Delfina ia fazer 80 anos quando a meio de janeiro de um dos últimos invernos entrou numa urgência de um hospital da região de Lisboa. Sofria de demência, mas estava estável. Um pouco de febre e um fervilhar na auscultação detetados pelo médico do lar em que estava há poucos dias foi o que a levaram até àquela unidade..À partida, seria só por precaução, disseram à família. Era essencial um raio-X para despistar algo mais, mas Delfina acabou por ficar na urgência quase 24 horas. Saiu sem diagnóstico de pneumonia, mas voltou dois dias depois, e o cenário era agora o combate a uma bactéria detetada no organismo, "uma KPC", dizia a médica, que era muito resistente aos antibióticos..A família sabia o que era a KPC (a famosa superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase) e o que fazia a quem a contraía. A partir daquele momento, era a luta pela vida, e tendo já uma demência associada, o desfecho era previsível. Delfina morreu uma semana depois num quarto de pressão negativa numa unidade de um hospital diferente daquele em que tinha contraído a infeção.. José António comemorou os 60 anos numa cama de um dos melhores hospitais ortopédicos também da área da capital. Amante de desporto, deixou agravar uma lesão num joelho, o que o empurrou para uma cirurgia precisamente naquela altura..Esperava sair ao fim de uma semana, sabia que a recuperação seria longa, mas nunca imaginou que uma bactéria se alojasse na zona da sutura da intervenção, o que fez que voltasse por mais duas vezes ao bloco e que ali tivesse de ficar durante dois meses. Ainda hoje, quando pensa em regressar ao hospital, "sinto medo", contou ao DN. "Aprendi que a frase que tantas vezes ouvia: vais ao hospital e sais de lá com uma coisa pior, afinal, era verdade.".Aos 72 anos, Rogério, que sempre foi saudável, teve de fazer uma intervenção colorretal. Não ficou assustado quando o médico lhe falou no procedimento, que deveria ser simples e sem grandes complicações, um a dois dias de internamento e regressava a casa. Assim foi, mas dias depois da intervenção Rogério começou a sentir-se muito mal, regressou ao hospital e, depois de muitos exames, detetaram-lhe uma bactéria que se tinha alojado no coração. Foram dias, semanas de luta pela vida, mas Rogério acabou por falecer..As três histórias ocorreram entre 2015 e 2018 em vários hospitais da área de Lisboa. Foram contadas pelo próprio e por familiares dos doentes. Mas são histórias que ainda se repetem no tempo..O coordenador nacional do Programa de Prevenção e de Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) garante que a situação está melhor e que já não só somos o pior da Europa no controlo deste tipo de infeção..A OCDE estima que em Portugal morram três doentes internados por dia com uma infeção hospitalar. Ao fim de um ano, são mais de mil mortes, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) também garante que poderiam ser evitáveis se as regras de precaução básicas para a prevenção de infeções adquiridas em cuidados de saúde fossem cumpridas..Só a lavagem frequente das mãos poderia reduzir em cerca de 70% este tipo de infeção. O problema não é só nosso, mas do mundo inteiro. "É um dos problemas de saúde pública mais graves a nível mundial", alerta a OMS, que tem solicitado a todos os países que olhem para o problema como "uma prioridade e que reforcem as ações nacionais e locais para sensibilizar a população"..E, neste momento, definiu metas até 2050., O objetivo é a redução do número de mortes por este motivo para cerca de dez milhões por ano. Um número que parece excessivo, mas basta referir que, neste momento, as infeções adquiridas em unidades hospitalares ainda são a quarta maior causa de morte no mundo..A pandemia já está a mostrar ao mundo como o gesto simples da lavagem das mãos está a ser valioso na proteção de cada um, quer seja profissional de saúde, doente, familiar de doentes, visitantes ou tão-só membro de uma comunidade..Ao DN, vários médicos concordam mesmo que este simples gesto "é inigualável na sua relação custos-benefícios e de eficácia nos cuidados de saúde". Os mesmos esperam que as mudanças de comportamento trazidas pela covid-19 "perdurem no tempo" para que a normalidade na vida hospitalar não volte a ser o que era..O coordenador nacional do PPCIRA defende mesmo que "é preciso perceber, independentemente dos programas nacionais e locais das unidades, que só atingiremos mais melhorias se cada um assumir a sua responsabilidade individual e social". Sublinhando: "Ao contrário do que se pensava, a covid-19 também vai perpetuar-se por mais uns tempos e é preciso que a mudança de comportamento registada nesta fase também se perpetue. Tenho esperança de que tal aconteça". Aliás, "a missão dos PPCIRA locais é evitar que haja um relaxamento destas medidas"..A pandemia e as mudanças.O DN falou com os coordenadores dos programas dos centros hospitalares de São João, Lisboa Norte (hospitais de Santa Maria e Pulido Valente) e do Lisboa Central (hospitais São José, Capuchos, Curry Cabral, Santa Marta, Maternidade Alfredo da Costa e D. Estefânia), que admitem haver já algumas mudanças, embora ainda não haja dados concretos.."A perceção que temos é que a melhoria radical na mudança de comportamento dos profissionais, sobretudo na higienização das mãos, está a reduzir o risco deste tipo de infeção nas unidades de saúde.".Mas não só. Os médicos concordam também que as mudanças a nível organizacional e de funcionamento nos hospitais provocadas pelo combate à covid-19 estão a contribuir para uma melhor prevenção das infeções hospitalares..Os coordenadores dos PPCIRA atribuem tais melhorias especificamente à definição de circuitos diferentes para doentes e menos pessoas a circular nas unidades. Situações impostas pela pandemia, mas que já estão a fazer repensar os protocolos de prevenção para que "se afinem procedimentos"..Da desinfeção das mãos ao estetoscópio.A Associação Portuguesa de Infeção Hospitalar (APIH) na resposta ao DN dá um exemplo simples, como o do uso do estetoscópio, que é e sempre foi um potencial veículo de infeção, por contaminação cruzada, mas raramente lembrado como um equipamento que deve ser desinfetado de doente para doente. Só por isto a APIH considera que a covid-19 já se revelou, embora tragicamente, como "uma oportunidade para reforçar os comportamentos de controlo da infeção". Um trabalho que deve levar a mais investimento na formação dos profissionais..O diretor do Serviço de Infecciologia do Hospital São João, no Porto, argumenta também que "a pandemia veio mostrar situações que, por vezes, estavam à frente dos nossos olhos e não as identificávamos como um problema ou como um potencial foco de infeção". .Carlos Lima Alves alerta para o facto de a partir de agora termos de pensar que um equipamento que vai ser usado numa manhã por dez ou 15 doentes, na realização de exames de diagnóstico, tem de ser desinfetado várias vezes. "Antes não se pensava que ao fazer um eletrocardiograma havia elétrodos que estão em contacto com a pele do doente e que deveriam ser desinfetados. O mesmo em relação ao local onde o doente se despe e veste. É um espaço por onde passam muitas pessoas e que à entrada ou à saída de cada um pode ficar infetado.".Uma das situações que a pandemia já está "a fazer que seja repensada no Hospital São João. Aliás, "no meu hospital, os protocolos de prevenção e de controlo de infeção de todos os serviços já estão a ser analisados, alterados e uniformizados"..O médico sublinha que o São João, tal como outras unidades em Portugal, "teve uma melhoria significativa no controlo da infeção hospitalar em diversas áreas, umas com maior sucesso, outras menos. Às vezes, o mais importante é abordar pequenas áreas e depois fazer que os bons exemplos se multipliquem, para se alcançar uma melhoria global em toda a estrutura", explica..Foi assim que o seu hospital começou a trabalhar nesta área para aumentar o controlo da infeção e das resistências, e, hoje, em fase de pandemia, os resultados estão à vista. "Fomos dos hospitais do país que até agora mais doentes infetados tratou, conseguindo evitar focos de infeção secundária na unidade. No início, surgiu um ou outro caso em profissionais, mas o risco de contaminação cruzada foi muito reduzido." .O infecciologista explica que "todos os recursos foram canalizados com a perspetiva de se abordar da melhor forma o tratamento dos doentes internados com covid e tendo em conta também a garantia de proteção e segurança para os profissionais de saúde e doentes que não estavam infetados. O objetivo era evitar a transmissão dentro do hospital. Foi um esforço brutal para todos", mas acredita que conseguiram alcançar as metas definidas..Para Carlos Lima Alves ainda não é possível dizer se, durante os meses de março, abril e maio, houve mais ou menos infeções. "Não há dados concretos e não há forma de se fazer comparações. O que faz sentido, e essa é a perceção que temos, é que conseguimos, dentro do hospital, perante o que foi uma ameaça muito forte de transmissão de uma infeção grave respiratória, dar uma boa resposta.".O que significa também, salienta o médico, que as medidas introduzidas para o controlo da infeção na unidade foram de dimensão elevada. "Foi o que permitiu que o risco de contágio secundário ficasse muito reduzido. Começámos por adotar proteção individual para todos os profissionais, depois em todos os doentes e, sem dúvida, que o aumento do rigor no cumprimento das regras básicas, como a lavagem das mãos, também ajudou.".A partir daqui, só é preciso "maximizar este resultado. Sabemos que muitas pessoas utilizaram medidas excecionais de controlo de infeção por estarem muito preocupadas com a sua própria proteção, mas é necessário que se interiorize que esta proteção, que aplicaram agora à covid-19, e que se mostrou muito produtiva, deve ser mantida no futuro para se evitar a transmissão de outros agentes que já cá estavam e que continuam a estar cá"..Após a gripe A esqueceram-se regras Carlos Lima Alves recorda mesmo que "um terço das infeções adquiridas dentro do hospital poderiam ser evitadas com medidas de prevenção, nalgumas áreas até mais do que isto". O que só "não acontece quando a higiene das mãos, das superfícies, de equipamentos não ocorrem com frequência". Sublinhando: "Não queremos que aconteça o que aconteceu com a gripe A, em 2009, em que houve um aumento significativo da higiene das mãos, permitindo observar a redução em algumas infeções e na incidência de algumas bactérias, mas dois anos depois voltou tudo ao mesmo e os números de infeção hospitalar tinham voltado aos de anos anteriores.".O diretor de serviço de infecciologia sabe que não se pode "esperar que se atinja o valor zero de infeções hospitalares, vão sempre existir algumas, mas a melhoria significativa e sustentável é o mais importante para uma unidade de saúde, e é para isto que temos de olhar"..E acredita que se as medidas agora implementadas se tornarem universais se poderá poupar muito mais no número de infeções, no uso de antibióticos, no número de dias de internamento e que se ganha muito mais na acessibilidade aos cuidados. "Se tiver um doente operado e que pode sair cinco dias depois sem complicações facilita mais o acesso do que um doente operado que complica com uma infeção e que tem uma cama ocupada 15, 20, 30 dias.".Por isso, "a pandemia deverá fazer repensar a organização do hospital, no que toca a cuidados em ambulatório, internamento e circuitos. Não podemos voltar a ter, no inverno, situações de salas de espera cheias, pois sabemos que menos pessoas e cruzamentos de pessoas significam menos risco de de infeção dentro do hospital"..Programa deteta infeção em tempo real.No Centro Hospitalar Lisboa Central, Liliana Dias, coordenadora do PPCIRA, desde dezembro do ano passado, refere que, neste momento, o hospital está a implementar um programa informático que dará a indicação de taxas de infeção em tempo real. "É um programa que já estava a ser trabalhado e cuja implementação coincidiu com a pandemia. É importante porque irá permitir detetarmos mais rapidamente focos de infeção, ir para o terreno e agir. Um dos problemas no controlo deste tipo de infeção é não serem logo detetados e a morosidade que se leva a atuar", referiu..Liliana Dias avança com a mesma explicação que deram os seus colegas sobre o impacto das medidas de proteção durante a pandemia. "Não temos ainda dados, mas desde o início que temos noção de que nas unidades está a haver este tipo de agentes em menor número. É uma noção subjetiva, mas, acreditamos que toda a adaptação exigida aos hospitais devido à covid-19, e que levou a um reforço das regras de prevenção e de controlo hospitalar, com as quais nos debatíamos antes diariamente, está a gerar melhorias". .Segundo a infeciologista, "os profissionais estão muito mais sensibilizados para a prática rigorosa de algumas regras de higienização" e até "estão a procurar ativamente mais informação sobre o assunto". É certo que também "houve um grande trabalho na formação e de informação por parte do centro hospitalar, mas é notório que houve um reforço de determinados gestos, como o da higienização frequente das mãos e das superfícies, que estarão a contribuir para a redução da existências de agentes microbianos ou de infeções hospitalares"..Neste centro hospitalar, a médica diz que a tendência demonstrada pelos dados registados nos últimos anos, nomeadamente em 2018, "é a de redução das taxas de infeções nosocomiais em algumas áreas, como corrente sanguínea e redução das taxas de infeção hospitalar em cuidados neonatal. O mesmo tem vindo a acontecer à taxa de infeção em local cirúrgico, nomeadamente em algumas áreas"..Liliana Dias pode estar há pouco tempo nestas funções, mas afirma não ter dúvida também de que "os comportamentos de higienização têm de perdurar para sempre. Antes tivemos a gripe A, agora este coronavírus. É preciso que todos percebam que as doenças infecciosas emergentes são uma ameaça constante. É preciso também que profissionais, doentes e visitantes entendam que estamos perante um problema real e que muitas infeções ou até mortes podem ser prevenidas se mantivermos os comportamentos que agora foram reforçados"..Para a médica, está fora de questão que o regresso à normalidade na vida hospitalar "volte a ser o que era. Não pode. O regresso à normalidade tem de ser feito já com a aprendizagem que obtivemos com a pandemia"..Repensar a saúde e sua evolução.No Hospital Santa Maria, o maior do país, o coordenador do PPCIRA, Aires Pereira, também não avança com resultados sobre os primeiros meses da pandemia, pois considera que "não foi um período normal e com realidade homóloga para ser comparável", explicando: "Até pode haver a perceção de que há menos infeção, mas também houve menos doentes, só vieram os doentes urgentes, e quase que não se realizaram atos cirúrgicos, sendo estes um dos mais propícios para a existência de infeções." Por isso, "os dados deste período só poderão ser analisados no final de tudo e com todo o rigor", sublinha..Mas o médico assegura que esta unidade deu um salto muito significativo no controlo de infeções e na resistência aos antimicrobianos desde 2016, "orgulho-me do trabalho que se tem feito porque melhorámos significativamente na redução das taxas de infeção. Temos uma grande vigilância, afinámos a monitorização de prevenção e controlo, o que tem sido muito importante", admitindo, no entanto, lidar com algumas dificuldades estruturais que impedem mais melhorias. ."Uma coisa é um hospital novo bem estruturado, outro é um hospital como o Santa Maria, com mais de 70 anos. Enquanto uma unidade recém-construída já é pensada de forma a ter mais espaços para a higienização das mãos, casas de banho separadas, circuitos diferentes para os doentes, já com a separação do setor de consultas e dos cuidados ambulatórios do setor de internamento, aqui isso ainda não é possível em muitas áreas. Hoje sabe-se que as condições ajudam a melhorar os comportamentos.".O médico defende ser necessário repensar-se as regras e os circuitos para toda a população que circula na grande comunidade que é o hospital. Aliás, uma das coisas boas que a pandemia pode ter é exatamente "o podermos a partir daqui repensar a saúde e a sua evolução. Tenho receio de que as pessoas se esqueçam do que está a acontecer e do que é importante"..Sublinhando também: "Em 2009, tivemos a gripe A, mas todos os anos parece que no inverno a gripe aparece pela primeira vez. Os hospitais não se organizaram, não se fez alterações de fundo, e agora é preciso que isso aconteça." Dando como exemplo o salto que a covid-19 obrigou a dar para a comunicação digital. "Permitiu muitas consultas, que, se calhar, não tinham mesmo de ser presenciais e a comunicação com os doentes e com os familiares dos doentes. Se calhar tem de ser assim." Até porque, "vamos ter covid para mais anos"..Mas se antes o controlo de infeção era o irmão menor dos problemas que existiam na s unidades, hoje a perspetiva já não é essa e tem de haver "mais investimento da tutela, mais aposta nos profissionais a tempo inteiro para esta área. É preciso investir no controlo de infeção para depois se poupar mais", destaca..Portugal já não é o pior da UE.Em 2013, Portugal era o país da União Europeia com a mais alta taxa de infeção associada a cuidados de saúde, e dos piores na taxa de resistência de bactérias aos antibióticos e dos piores também na utilização que se fazia destes. Hoje, já não é assim..Artur Paiva é coordenador nacional do Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos desde março deste ano, mas foi também o primeiro coordenador do programa, 2013-2016, por isso, diz: "Tenho a sorte de acompanhar este programa e o trabalho que tem sido feito desde a sua génese e posso dizer que se fez um percurso significativo nos últimos seis anos e que está a mudar a imagem do país em relação a este problema.".Os dados referentes a 2018, que acabaram de ser trabalhados, para depois serem entregues à Direção-Geral da Saúde, mostram que esta tendência de melhoria se mantém em todas as áreas de monitorização: "Vigilância das infeções associadas, na resistência dos micro-organismos aos antibióticos e na utilização dos antibióticos", mas ainda não é suficiente para que em todas deixemos os lugares da segunda pior metade da tabela da UE.."Há seis anos éramos o país que mais usava antibióticos, hoje já não estamos na frente do pelotão, mas o trabalho feito ainda não chegue para nos retirar da pior metade da tabela neste vetor." No item das precauções básicas de controlo de infeção (lavagem das mãos, uso de luvas, etc.) também há mudanças, mas também ainda não são as desejáveis..Segunda explica, os dados de 2018 confirmam a evolução de melhoria significativa no controlo de infeções nas áreas de "cuidados intensivos, por onde passam os doentes críticos e com mais fragilidades", e nas de cirurgia ortopédica, que era das situações mais graves quanto a infeções adquiridas, com um impacto muito significativo na qualidade de vida dos doentes, e nas cesarianas.."A infeção na ortopedia estava muito relacionada com a colocação de próteses da anca e do joelho, sempre que era detetada uma complicação por infeção, muitas vezes se perdia a prótese e havia que refazer a cirurgia toda. E, neste aspeto, houve uma melhoria enorme. As infeções relacionadas com as cesarianas também eram uma situação complicada, mas tem-se vindo a registar uma melhoria significativa." O mesmo já não acontece no controlo de infeções nas áreas de cirurgias do colorretais, em que os números registados não revelam melhorias.".Quanto à utilização de antibióticos, onde éramos dos piores, Artur Paiva afirma que o "percurso feito registou uma extraordinária melhoria. Tal deve-se ao facto de se ter criado logo em 2013, o Programa de Apoio à Prescrição de Antimicrobianos (PAPA), que, com o "empenho de todas as pessoas conseguiu reduzir-se, e muito o consumo de antibióticos em ambulatório. Conseguiu-se mesmo reduzir o consumo dos dois tipos de antibióticos que mais envolvem resistências"..E isto leva-nos ao terceiro vetor que é o da resistência das bactérias aos antibióticos. "As bactérias ganham resistência aos antibióticos porque quando são expostas a estes criam defesas, lutam, para se adaptarem, e como se reproduzem a cada 20 minutos, passam essa resistência para as células irmãs"..Neste momento, já usamos melhor os antibióticos do que a média europeia, diz. Em 2013, estávamos na metade pior. Quanto à resistência das bactérias melhorámos, mas continuamos no lado pior da tabela. Por exemplo, na resistência à Estafilococus aureus passámos de uma taxa de 60% para 38%, mas a média internacional é de 20%. Ainda não chega"..Artur Paiva também diz não querer que se repita o que aconteceu com a Gripe A, em 2009, ano em que se verificou "um dos melhores índices de higienização das mãos, e de redução das infeções associadas a a cuidados de saúde, mas que depois não teve sustentabilidade. As pessoas voltaram aos comportamentos anteriores o país ficou com um problema grave de saúde pública..O coordenador do programa nacional diz que a partir daqui "precisamos de uma refundação, precisamos de aproveitar este corte epidemiológico, para voltar a fazer o que fazemos, mas de uma maneira diferente. ."Precisamos de acentuar a ambulatorização da medicina, ser capazes de tratar mais doentes em casa ou em hospital de dia", defende. Por agora, não tem dúvida que a pandemia, já trouxe mudanças, não só a Portugal, como ao mundo, "levou ao confinamento social, mas desconfinou claramente a prática clínica. Fomos todos empurrados para metodologias muito diferentes. Não tenho dúvidas que sairemos desta situação mudados e melhores"..Fique a saber:.O que é a infeção hospitalar?.Uma infeção nosocomial, também chamada "infeção adquirida no hospital" ou "infeção hospitalar", define-se como: Uma infeção adquirida no hospital por um doente que foi internado por outra razão que não essa infeção. Uma infeção que ocorre num doente internado num hospital, ou noutra instituição de saúde, e que não estava presente, nem em incubação, à data da admissão. Estão incluídas as infeções adquiridas no hospital que se detetam após a alta, assim como infeções ocupacionais nos profissionais de saúde..Quais os fatores que favorecem a infeção hospitalar nos doentes?.Vários fatores favorecem a infeção nestes doentes: a depressão da imunidade; o número, cada vez maior, de procedimentos médicos e técnicas invasivas que criam potenciais portas de entrada para a infeção; hospitais sobrelotados em que as deficientes práticas de controlo da infeção facilitam a transmissão de bactérias multiresistentes entre os doentes..Com que frequência acontece este tipo de infeção?.O problema não existe só em Portugal. Existe em todo o mundo, tanto nos países desenvolvidos como nos países pobres. E está entre as mais importantes causas de morte e aumento da morbilidade nos doentes hospitalizados. O que constitui um peso significativo tanto para os doentes como para a saúde pública. Um inquérito de prevalência realizado pela OMS, em 55 hospitais de 14 países, de 4 regiões da OMS (Europa, Mediterrâneo Oriental, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental), mostrou que uma média de 8,7% dos doentes hospitalizados contraíam infeções nosocomiais, infeções em associadas a cuidados de saúde ou infeções hospitalares..Quantas pessoas são atingidas?.De acordo com a OMS, a cada momento, mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de complicações infecciosas adquiridas no hospital. As frequências mais elevadas de infeções nosocomiais foram descritas em hospitais do Mediterrâneo Oriental e do Sudeste Asiático (11,8% e 10,0% respetivamente), com prevalências de 7,7 e 9,0% respetivamente na Europa e no Pacífico Ocidental..Quais as infeções mais frequentes e de que modo se manifestam?.As infeções nosocomiais mais frequentes são as infeções da ferida cirúrgica, as infeções das vias urinárias e as infeções das vias respiratórias inferiores. O estudo da OMS, assim como outros estudos, demonstraram que a prevalência as infeções nosocomiais é mais elevada em unidades de cuidados intensivos e em serviços cirúrgicos e ortopédicos. A taxa de infeção é maior em doentes com aumento da suscetibilidade devido à idade avançada, co-morbilidades ou quimioterapia. Manifestam-se mais pela forma de infeções urinárias, respiratórias, por cateter..Quais as bactérias mais comuns?.Klebsiella pneumoniae;.Staphylococcus aureus.Pseudomonas aeruginosa.Staphylococcus epidermidis. O que são bactérias resistents e multiresistentes?.Uma bactéria resistente é aquela que se continua a multiplicar na presença de antibióticos que deveriam inibir a sua replicação. Uma bactéria multirresistente é aquela que resiste a dois ou mais grupos de antibióticos aos quais deveria ser sensível.