Morreram mais 1255 pessoas do que esperado desde o início da pandemia em Portugal

No mês seguinte ao início da pandemia em Portugal, o país registava um incremento significativo na mortalidade, mesmo retirando à equação as mortes por covid-19. A mudança na resposta aos mais idosos estará na origem dos números, de acordo com as conclusões da Escola Nacional de Saúde Pública.
Publicado a
Atualizado a

Quase metade (49%) das mortes registadas em Portugal entre o dia 16 de março (em que foi registado o primeiro óbito por covid-19 no país) e 14 de abril tiveram como causa esta doença. No entanto, um aumento nas mortes declaradas por outras patologias (51% do total), especialmente entre aqueles com mais de 75 anos, conduziu a um "excesso de mortalidade" neste mesmo período. O que os especialistas consideram ser fruto da "alteração do padrão de acompanhamento e da resposta" aos mais idosos, em tempos de pandemia. Os resultados foram divulgados esta terça-feira no Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Universidade Nova de Lisboa.

Comparando com a mortalidade média diária observada nos últimos dez anos, foram registados neste período mais 1255 óbitos do que seria expectável. Aliás, de acordo com o documento, "os meses de março e abril são, normalmente, meses com mortalidade mais baixa do que os meses anteriores". Um dado que vem reforçar a diferença registada. Nomeadamente a partir do dia 24 de março, o número de óbitos "ultrapassa mesmo o limiar definido para EM [Excesso de Mortalidade], o valor médio de óbitos esperados, mais dois DP [Desvio-Padrão]".

A mortalidade afetou "de forma desproporcionada" os cidadãos com mais de 75 anos, com 1030 mortes acima daquilo que seria esperado. De acordo com os especialistas que assinam este estudo, "a alteração do padrão de acompanhamento e da resposta" a esta faixa etária - considerado um "grupo populacional mais vulnerável e com doença crónica" - "é apontada como como causa possível para este excesso de mortalidade não relacionada com a covid-19".

Considerando os óbitos por causa natural, o excesso foi de 1281, um número superior ao "limite da média de óbitos dos últimos seis anos". Nestes dados estão integrados as mortes cuja causa é a covid-19. O estudo da Escola Nacional de Saúde Pública lembra que "muitas pessoas que morrem com infeção por covid-19 têm outras doenças e os respetivos óbitos podem ser, em países diferentes, classificados como causadas pela infeção ou por outra das comorbilidades".

Número de óbitos por causas externas inferior ao esperado

Em contracorrente face aos dados generalistas registados durante o período em análise, surge o número de mortes por causas externas - como, por exemplo, acidentes de aviação. Os óbitos integrados nesta tipologia conheceram uma redução, atingindo um número "muito inferior" ao esperado. De acordo com o Barómetro Covid-19, a redução "deve ser resultado das severas limitações à mobilidade viária impostas pelas autoridades".

Segundo a equipa envolvida no estudo, o desenvolvimento das estatísticas é, aliás, a prova de que as medidas de contingências aplicadas a nível nacional (e internacional) surtiram os seus efeitos. Se o início de março ocorreu em sentido ascendente, na segunda semana de abril já foi possível registar "uma redução sustentada do número de óbitos por covid-19 e o excesso de mortalidade quase desaparece". "Provavelmente já devido às medidas tomadas em meados de março", lê-se no documento.

Uma análise transversal a vários países, de acordo com os especialistas. Ainda que houvesse "quem defendesse que as estatísticas de mortalidade eram exageradas", "a análise global da EuroMOMO ["European monitoring of excessive mortality for public health action"] mostra claramente que o número de óbitos causados pela covid-19 já foi ultrapassado em vários países como Espanha e Itália, e que esses valores teriam sido muito maiores caso nenhuma medida tivesse sido tomada".

Portugal mantém os números de infeção e de mortes estáveis desde o arranque da pandemia em solo português, o que já leva os governantes a considerar a abertura de determinados serviços no próximo mês, como é o caso das escolas. Esta segunda-feira, pela primeira vez, o número de curados (917) ultrapassou o das mortes (762).

O Presidente da República decretou na semana passada a renovação do estado de emergência até 2 de maio - o terceiro -, admitindo esperar que seja a última vez que o faz. "Se abril correr bem, em maio portugueses vão conviver socialmente com a realidade do vírus", disse.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt