Lobistas da ExxonMobil apanhados a dizer que apoio da empresa a imposto de carbono é um esquema
A gigante petrolífera tem estado debaixo de fogo e esta quarta-feira soube-se que lobistas, que atuam a favor da ExxonMobil, em Washington D.C, foram apanhados a dizer que o apoio da empresa a um imposto sobre o carbono não passa de um esquema, uma mera manobra de relações públicas e não uma verdadeira ação de combate às alterações climáticas.
Já na semana passada, a ExxonMobil, sediada no Texas, viu ser rejeitada em tribunal uma ação que visava impedir um processo judicial no qual a empresa é acusada de enganar consumidores e investidores sobre o seu verdadeiro papel para combater a crise climática.
Um repórter infiltrado do site de jornalismo de investigação ambiental Unearthed, ligado à Greenpeace, filmou dois lobistas seniores, sendo que um deles referiu mesmo que a ExxonMobil financiou "grupos" que trabalharam para deturpar e negar a evidência científica sobre o impacto das alterações climáticas, com o objetivo de espalhar a dúvida e impedir regulamentação ambiental, noticia o The Guardian.
"A ExxonMobil continua a lutar contra as leis de combate às mudanças climáticas nos Estados Unidos, apesar de declarar publicamente que apoia o acordo climático de Paris", denuncia o site Unearthed.
A investigação revela que o lobista Keith McCoy descreveu o novo plano do presidente dos EUA, Joe Biden, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos EUA como "louco" e admitiu que a empresa lutou "agressivamente" contra a ciência climática através de "grupos de sombra" para proteger os seus investimentos.
Uma posição revelada durante uma reunião via Zoom, realizada em maio. "Lutamos agressivamente contra parte da ciência? Sim", admitiu McCoy. "Juntámo-nos a alguns grupos sombra para trabalhar contra alguns dos esforços iniciais? Sim, é verdade. Mas não há nada de ilegal nisso. Estávamos a proteger os nossos investimentos, estávamos a proteger os acionistas", argumentou na altura.
McCoy rejeitou, no entanto, que a empresa petrolífera tenha negado as evidências das suas próprias investigações sobre o aquecimento global causado pelos combustíveis fósseis, mas a ExxonMobil tem estado no centro das atenções ao ser acusada de deturpar a gravidade dos efeitos das alterações climáticas.
Há, aliás, um estudo revelado em 2015 que indica que algumas organizações são financiadas pela petrolífera Exxon Mobil para lançarem a dúvida de que o aquecimento global é real.
O repórter infiltrado do site de informação associado à Greenpeace mostrou ainda que McCoy revelou que o apoio da gigante petrolífera a um imposto sobre o carbono não passa de uma manobra de diversão e que nunca irá entrar em vigor. Uma medida que as associações ambientalistas consideram fundamental no combate às alterações climáticas.
"Ninguém vai propor um imposto para todos os americanos, e o meu lado cínico diz, sim, que sabemos isso - mas dá-nos um ponto de discussão em que podemos dizer, bem, o que defende a ExxonMobil? Nós somos a favor de um imposto sobre o carbono ", disse o lobista.
"O imposto sobre o carbono não vai acontecer", reforçou, mais tarde.
A Greenpeace fez saber que os repórteres do Unearthed fizeram-se passar por consultores de recrutamento que queriam contratar um lobista de Washington para um grande cliente e abordaram McCoy e o ex-lobista da Casa Branca da Exxon, Dan Easley, que deixou a empresa quando Donald Trump deixou de ser o presidente dos EUA.
Perante esta investigação, o presidente da ExxonMobil, Darren Woods, repudiou as declarações obtidas pelos repórteres infiltrados.
"Os comentários feitos pelos indivíduos não representam de forma alguma a posição da empresa numa variedade de questões, incluindo a política climática", fez saber o responsável pela empresa numa resposta escrita ao jornal The Guardian. "Os indivíduos nunca estiveram envolvidos no desenvolvimento das posições políticas da empresa sobre as questões discutidas", afirmou.
"Condenamos as declarações e pedimos desculpas por elas", disse, referindo que a empresa está chocada com estas revelações. A petrolífera garante que mantém o compromisso para encontrar soluções para as mudanças climáticas.
A ExxonMobil pode, no entanto, enfrentar os tribunais por deturpar a gravidade dos impactos das alterações climáticas. A gigante petrolífera norte-americana viu rejeitada, na semana passada, o pedido que visava impedir um processo judicial por fraude climática e corre agora o risco de responder em tribunal pelas suas ações ao longo dos anos.
A empresa pretendia impedir um processo levado a cabo pela procuradora-geral do estado de Massachusetts, Maura Healey, que acusa a empresa de enganar consumidores e investidores sobre o seu verdadeiro papel na questão das alterações climáticas, noticiou a Reuters.
A decisão surgiu depois de um fundo ativista, que defende mudanças para reduzir os impactos da crise climática, ter conseguido assegurar três lugares no conselho de administração da petrolífera.