Monstros Fantásticos - Os Segredos de Dumbledore. "Quisemos fazer um filme que desse prazer"
Quanto menos se contar melhor. É esse o estado de espírito que preside à conferência de imprensa virtual de Monstros Fantásticos - Os Segredos de Dumbledore, de David Yates, o terceiro filme do franchise de J.K. Rowling que conta os acontecimentos passados do universo Harry Potter. Em Londres, está o realizador e o seu numeroso elenco, encabeçado por Eddie Redmayne, Ezra Miller, Jude Law, Alison Sudol e, desta vez, Madds Mikkelsen no lugar de Johnny Depp, entretanto cancelado pela Warner.
O filme, mesmo sem se desviar do tom inofensivo dos dois anteriores, pode-se dizer que é um upgrade. Parece que se corrigiram alguns excessos da dependência com os efeitos visuais e a interação entre muggles e feiticeiros está mais orgânica. Sobra até um requinte estilístico que lembra o melhor que Harry Potter tinha e nesta nova história consegue-se inteligentemente falar de populismos e de corrupção política.
No Wizarding World vamos conhecer os segredos do passado de Dumbledore, o famoso professor de Hogwarts, desta feita em guerra aberta contra Grindelwald, feiticeiro que passou para o lado das trevas e que deseja ser coroado como o chefe dos feiticeiros e assim poder começar a sua campanha contra o mundo dos humanos. Com a ajuda de Newt Scamander, Dumbledore forma um pequeno exército para combater o inimigo. Um exército que recorre a um simpático humano, o pasteleiro nova-iorquino Jacob, ainda a recuperar de um coração quebrado da história anterior. Em resumo, uma intriga que apenas fará sentido a quem conhece este universo Rowling. A sorte é que em Portugal foram muitos milhares aqueles que viram os dois filmes precedentes e há expectativa para estarmos na presença de um blockbuster.
"Em vez de ter de gerir o peso das brilhantes interpretações de Richard Harris e Michael Gambon como Dumbledore, David Yates deu-me a felicidade de poder compor um homem diferente, alguém ainda à procura de um caminho e a confrontar os seus demónios. Neste filme em particular está a enfrentar o seu passado e a sua própria culpa. Quando me convidaram para o papel claro que nem hesitei! De forma subconsciente, senti que me estava a preparar para ser Dumbledore a partir do momento em que lia os livros de Harry Potter aos meus filhos", começa por referir Jude Law, nem de propósito com a mesma barba longa que aparece no filme. Law está em excelente plano numa obra que desta vez parece consagrar um outro peso ao trabalho dos atores. Um dos segredos do título interliga o passado de Dumbledore com o seu arqui-inimigo Gellert Grindelwald, interpretado pelo dinamarquês Madds Mikkelsen, bem mais subtil do que Johhny Depp na mesma "pasta": "Por ele estar tão ligado ao Dumbledore acabei por ter muitas conversas com o Jude Law. Para mim, o ponto decisivo para compreender a personagem foi tentar perceber qual a sua missão. Ambos chegaram a ter a mesma visão quando eram mais novos mas pelo caminho a coisa foi ficando mais pesada..."
Para David Yates, o realizador, vir do segundo para o terceiro filme era algo que tinha os seus desafios, sobretudo porque a segunda história tinha um enredo muito complicado: "Foi difícil gerir tudo aquilo, mas nesta história agora o nosso objetivo era que fosse emocional. Quisemos fazer um filme que desse prazer, que fosse um presente para os fãs e que evocasse algo dos filmes de Harry Potter, ou seja, charme e magia, bem como humanismo e humor! No outro dia, mostrámos o filme para uns miúdos e um deles veio-me dizer que achou esta história muito humana - fiquei feliz, mesmo com todo este aparato de efeitos e ação esta criança salientou a vertente humana...".
Yates, convém lembrar, realizou os últimos 4 Harry Potters, uma espécie de voz da dona, neste caso J.K. Rowling, mais uma vez ligada ao filme como argumentista e produtora, ou seja, controlo total! A multimilionária escritora não está na sala mas é Yates que descreve o filme: "Este novo Fantastic Beasts é sobre a família, a família que escolhemos e não aquela da qual nascemos. É ainda sobre o ato de fazermos a coisa certa, amor e sacrifício. Para Dumbledore é sobre escolher o amor que tinha e que ainda talvez tenha e a importância de fazer aquilo que é mais certo... De alguma forma, é um filme sobre as nossas escolhas!".
Inofensivo e sem grandes rasgos, Monstros Fantásticos - Os Segredos de Dumbledore é isso mesmo, uma celebração para os fãs deste universo de bruxas e feiticeiros. A sua mais-valia é que agora sim, finalmente, as personagens começam a ganhar uma empatia evidente. Os heróis estão mais simpáticos sem serem superficiais e a vilanagem ganha um requinte que lembra os melhores momentos de Ralph Fiennes como "aquele que não podemos mencionar". E isto não é um "spoiler alert".
dnot@dn.pt