Entre o mainstream mais previsível e a surpresa mais desconcertante. Assim são as preferências cinéfilas dos portugueses no streaming e nos clubes de vídeo das operadoras. Numa ronda pelo Netflix, Filmin e clubes de vídeo consegue-se perceber que há uma diversidade de públicos e dos quais se extrai um ecletismo capaz de definir algumas tendências de gosto. Um gosto que pode ir desde a comédia pós-moderna ao cinema de Hollywood mais sofisticado..Na Filmin, plataforma que em Portugal tem gestão da Il Sorpasso, a associação que organiza a Festa do Cinema Italiano, há notícias surpreendentes: O Filme do Bruno Aleixo, de Pedro Santo e João Moreira, foi dos mais vistos nestes dias. Sinal de que a comédia e o cinema português ainda atraem quem segue as novidades. Os subscritores desta plataforma que cresce cada vez mais foram atraídos pelo humor próprio de Bruno Aleixo, personagem lançada na net e depois da SIC Radical..O Filme do Bruno Aleixo já tinha funcionado bastante bem nas bilheteiras quando foi lançado, no ano passado antes da pandemia, tendo inclusive marcado presença num festival internacional como a Mostra de São Paulo. Uma comédia cujo gancho humorístico é colocar atores como Gonçalo Waddington, Rogério Samora ou Adriano Luz numa trama que mistura géneros como o cinema de terror e o thriller. Esta preferência dos subscritores da Filmin mostra sobretudo a força de uma personagem que brinca bem com a "chico-espertice" lusitana..Curiosamente, segundo a Filmin, outro dos mais vistos foi Berlin Alexanderplatz, de Burhani Qurbani, filme alemão que chegou à plataforma graças à programação do Kino, a "festa do cinema de expressão de alemão". Esta preferência talvez se explique pelo facto do filme ser um inédito e pela presença do luso-guineense Welket Bungé. Berlin Alexanderplatz é uma adaptação moderna do famoso romance de Alfred Doblin e esteve na competição do último festival de Berlim..Na Netflix, o top é comandado pela série Lupin, mas o filme mais escolhido pelos portugueses é a novidade Abaixo de Zero, de Lluís Quilez, thriller espanhol bem esgalhado, logo seguido de A Grande Escavação, de Simon Stone, evocação de um achado arqueológico na Inglaterra das vésperas da Segunda Guerra Mundial, e Tigre Branco, de Ramin Bahrani, conto de miséria humana na Índia contemporânea..Não deixa de ser curioso uma obra sem estrelas de Hollywood e parcialmente falada em hindu estar tão bem posicionada no top diário da Netflix, que a produziu. O filme é um competente drama social realizado com uma ironia cortante e um humor negro afiado. Zona de Perigo, do sueco Mikael Håfström, filme de guerra com laivos de sci-fi e no qual se encontra a estrela da Marvel Antonhy Mackie, também foi um dos campeões de janeiro. Uma história que nos transporta até 2036, quando os EUA jogam importante papel numa guerra no Leste Europeu e na qual os protagonistas são humanoides e drones. Trata-se de um espetáculo ruidoso e meramente bélico, um exemplo de mau entretenimento..No top 10 há umas semanas está o filme juvenil brasileiro Pai em Dobro, de Cris D"Amato, uma comédia, também da Netflix, sobre uma adolescente que tenta descobrir quem é o seu verdadeiro pai..No que toca aos clubes de vídeo das diversas operadoras, entre a NOS e a MEO os resultados não são muito diferentes. Segundo a NOS, há uma aposta do público em obras inéditas. Emma, de Autumn de Wilde, e The Roads not Taken, de Sally Potter, estão entre os mais vistos. O primeiro explica-se pela popularidade da sua estrela, a atriz Anya Taylor-Joy, enquanto o segundo é uma verdadeira surpresa: o novo filme da realizadora de Orlando é uma história sobre realidades paralelas na qual se destaca um elenco com Elle Fanning, Salma Hayek e Javier Bardem..Mas nos mais populares destacam-se Greenland - O Último Refúgio, filme-catástrofe com Gerard Butler, e Tenet, de Christopher Nolan, que foi também mais visto nos cinemas depois da pandemia. Ambos os títulos taco a taco com Listen, de Ana Sousa Rocha, o drama humano rodado em Londres, igualmente no top dos alugueres no MEO Videoclube, prova de que há uma vontade do público em encontrar cinema nacional de qualidade. O mesmo videoclube que tem ainda como mais vistos Greenland e Tenet. A surpresa acaba por ser o aparecimento de um título como A Caçada, de Craig Zobel, exercício de cinema político disfarçado de thriller no qual se encena um grupo de americanos de extrema-direita a caçar seres humanos como divertimento. Uma subversão que chegou a criar celeuma na administração Trump....A par desses títulos, de referir alguns filmes de animação nos tops, mostrando a importância dos filmes de família. Nesse aspeto, na Disney +, mesmo sem tabelas de preferências, é mais do que óbvio que Soul - Uma Aventura com Alma, de Pete Docter e Kemp Powers, esteja no topo de visionamentos para os assinantes desta nova plataforma. Tal como a Disney +, também se desconhece os níveis de popularidade dos filmes de plataformas como a Prime Video ou a Apple TV.