Mutações do virus detetadas em Portugal sem maior gravidade
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) tem vindo a monitorizar a variabilidade genética do SARS-CoV-2 desde a primeira vaga, a partir de abril. Estudou já 1785 sequências do genoma e as mutações encontradas são consideradas "normais e sem maior gravidade" do que as variantes que têm contagiado a população portuguesa.
Fonte do INSA explicou ao DN que é normal os vírus sofrerem mutações e que a análise dessas variáveis é um trabalho contínuo. Os resultados são revistos e continuamente atualizados.
"Até ao momento, ainda não foi identificada em Portugal a nova variante genética detetada a circular numa região do Reino Unido", nem esse facto vai alterar a atuação da equipa que faz essa monitorização.
A investigação desenvolvida no INSA, denominada "Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (COVID-19) em Portugal", é de âmbito nacional e envolve uma rede de 60 hospitais/laboratórios que enviaram, até ao momento, as 1785 sequências de genoma já processadas.
Pretende-se "determinar os perfis das mutações do SARS-CoV-2 para identificação e monitorização de cadeias de transmissão do novo coronavírus, bem como identificação de novas introduções do vírus em Portugal", refere a mesma fonte.
Um dos exemplos dessa investigação é Ovar, cidade que chegou a ter um cerco sanitário durante a primeira vaga da pandemia. Foi detetada no concelho uma nova variante do vírus e que foi responsável por mais de um quarto dos contágios em Portugal nessa fase. Esta variante foi detetada em 11 distritos nas regiões Norte e Centro e o cerco sanitário impediu que se propagasse ao sul do país.
Tratou-se de uma estirpe do SARS-CoV-2 ("D839Y") com uma mutação específica na proteína Spike e que foi responsável pela disseminação massiva do coronavírus no país. Terá sido importada da Itália em meados de fevereiro, circulou despercebida nas regiões Norte e Centro e, quase 15 dias depois, é que foi detetado o primeiro caso da covid-19 em Portugal, dia 2 de março.
"Estimamos que, durante a fase exponencial da epidemia e em particular entre 14 de março e 9 de abril, a variante de D839Y tenha causado cerca de 3800 infeções, ou seja, 25% do total de casos confirmados de COVID-19 em Portugal", explicou, posteriormente, João Paulo Gomes, coordenador do estudo.
A proteína Spike tem sido foco de ampla investigação - por ser ser responsável pela ligação do vírus às células humanas, permitindo a infeção -, nomeadamente para o desenvolvimento de vacinas.
Vacinas que, segundo as primeiras análises dos peritos, serão eficazes com a nova variante detetada no Reino Unido, no entanto, advertem, só o futuro o poderá confirmar.