O número 39 é a partir de agora o preferido de Neemias Queta! Foi nesse lugar que foi escolhido no draft da NBA pelos Sacramento Kings e fez história no basquetebol português. Ficou a nove lugares da entrada direta (que garantia contrato de cinco anos e um valor mínimo de um milhão de euros)."Mal posso esperar por ir para Sacramento. Vamos, Kings!", escreveu o jogador no Instagram, já depois de falar à SportTV: "Estou muito contente. Foi Lindo. Já esperava por este dia há muito tempo.".A época 2021-22 arranca só a 19 de outubro e ele ainda pode ser trocado, mas o mais provável é que assine um too way contract - pode jogar na G-League e na NBA ao mesmo tempo. Os Kings não têm postes e Neemias pode preencher um vazio. Para já fica em Sacramento, onde já reinou Ticha Penicheiro (campeã da WNBA em 2005). "Antes de ser ex-jogadora de Basket e dos Sacramento sou portuguesa e tenho muito orgulho no Neemias. Acho que todos os portugueses estavam a torcer por ele desde que se apresentou ao draft pela primeira vez em 2019", disse ao DN a ex-jogadora, lembrando que por vezes "o universo conspira a favor" e "arranja coincidências felizes"..Os Kings são vistos como exemplo de gestão, mas desportivamente andam arredados do topo há muito. Há 15 anos que não vão aos play-off (recorde da NBA, em igualdade com os Clippers). A última vez foi em 2006: "Acho que é a cidade perfeita para ele começar na liga mais competitiva do mundo porque não há tantas distrações sociais como em Nova Iorque, Miami ou Chicago e os adeptos são incríveis e apoiam muito.".Como é agente da WNBA (liga feminina de basquetebol feminina dos EUA) foi acompanhando o desempenho de Neemias nos Aggies e já estava à espera que fosse escolhido na segunda ronda. "Ele tem muito potencial físico e apesar de ser verdade que há muitas equipas que já não usam postes, há jogadores mais defensivos, como o francês Rudy Gobert dos Utah que tem tido uma carreira incrível na NBA", explicou a portuguesa..Neemias vai mostrar-se com a camisola dos Kings no Califórnia Classics (3 e 4 de agosto) e na Summer League em Las Vegas (começa a 10 de agosto): "Vai ter a oportunidade de mostrar a toda a gente que Sacramento não cometeu um erro ao escolhê-lo"..Quetão, como é conhecido Neemias Queta Barbosa, vive o sonho americano. Começou a jogar no Barreirense com dez anos "por diversão". E só aos 17 começou a levar o basquetebol "mais a sério". O ex-diretor do basquetebol do Barreirense, Paulo Silvestre, lembrou esses tempos em 2018, ano em que o DN deu a conhecer o português que brilhava no campeonato universitário: "Uma criança que chegou pelo próprio pé a querer experimentar o basquetebol, na altura era o minibasquete. Um miúdo especial, jovem extremamente humilde, que gosta de aprender e com grande dedicação ao basquetebol.".De tal maneira que não deixou de ir aos treinos, mesmo se ia a pé: "O Neemias muitas vezes ia a pé para o treino e ainda era uma distância considerável de casa dele até ao pavilhão. A família tinha algumas dificuldades, mas a perseverança dele nunca o deixou desistir. Isso mostra a vontade de superar as pedras que a vida lhe ia colocando no caminho e fez-se homem assim, à custa dele próprio. E é preciso dizer que a família dele, apesar de pessoas humildes, muito trabalhadoras, sempre foi muito unida e preocupada com ele, com a sua educação.".Aos 18, e depois de uma ida à seleção sub-18, mudou-se para o Benfica, clube onde jogou até aparecer a oportunidade de se mudar para os EUA. Com 22 anos e 2,11 metros, mãos grandes e braços longos, em 2018 foi para a Universidade de Utah State graças a uma bolsa universitária para jogar nos Aggies. Fez pela vida no campeonato universitário, sempre com a NBA no horizonte. Em 2019 abriu o coração ao DN e confessou que, para ele, "um desarme é das melhores coisas que se pode fazer" e que "gostava de ser um jogador com grande potencial na NBA e chegar ao hall of fame"..Um sonho que parecia impossível a muitos, mas não para Neemias. Muito se riram na cara dele quando o disse, como confessou no podcast Bola ao Ar:"Quando dizia que queria chegar à NBA, houve pessoas que se riram na minha cara, houve pessoas que disseram que não era possível. E eu não me preocupei com isso. Tens de acreditar no que tu achas que és capaz de fazer.".O bom gigante do Vale da Amoreira, onde já foi eternizado num mural, vai concretizar o sonho, que foi de Carlos Lisboa, nos anos 1980 e de Betinho em 2005..A partir de agora, Portugal está no mapa da NBA..isaura.almeida@dn.pt