O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, defendeu ontem que "ninguém sairá vencedor desta guerra" entre a Rússia e a Ucrânia, reiterando que o seu país é pela "paz" e apelando ao cessar-fogo e ao diálogo para pôr fim ao conflito. A declaração foi feita na Alemanha, ao lado do chanceler Olaf Scholz, no primeiro dia de uma visita que o levará à Dinamarca e a França..Uma visita que surge na procura de reforçar a sua cooperação com os países europeus e a própria União Europeia, mas durante a qual será confrontado com a neutralidade indiana diante do conflito. Nova Deli não só não condenou a invasão, abstendo-se na votação sobre o tema nas Nações Unidas, como aproveitou os descontos russos para aumentar as importações..Antes da visita, Modi admitiu que esta viagem surge "numa altura em que a região enfrenta muitos desafios e escolhas" e disse querer "reforçar o espírito de cooperação" com os parceiros europeus, que apelidou de "companheiros importantes na procura da Índia por paz e prosperidade". A maior democracia do mundo tem sido pressionada pelo Ocidente para condenar a invasão da Ucrânia, mas não o tem feito face aos laços estreitos que a unem à Rússia..Desde o estabelecimento de laços entre Moscovo e Nova Deli, após a independência da Índia em 1947, que os dois países têm uma aliança forte. Os soviéticos apoiaram, em 1961, a posição indiana, criticada pelo Ocidente, de enviar militares para pôr fim à soberania portuguesa em Goa, tendo também estado do lado da Índia em relação a Caxemira (vetando no Conselho de Segurança resoluções que defendiam uma intervenção internacional na região disputada com o Paquistão). Nova Deli respondeu ao apoio abstendo-se de condenar a União Soviética após a invasão do Afeganistão, em 1979, ou, já em 2014, da Crimeia. Após a invasão da Ucrânia, a Índia também optou pela abstenção..Para os indianos, a aliança tem garantido o apoio de uma superpotência na ONU, enquanto para Moscovo tem sido uma forma de contrabalançar o poder na região dos EUA e da China (com quem a Índia tem vários conflitos fronteiriços). Mas não tem sido só apoio diplomático, passa também por uma forte relação económica, cultural e militar, de que Nova Deli quer continuar a gozar - apesar de ter vindo a reforçar os laços com o Ocidente.."Os recentes incidentes geopolíticos mostraram-nos que a paz no mundo e a estabilidade estão num ponto crítico e que todos os países estão interligados", disse Modi na declaração após o encontro com Scholz, na qual os jornalistas não tiveram direito a fazer perguntas (alegadamente por insistência do primeiro-ministro indiano). Modi indicou que, além do impacto humanitário sobre os ucranianos, a pressão sobre os preços do petróleo e o fornecimento global de alimentos causados pela guerra estão a tornar-se "num fardo para todas as famílias do mundo". A Índia aumentou as importações de petróleo russo, mas tem rejeitado qualquer crítica, lembrando que a União Europeia importa muito mais energia da Rússia..Por seu lado, Scholz disse que ambos concordam que a "inviolabilidade das fronteiras" e "soberania das nações" não devem ser questionadas. "Discutimos minuciosamente o facto de querermos alcançar um futuro melhor, não travando guerras uns contra os outros, mas tornando possível o desenvolvimento económico em conjunto", indicou, voltando, contudo, a pedir à Rússia para que se retire da Ucrânia..susana.f.salvador@dn.pt