível local. Em nenhum lugar da Europa devemos permitir que um evento superdisseminador ou um surto numa fábrica conduza novamente à propagação descontrolada do vírus. Ainda que a contenção da covid-19 esteja a salvar vidas e o tratamento das pessoas infetadas continue a ser uma prioridade, tal não pode ser feito em detrimento dos doentes com outros problemas de saúde..É por esta razão que apelo à solidariedade transfronteira quando são ultrapassadas as capacidades de cuidados de saúde a nível nacional. Esta solidariedade é agora mais necessária do que nunca. Temos de evitar a todo o custo que, após a covid, as pessoas com outras doenças paguem um preço ainda maior..Nunca mais os profissionais de saúde devem encontrar-se na situação de ter de escolher os doentes a quem dar equipamentos que lhes podem salvar a vida. É por esta razão que apelo a todos os Estados membros para que tenham uma ideia clara das respetivas necessidades de material médico, capacidades nacionais de produção e reservas de equipamentos essenciais. Os mecanismos a nível da UE para adquirir esses artigos estão à sua disposição e está na hora de os usar..À medida que gozamos dos dias longos e do sol, temos de estar conscientes de que este verão não será como os verões que conhecemos. Neste ano, viajar pode ser um risco. Neste ano, fazer novas amizades e socializar pode ser um risco. E mesmo o risco mais diminuto pode ter graves consequências. É por esta razão que apelo aos governos e às autoridades públicas em toda a UE para que sejam firmes, claros e diretos na forma como comunicam com os cidadãos..Até que seja encontrada uma vacina ou um tratamento eficaz, são os nossos cidadãos que estão na linha da frente contra este vírus. E apesar dos incansáveis esforços para acelerar o desenvolvimento de vacinas contra a covid, favorecer o acesso a tratamentos e a medicamentos para cuidados intensivos e apoiar ensaios clínicos de medicamentos reorientados para novos fins, por enquanto, a prevenção do ressurgimento da covid depende apenas de nós, os cidadãos, depende de confiarmos nas recomendações dos cientistas e de as seguirmos à letra..Precisamos do contributo de todos e de concentrar todos os esforços para evitar o ressurgimento do vírus e manter isolados os focos localizados. Todos temos de continuar a dar provas da solidariedade e da paciência que nos permitiram controlar o vírus..A União Europeia esforçar-se-á por dar às pessoas condições de regressar gradualmente às suas vidas normais. Mas fá-lo-emos um passo de cada vez, dando sempre prioridade à ciência e à proteção da saúde pública..Comissária europeia da Saúde e Segurança dos Alimentos