As forças de segurança estão preocupadas e preparam um aparatoso dispositivo, de 20 mil policiais, para a manifestação marcada para sexta-feira, em todo o país, sob o lema "Vamos parar Portugal". No governo, a apreensão com este movimento inorgânico de protesto, se existe, não é assumida de viva voz. O ministro da Administração Interna manifestou-se confiante na "boa tradição portuguesa" de respeitar a ordem. O Presidente da República também. E é essa também a expectativa do PS, PSD e CDS. Só os partidos à esquerda mantiveram o silêncio.."A situação de Portugal é diferente da situação em França." Com este diagnóstico, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a convicção de que em Portugal, onde se fez uma revolução de cravos e não uma sangrenta como a francesa, o protesto de sexta-feira será pacífico. A organização do evento, que tenta imitar o movimento dos coletes amarelos em França e que provocou um rasto de destruição em Paris, está a ser convocada pelas redes sociais e em vários sites.."Esta é uma tentativa muito difusa e líquida de importar a estética e a metodologia do movimento de protesto em França, mas a realidade económica, social e política no nosso país é muito diferente", assegura o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro. Entende, por isso, que "não haverá condições de sucesso". Ou seja, de uma grande mobilização..O deputado do PS afirma que, pelo que tem visto nas redes sociais, "não há um caderno coerente de reivindicações", mas admite que "é legítimo e livre o protesto, desde que dentro das regras estabilizadas". Tiago Barbosa Ribeiro assume, apesar disso, que lhe faz "confusão" que haja um movimento de protesto sem rosto e que tenta "instigar os típicos protestos das caixas de comentários para a vida material". Não vê, diz, que na sociedade exista este nível de insatisfação..Tiago Barbosa Ribeiro relembra, por exemplo, que em 2012, quando houve milhares de pessoas a protestar na rua, havia um mote contra as mexidas na taxa social única (TSU). Um protesto que acabou por ter o apoio dos sindicatos e até dos partidos que se opunham ao governo de então de Passos Coelho e Paulo Portas. "Nada disso acontece agora", insiste..O deputado socialista diz compreender que as forças de segurança estejam preocupadas. "Admito que o movimento tão difuso e que pretende abranger todo o território se torne difícil de antecipar", diz. E reconhece o perigo da infiltração de movimentos da extrema-direita nos protestos. "O que dá forma a estes protestos são razões mais populistas, associadas tipicamente a movimentos antissistema. Aparentemente a manifestação está a ser instigada pelos sites de fake news, associados ao extremismo de direita.".Tiago Barbosa Ribeiro admite que muitos dos que venham a participar na manifestação nada tenham que ver com os extremismos. "Admito até que não hajam duas pessoas com a mesma reivindicação no protesto.".À esquerda, os partidos que apoiam o governo no Parlamento, PCP e BE, mantiveram o silêncio total sobre o protesto que se avizinha..Sindicatos falharam, diz CDS.O PSD adotou uma posição mais defensiva sobre o que poderá acontecer na sexta-feira, dado precisamente o facto de se tratar de um protesto inorgânico, sem as tradicionais lideranças das centrais sindicais, que se demarcaram da iniciativa..O líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, disse ao DN estar a acompanhar "com atenção a situação e a aguardar na expectativa que as manifestações decorram no estrito cumprimento da lei"..A mesma esperança é expressa pelo presidente do grupo parlamentar do CDS e antigo secretário de Estado da Administração Interna Nuno Magalhães, que admite que "este tipo de manifestações inorgânicas, com algumas caras mas sem liderança, são mais difíceis para as forças de segurança. "Que têm de garantir o direito à circulação dos demais portugueses e a própria segurança dos manifestantes.".Nuno Magalhães sublinha, tal como o Presidente da República, que "os portugueses não são um povo violento", independentemente "de perceber muitas das preocupações dos manifestantes, que correspondem ao país que o CDS tem visitado e denunciado e não o país que António Costa tem promovido"..O líder da bancada centrista destaca três das reivindicações que têm sido feitas pelos promotores do protesto: baixa de impostos, fim da taxa sobre os combustíveis e a resolução dos problemas da Saúde. "Esta tem sido grande parte da agenda e ação política do CDS", afirma Nuno Magalhães, que percebe o desconforto com "um país que não é o de António Costa"..Nuno Magalhães atribui parte do surgimento deste tipo de protestos no país ao facto de "alguns sindicatos deixarem de representar, por interesse político, algumas classes profissionais e até alguns portugueses", o que abriu espaço aos fenómenos inorgânicos de representação através das redes sociais.