As farmacêuticas estão todas a procurar urgentemente um medicamento para tratar a covid-19, essencial enquanto não existir uma vacina, mas a terapia mais eficaz pode acabar por não se resumir a um único medicamento. Em vez disso, dizem especialistas médicos citados pelo jornal Boston Globe, a maneira mais eficaz de combater a doença será provavelmente uma combinação de medicamentos tomados em conjunto..Estas conclusões acentuaram-se depois de há duas semanas o governo americano ter permitido que doentes hospitalizados com coronavírus recebessem um medicamento experimental que forneceu apenas benefícios considerados modestos. Os cientistas apontam que o melhor tratamento será um cocktail de medicamentos, semelhante aos usados para outras doenças infecciosas mortais, da tuberculose à Sida..A necessidade de desenvolver drogas que possam diminuir drasticamente os sintomas da covid-19 é vista como essencial já que uma vacina que poderá prevenir a doença só deve existir daqui a um ano ou mais..Barry Bloom, professor da Escola de Saúde Pública TH Chan de Harvard, disse estar otimista de que um ou mais medicamentos melhores que o remdesivir - o medicamento experimental da Gilead Sciences autorizado para uso de emergência este mês - estarão disponíveis até ao final do ano. Mas o investigador espera que o padrão de tratamento provavelmente evolua e, em última análise, dependa de uma combinação de medicamentos que devem passar por testes em ensaios clínicos.."Não é preciso apenas um medicamento", disse Bloom, pioneiro na saúde global que dedicou grande parte da sua carreira ao tratamento da tuberculose. "O que aprendemos com o HIV é que nenhum medicamento funciona muito bem. Mas se juntarmos três medicamentos que são muito bons, isso poderá controlar o vírus por toda a vida.".Bloom e outros especialistas suspeitam que, ao invés das pessoas com HIV, os pacientes com covid-19 precisariam apenas de tratamento de curto prazo com uma combinação de medicamentos e recuperariam mais rapidamente se os recebessem logo após o surgimento dos sintomas..Um estudo publicado na última sexta-feira na Lancet, a conceituada revista médica, reforça esta ideia. No trabalho, aponta-se que pacientes com covid-19 leve a moderado em seis hospitais públicos de Hong Kong e na Universidade de Hong Kong pareciam melhorar mais rapidamente quando tratados com uma combinação de três drogas, em comparação com um grupo que recebeu um tratamento com duas drogas. A combinação tripla apresentava três medicamentos antivirais: um usado para o HIV, outro para a hepatite C e um terceiro para esclerose múltipla..O site ClinicalTrials.gov lista mais de 1.400 ensaios clínicos relacionados com a covid-19 planeados ou iniciados em todo o mundo. Vários envolvem combinações de medicamentos aprovados e experimentais, incluindo o remdesivir..O Massachusetts General Hospital, que participou do teste global de 1.063 pacientes com o novo coronavírus que levou ao uso de emergência de remdesivir, planeia participar num estudo de acompanhamento que combina este medicamento antiviral com outro medicamento. Este segundo medicamento é vendido sob o nome de marca Olumiant por Eli Lilly e é usado para tratar a artrite reumatoide..Libby Hohmann, investigadora principal do tratamento com remdesivir no Mass. General Hospital, afirma que a droga da Gilead "teve um efeito estatisticamente significativo, mas, como muitas pessoas dizem, não é uma receita mágica". É por isso que faz sentido tentar combinar com outra coisa, disse ao The Boston Globe..Os doentes que receberam remdesivir tiveram uma recuperação 31% mais rápida do que aqueles que receberam placebo, de acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, que realizou o teste em 68 locais de todo o mundo. O tempo médio de recuperação foi de 11 dias para pacientes que receberam remdesivir em comparação com 15 dias dos que foram tratados com placebo..A maioria dos investigadores prevê que será necessária uma vacina para acabar com a pandemia e não espera que seja aprovada e implantada antes de 12 a 18 meses, no cenário mais otimista. Como resultado, cientistas de todo o mundo estudam mais de 200 tratamentos experimentais para ajudar doentes a recuperarem, de acordo com o Milken Institute, um think tank de Santa Monica, Califórnia.