Júlio Isidro e a Eurovisão. "Ganhámos quando não estivemos na onda"
Fez parte do júri da primeira semifinal do Festival da Canção e é um dos nomes históricos ligados ao evento e à música em Portugal. Júlio Isidro foi um dos milhões de portugueses que na terça-feira à noite acompanhou a primeira semifinal da Eurovisão. Mas ao contrário de muitos, o apresentador não ficou chocado com o facto de Conan Osíris não ter passado à final de sábado.
"O festival da Eurovisão é cada vez menos um festival de canções e mais um espetáculo de variedades, não é de Portugal é da Rádio Televisão Portuguesa e transformar tudo isto numa vaga de emoções e de patriotismo deve ser moderado. Não ir à final não é perder nada", defende.
Mesmo quando já fomos vencedores da Eurovisão. "O caso do Salvador Sobral é um epifenómeno, tanto português como universalmente." Júlio Isidro acredita que "ganhámos quando não estivemos na onda". Onda essa que é "mais do que o show o importante é o show off". E Conan Osíris "fez tudo o que tinha a fazer de acordo com a sua linha. E entrou na dominante do festival: mais do que o show é o show off. É a linha dele e é respeitável."
Para o histórico dos festivais da canção, mau é se Conan Osíris "for considerado um vilão". "O que é importante é não transformar o herói de anteontem no réu de ontem, não é justo." Além disso, Júlio Isidro não embarca nas ideias de que Portugal foi roubado nas votações. "Dou importância muito relativa às ideias de que houve batota ou que íamos ganhar e é preciso ir ao videoárbitro."
Nas semifinais da Eurovisão apenas são conhecidos os 10 finalistas, não sendo revelados os pontos que cada país obteve entre a votação do júri e o televoto. Os votos apenas serão conhecidos depois da final de sábado, dia 18.
Sobre as votações, Júlio Isidro acredita que "os critérios estarão eventualmente para além do valor das canções e da própria apresentação". Ainda que, na sua opinião, nenhuma das atuações da semifinal de ontem tenha sido "fascinante em termos musicais". Antes resumiram-se a "pequenos sketches musicais".
Nada que leve Júlio Isidro a defender que se deixe de participar na Eurovisão. "Devemos continuar a participar. Temos que ter mais programas de televisão e rádio que deem abertura a quem faz música, que só o festival não chega porque apenas entram 20 compositores. Abrir as portas a quem faz coisas tão boas e bonitas, recebo todos os dias coisas boas, não tem que fazer." O apresentador gostava que houvessem "mais festivais e encontros de gente nova em Portugal e que eles se cruzem com os mais antigos, com os veteranos".
Um caminho que permitirá, quem sabe, a Portugal voltar a sair da onda da Eurovisão. "Um dia não estaremos na onda e seremos muito diferentes se pisar aquele palco a cantar o fado uma Ana Moura, a Mariza ou Camané. Aliás, ganhámos com uma balada do Salvador mas com o tom melancólico de fado".