"Quero ser melhor ator hoje do que era há uns anos. Esforço-me por isso, é importante para mim", diz um pacato mas simpatiquíssimo Kevin Costner num encontro para a imprensa internacional em Madrid, na tarde a seguir à antestreia de Emboscada Final, de John Lee Hancock, mais um filme Netflix Original a chegar nesta semana ao streaming..Anteontem, na antestreia europeia em plena Gran Via, foi um ver se te avias de selfies, quer para jornalistas quer para fãs. Com o seu sorriso tranquilo, o ator, de 64 anos, não recusa nem uma fotografia: "Sabe qual é o meu grande problema com estas selfies? É que nunca fico bem! E sabe que mais? Sou inseguro. Sinto que nunca sou aquilo de que as pessoas estavam à espera. Depois, claro, há aqueles momentos confrangedores quando a câmara não funciona e tenho de ficar ali meio curvado à espera. Todavia, percebo que é pelo amor ao cinema que as pessoas me pedem as selfies e isso toca-me. Percebo esse desejo de ligação, mas também estou sempre a levar a aprovação das mães. Nem imagina a quantidade de vezes que me dizem a minha mãe adora-te", segreda ao DN..Em Emboscada Final, Costner engordou para um papel que tinha recusado há dez anos. Ele é o agente Frank Hammer, famoso agente dos Texas Rangers que ficou na história por ter sido o executor de Bonnie e Clyde, a mais icónica dupla de criminosos dos EUA. Hammer, conhecido por disparar para matar sempre ao serviço da lei, foi um dos recordistas de mortes nos anos 1920 e 1930. Uma figura lendária que pela primeira vez tem um filme que o coloca como herói, bem ao contrário do sucesso de 1967, Bonnie e Clyde, de Arthur Penn, obra que levou a viúva de Hammer a processar o estúdio Warner Bros..Para Costner, Hammer é o herói: "Eu adoro o filme de Penn, mas não contava a verdade. Bonnie e Clyde não eram vítimas, mas sim os polícias que eles mataram à queima-roupa. Dessas vítimas nunca ninguém faz filmes, acredito que o nosso filme venha um pouco fazer justiça. A nossa história é mesmo a verdade, mas não fizemos este filme em oposição ao de 1967. Além do mais, a vida de Bonnie e Clyde não era nada glamorosa, viviam permanentemente na estrada, ao calor e sem tomar banho. Naquele tempo, as estradas não eram todas asfaltadas e o saneamento era nojento.".Além de Costner, Emboscada Final tem um Woody Harrelson impecável, compondo Maney Gault, o outro Texas Ranger que pôs fim à fuga de quatro anos do casal assassino, um alcoólico que se tornou também chave na emboscada que finalmente foi fatal para Bonnie Parker e Clyde Barrow. A crítica americana parece estar a fazer campanha negativa ao filme, mas esta dupla de atores não tem sido poupada a elogios.."Tenho uma nova família, filhos ainda crianças, e quero cuidar bem de mim, continuar a ficar relevante. Por isso leio muito e quero manter-me em boa forma...", diz-nos enquanto continua a responder se faz agora escolhas a pensar no futuro: "A minha filha está sempre a perguntar quando pode ver os meus filmes. Quero que no futuro se orgulhem de mim, por isso fiz este filme. Mas também vai ser giro eles poderem ver-me mais novo, por exemplo quando fiz Os Intocáveis. Talvez aí sorriam. Penso em termos de legado.".Numa altura em que o seu publicista já nos olha a querer despachar, Kevin Costner revela o que ainda ninguém sabe: "No próximo western que vou realizar os papéis femininos são mais importantes. Mas ainda não posso avançar muita coisa. Sou tão teimoso que se as coisas não saem à minha maneira, é sempre complicado... Além de teimoso, sou paciente. Os meus filmes demoram tempo a ser feitos, não caem do céu." E, quase a ser puxado, ainda fala da guerra entre Spielberg e a Netflix: "Eles vão ter de resolver este problema, sobretudo porque não faz sentido um Netflix Original estar na corrida dos Óscares e, depois, nos Emmy. Estou seguro de que se vai encontrar uma solução, se calhar, quem sabe, até passa por criar uma nova categoria nos Óscares. Vejamos, sem a Netflix este Emboscada Final nunca teria sido feito. Estou contente que tenha acontecido.".Nas despedidas, já em pé, decide pedir um pouco mais de tempo para voltar à questão das selfies. O publicista desespera mas Kevin conta que é importante: "Tenho algumas histórias que me marcaram particularmente nos meus encontros com os fãs. Há uma que quero contar, pois foi inesquecível. Tem que ver com aquele período no começo do conflito do Golfo, quando fui participar num evento com celebridades para ajudar os nossos militares. Lembro-me de estar muito cansado, já no final, e ouvir alguém atrás de mim dizer 'Mr. Costner! Mr. Costner'. Virei-me sem muita vontade para autógrafos ou fotografias e perguntei a essa senhora o que queria. Ela apenas desejava contar-me que tinha o marido capturado no Iraque e que ansiava poder dar-lhe um beijo longo se ele regressasse com vida, um beijo igual àquele que a minha personagem de Danças com Lobos dava à sua amada depois de regressar à aldeia, após ter sido salvo. Para mim, foi muito especial. Aquele beijo longo foi uma imposição minha. Queria que aquelas personagens não parassem o beijo. Fiquei muito marcado com o encontro com aquela senhora, apeteceu-me oferecer-lhe uma bobina de Danças com Lobos apenas com aquela sequência." A forma como Costner relata o encontro quase que lhe traz uma lágrima ao canto do olho. Quase?