"Depende dos portugueses evolução do surto". Estado emergência acaba a 2 de maio
O Presidente da República põe agora na mãos dos portugueses a evolução do contágio do covid-19, quando se aproxima a data em que terminará o estado de emergência (à meia-noite de 2 de maio) e começará o estado de calamidade púbica.
Após mais uma reunião com epidemiologistas no Infarmed - onde como habitualmente também participaram o primeiro-ministro e líderes partidários - Marcelo Rebelo de Sousa disse que agora "depende dos portugueses a evolução do surto", confirmando que não tenciona renovar o estado de emergência (que se iniciou em 19 de março).
"O fim do estado de emergência não é o fim do surto" nem o "fim do esforço" dos portugueses para se protegerem e protegerem os outros, salientou o chefe do Estado. "Não há facilitismo", insistiu.
Assim, assegurou, a evolução futura será alvo de permanente avaliação ("chave do sucesso" no combate à pandemia), com a reabertura da economia em "pequenos passos".
Porém está em cima a hipótese de o estado de emergência voltar a ser decretado, por exemplo no inverno deste ano (o PR falou mesmo em "final do ano, princípio do próximo").
Segundo acrescentou, a decisão aliás de não prolongar mais o estado de emergência ocorre porque prolongá-lo "meses a fio" convidaria ao "desrespeito" e tornaria impossível a sua reedição.
A seguir ao Presidente falaram os representantes partidários que estiveram na reunião.
Ricardo Batista Leite, deputado do PSD, salientou que do que ouviu dos especialistas médicos na reunião concluiu que "o surto não está controlado" e até corrigiu o PR na parte em que este disse que o índice "R" (quantas pessoas são infetadas por um infetado) era abaixo de 1 no norte.
"Foi aqui apresentado um conjunto de dados que temos de tomar em consideração: o 'R', que é o número que indica as pessoas que são infetadas a partir de cada pessoa que é infetada, continua acima de 1. Vimos isso na região de Lisboa, como foi anunciado que é 1.18, e corrijo o que foi dito anteriormente [pelo PR] também é acima de 1 no Norte, onde foi apresentado como 1.01"
O surto será considerado controlado quando o valor baixar até 0,7. Segundo o PR, esse valor subiu na região de Lisboa e Vale do Tejo por causa do "hostel" da capital onde foram detetados dezenas de imigrantes infetados.
Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, pegou no mesmo ponto.
"Estamos no mesmo ponto epidemiológico do que estávamos há 15 dias, quando foi decidido que deveríamos renovar o estado de emergência."
Para o PAN, deve-se acautelar a situação económica mas "a saúde deve ser prioritária".
Já o representante do PCP, Jorge Pires, preferiu salientou que na reunião ouviu informações confirmando a tese do partido de que "não estamos todos no mesmo barco".
"Uma maior ou menor incidência da doença depende de facto das diferenças sociais" - ou seja, quem tem mais condições económicas sobrevive melhor, exigindo-se portanto ao Governo que conduza as suas políticas de acordo com esta realidade.
O PCP - que nunca votou a favor do estado de emergência (abstendo-se ou votando contra) - concorda, segundo acrescentou, com "a necessidade de começar a desconfinar".
O Bloco de Esquerda, pelo seu lado, enfatizou, através de Catarina Martins, a necessidade de "ser produzida mais legislação de proteção social" porque a que estava em vigor encontrava-se "indexada ao prazo do Estado de Emergência".
No lado oposto do espetro parlamentar, Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, manteve a tónica na importância do reforço à economia, o que deverá "passar pela injeção de liquidez no mercado e fazer um choque de tesouraria nas empresas", nomeadamente com o Estado a pagar o que deve aos seus fornecedores.
A pandemia de covid-19 atingiu 193 países e territórios, registando-se mais de 211 mil mortos e mais de três milhões de pessoas infetadas a nível global, segundo a agência de notícias AFP.
Em Portugal, morreram 948 pessoas num total de 24.322 confirmadas como infetadas, e 1.389 recuperaram da doença, de acordo com o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde.