De 43% em 2015 para 48,8% nas legislativas do próximo dia 6 de outubro. A abstenção poderá disparar nas legislativas que se aproximam apenas por efeito administrativo do crescimento exponencial do número de inscritos nos dois círculos da emigração (Europa e fora da Europa)..Esse aumento do número de inscritos ocorre por causa do recenseamento automático. Todos os emigrantes portugueses registados nos consulados portugueses espalhados pelo mundo passaram a estar automaticamente recenseados, não dependendo isso de um ato voluntário de cada um deles..Os dois círculos continuaram a eleger dois deputados cada um e, nessa medida, o novo modo de recenseamento não mexe nos equilíbrios eleitorais. Mas há todas as condições para mexer nos valores da abstenção - e não é pouco..O círculo da Europa passou de cerca de 78 mil inscritos (em 2015, ano das últimas legislativas) para um número mais de dez vezes superior: 895 mil. Quanto ao círculo de fora da Europa, passou de 164 mil para 570 mil. Contas feitas: o número de emigrantes recenseados passou de cerca de 242 mil para quase um milhão e meio (1,46 milhões). E, de caminho, os dois círculos inverteram posições: o da Europa passou a ser o maior, quando antes era o de fora da Europa..Em 2015, no círculo da Europa a abstenção foi de 82,5%. E no de fora da Europa ascendeu a 91%. Ora mantendo-se agora esses valores percentuais - mas perante um universo total de inscritos muito maior -, tudo aponta para que o número de abstencionistas na emigração ascenda a mais de 1,2 milhões. É esse acréscimo que fará aumentar o peso relativo da abstenção no número total de votantes, passando para os tais quase 49%..O mapa eleitoral deste ano revela um crescimento global no número de inscritos para cerca de 10,8 milhões (eram 9,6 milhões em 2015). Esse crescimento ocorre precisamente por causa da emigração. De resto, aliás, no território nacional (continente + ilhas) o número de inscritos até diminuiu, passando de 9,4 milhões para 9,3 milhões..A diminuição de eleitores atinge em maior grau os círculos da Guarda e de Viseu. O primeiro passa a eleger apenas três deputados (contra quatro em 2015); o segundo, oito (nove há quatro anos). Para manter o número total de eleitos (230), cresceram em representação eleitoral os círculos de Lisboa (de 47 eleitos para 48) e de Braga (de 18 para 19)..O fenómeno do aumento administrativo do número de eleitores registado na emigração já se tinha manifestado nas eleições europeias de maio passado. Com um efeito paradoxal: a percentagem da abstenção foi a mais alta de sempre (69,2%); mas, ao mesmo tempo, o número de pessoas que votaram aumentou face às Europeias de 2014, passando, no total, de 3,2 milhões para 3,3 milhões de outra forma..O problema foi então aquele que poderá verificar de novo nas próximas legislativas: uma participação maior mas também uma abstenção percentual maior por via de um aumento brutal do número de eleitores inscritos (no caso, de 9,7 milhões em 2014 para 10,7 milhões neste ano)..Nas Europeias, o número de eleitores inscritos no estrangeiro aumentou de 244 mil para 1,4 milhões mas o número de votantes apenas de 5,1 mil para 13,8 mil. A abstenção na emigração foi assim de 99%.