Qual é a mensagem da Igreja Católica para 2021? A mensagem é muito diversa, mas no essencial é uma mensagem de esperança, de confiança perante esta situação gravíssima que estamos a passar, mas devemos manter esta esperança, esta confiança de que as coisas vão mudar com o esforço de todos, e ao mesmo tempo que há esta confiança e esperança. Tem de ser uma mensagem de mantermos todos os cuidados, todas as cautelas sanitárias, para que o ano decorra bem, no sentido de ultrapassarmos esta situação de pandemia. No fundo, é esta a mensagem, porque diante desta crise, como dizia o Papa Francisco num livro publicado recentemente, vamos sair diferentes. Podemos sair piores ou melhores desta pandemia, mas já não somos a mesma coisa, somos diferentes porque passámos por isto e devemos levar isto com toda a confiança, com toda a esperança e com um sentido forte de solidariedade, sermos solidários uns com os outros, de nos ajudarmos, de cuidarmos de nós mesmos e uns dos outros. E oxalá que a pandemia passe depressa, também com a ajuda da vacina, que deve ser para todos, sem exceção..Como têm chegado às pessoas nestes tempos de confinamento? No primeiro confinamento, de março até final de maio, as igrejas podiam estar abertas, mas não tivemos celebrações com chamadas públicas, comunitárias. E nesse período houve um incentivo muito grande, com toda a criatividade, e qualidade também, das transmissões por via digital. Não é a mesma coisa, porque a celebração da eucaristia, da missa, naturalmente, é presencial. Só faz sentido como assembleia congregada por Deus, em Jesus Cristo, no seu espírito, portanto, é uma assembleia presencial. Unimo-nos espiritualmente através desta forma. Depois veio essa fase em que retomaram em finais de maio as celebrações, com todos os cuidados. As igrejas prepararam-se bem, com as distâncias, com os cuidados higiénicos, com tudo isso que nós sabemos, para cuidar daqueles que iam participar fisicamente nas celebrações, e, que se saiba a nível da Igreja Católica, não houve nesse período, não tem havido, situações de contágio. Houve sempre esse cuidado para evitar a pandemia..Como é que se consegue manter os fiéis nestes tempos de pandemia? A situação é muito difícil, não é? Eu penso que, no geral, isso não leva a uma descrença, só se as pessoas já não acreditassem antes. Claro que a quantidade de presenças naturalmente no retomar não era a mesma, em quantidade de participantes, até porque há mais espaços nas igrejas, a tal distância de dois metros, todas essas normas... Mas, ao mesmo tempo, há uma proximidade muito grande nas paróquias, nas comunidades, párocos, leigos, enfim, há uma proximidade, sobretudo jovens. Os jovens têm tido um papel fundamental neste processo de ajudar, tentando que nas comunidades, nas paróquias, mesmo não podendo vir à celebração, haja um cuidado por aqueles que estão mais sós, sobretudo aqueles mais idosos. Tem havido muito esse cuidado de manter a fé viva, mas com todo este sentido de humanidade, de proximidade, que devemos ter pelas pessoas..Que desafios a pandemia vos lançou enquanto Igreja? É preciso sempre reinventar, é preciso recriar. A própria Conferência Episcopal emitiu duas reflexões, uma em junho passado, sobre os desafios, um bocadinho uma análise da sociedade que os bispos fizeram. E recentemente, a 1 de janeiro, publicou um documento sobre os desafios pastorais para a Igreja. Naturalmente que o desafio fundamental é sempre o de reconstruir a comunidade, que seja uma comunidade viva, uma comunidade à volta da pessoa de Jesus Cristo, em quem nós acreditamos - é o centro da nossa fé. É todo um processo de tentar que a comunidade não se perca, mas se reconstrua sempre, se renove sempre à volta de Jesus Cristo, com tudo o que está na sua envolvência. Há também o desafio da formação, da catequese, que tem sido por via digital. Mas uma catequese estando as crianças presentes, ou os adolescentes, na sua formação, na sua reflexão, é muito diferente do que estar na via digital. É como na escola... Há o desafio de cuidar mais, como já o tínhamos feito, de quem tem mais idade, mais dificuldade. É sobretudo o desafio de que ninguém fique de fora da sociedade e da própria Igreja..Como se transmite esperança em tempos como este? Tem de ser com a proximidade. Nem sempre pode ser física, mas com todo o cuidado também pode acontecer. Que ninguém fique só, no sentido de ter um contacto, que pode ser por telefone ou por outro tipo de presença. Como eu dizia, os jovens têm feito, e continuam a fazer, um trabalho não só no âmbito dos espaços de celebração da Igreja, mas também nessas tarefas de levar os cuidados às pessoas, sobretudo em refeições, em cuidar da alimentação. Essas necessidades têm aumentado e as paróquias, os centros paroquiais, a Cáritas também, têm feito um trabalho extraordinário de também serem solidários, mas de maneira efetiva, junto das pessoas..O número de pedidos de ajuda tem aumentado desde o início do mês? E que género de pedidos têm recebido? No caso de instituições de solidariedade social, da própria Cáritas, são instituições que estão mais avalizadas para dar uma resposta a nível estatístico. Mas sei que tem havido um aumento exponencial desse tipo de pedidos e a resposta, claro, é uma resposta pontual, porque as pessoas têm necessidades neste momento, não podemos esperar para tomarmos decisões daqui a uns meses, tem de ser agora. E tem havido pela parte das dioceses, repito, das paróquias, das instituições, esse apoio, principalmente a nível da alimentação, a nível das despesas das pessoas, às vezes até o pagamento dos medicamentos, até com outras despesas que têm a ver o dia-a-dia, que as pessoas necessitam e não têm meios de pagar e levar isso em frente..Como será a relação com os fiéis num mundo pós-covid? As coisas vão voltar a ser o que eram? As previsões são sempre difíceis de fazer, mas acreditamos, com toda a confiança, que quando isto passar, e oxalá que seja o mais breve possível, iremos retomar naturalmente com a presença física as celebrações, os encontros de reflexão, a nível espiritual, a nível humano, a nível social; refiro-me aos espaços eclesiásticos, penso que vamos voltar. Mas vai ser um desafio também grande, porque pode haver uma habituação grande a estes meios e as pessoas podem pensar "pronto, estamos bem assim". Não, o retomar, como eu dizia logo no princípio, da presença física nas próprias celebrações só faz sentido pleno assim, porque é a assembleia que se reúne, por exemplo, na eucaristia, à volta da palavra e do pão consagrado, à volta de Jesus Cristo, que é essa presença viva. Acredito, porque é a fé que nos leva a isso, que vamos ultrapassar isso e vamos voltar..dnot@dn.pt