Marta Temido "vivia numa realidade diferente quando dizia que não havia falta de médicos"

Marta Temido apresentou a demissão do cargo de ministra da Saúde e António Costa aceitou. A decisão "tem naturalmente a ver com as circunstâncias que ultimamente temos vindo a assistir", reage o Sindicato Independente dos Médicos, referindo-se à crise nas urgências, em especial de Obstetrícia ginecologia.
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Por entender que "deixou de ter condições", Marta Temido apresentou a demissão do cargo de ministra da Saúde e o primeiro-ministro, António Costa, aceitou. A decisão "tem naturalmente a ver com as circunstâncias que ultimamente temos vindo a assistir e que mostravam que a ministra da Saúde vivia numa realidade diferente quando dizia que não havia falta de médicos", reagiu, esta terça-feira, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Jorge Paulo Roque da Cunha lembrou, em declarações à CNN Portugal, que "até a Direção-geral de Saúde (DGS) fez um alerta sobre a falta de recursos humanos". Um alerta que "veio tornar evidente o que toda a gente sabe e está a ver: há 1,5 milhões de pessoas sem médico de família, as listas de espera para cirurgia e consultas aumentaram, as dívidas aos fornecedores cresceram e não são dadas condições aos médicos", resumiu.

A demissão surge, aliás, na sequência do que "temos vindo assistir", diz o presidente deste sindicato. Nomeadamente com a crise nas urgências hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobretudo na especialidade de ginecologia-obstetrícia, que tem marcado este verão.

"Este fim de semana, por exemplo, havia várias maternidade e serviços de obstetrícia em contingência que não recebiam grávidas, como o Santa Maria, a Maternidade Alfredo da Costa, [os hospitais de] Setúbal, Almada e Beatriz Ângelo", sublinhou Roque da Cunha.

Para o presidente do SIM, Marta Temido não estava a conseguir manter os médicos nem a conquistar novos. "Das cerca de 1400 vagas que foram abertas, 50% ficaram por preencher", exemplificou.

"Na última legislatura, a ministra nunca nos recebeu sequer", recordou Roque da Cunha, que considerou ainda que a ministra "nunca conseguiu impor-se ao ministro das Finanças".

Marta Temido apresentou a demissão esta madrugada por entender que "deixou de ter condições" para exercer o cargo" de ministra da Saúde, uma demissão que foi aceite pelo primeiro-ministro, António Costa.

"A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou hoje a sua demissão ao primeiro-ministro por entender que deixou de ter condições para se manter no cargo", lê-se na nota enviada pelo ministério às redações na madrugada desta segunda-feira.

Pouco depois, o comunicado do gabinete do primeiro-ministro informou que António Costa "respeita a sua decisão e aceita o pedido, que já comunicou ao senhor Presidente da República".

Costa agradeceu "todo o trabalho desenvolvido" por Marta Temido, "muito em especial no período excecional do combate à pandemia da covid-19".

"O Governo prosseguirá as reformas em curso tendo em vista fortalecer o SNS e a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos portugueses", diz ainda o gabinete do primeiro-ministro.

A demissão de Marta Temido acontece em plena crise nas urgências hospitalares do SNS, sobretudo na especialidade de ginecologia-obstetrícia, e pela forte contestação dos médicos.

A decisão de Temido surge depois de, na segunda-feira, ter sido noticiada morte de uma grávida que foi transferida por haver falta de vagas na neonatologia do Hospital de Santa Maria.

A mulher grávida morreu na passada terça-feira após sofrer uma paragem cardiorrespiratória, enquanto era transferida do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte-Hospital de Santa Maria (CHULN) para o Hospital São Francisco Xavier, por ausência de vagas no serviço de neonatologia.

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