O julgamento dos instrutores dos Comandos acusados da morte de dois recrutas foi suspenso na quinta-feira, após o Ministério Público (MP) requerer a separação entre o processo-crime e o das indemnizações pedidas pelas famílias..O coletivo de juízes deu um prazo de 48 horas para as partes se pronunciarem e, caso aceite o pedido do MP de transferir os pedidos de indemnização para a esfera dos tribunais administrativos, o julgamento prossegue na próxima quinta-feira, dia 4 de outubro..Se a decisão for no sentido pretendido pelos advogados de defesa de Hugo Abreu e Dylan da Silva, o Estado terá 20 dias para responder..Isso implicará que o julgamento seja adiado por um mês, admitiu Ricardo Sá Fernandes, advogado da família de Hugo Abreu..Na base do pedido do procurador José Nisa está o potencial conflito de interesses que decorre de o processo-crime e os pedidos de indemnização fazerem parte do mesmo julgamento: em nome do Estado, o MP acusa os instrutores dos Comandos e defende-se dos pedidos de indemnização das famílias..A família de Hugo Abreu reclama 300 mil euros do Estado, enquanto a de Dylan da Silva exige 400 mil. Há ainda um terceiro pedido de indemnização, entregue por um dos instruendos que ficou com lesões decorrentes da recruta do 127.º curso de Comandos..Com a presença no tribunal de muitos antigos comandos com a respetiva boina e usando roupa onde se liam inscrições retiradas da acusação contra os instrutores, um dos oficiais presentes explicou ao DN a recusa de separar os processos com o facto de isso representar um potencial atraso de anos na obtenção das indemnizações..Presentes estiveram ainda o então comandante operacional das Forças Terrestres, tenente-general António Menezes, o comandante do regimento na altura dos acontecimentos, coronel Dores Moreira, e o seu sucessor, coronel Pipa Amorim..Falhas do Exército.O MP acusa os 19 instrutores - todos os que tinham a especialidade Comando - da alegada prática de 539 crimes durante o 127.º curso dessa unidade de forças especiais do Exército..Para o MP, os militares - oito oficiais, oito sargentos e três praças - atuaram com "manifesto desprezo pelas consequências gravosas que provocaram" nos instruendos, pelo que "colocaram em risco a vida e a saúde dos ofendidos [...] logo no primeiro dia de formação"..A 4 de setembro de 2016, no Campo de Tiro de Alcochete e com temperaturas na ordem dos 40 graus centígrados, o curso iniciou-se com a habitual prova zero - marchas e exercícios acompanhados pela forte restrição no consumo de água para testar os limites da resistência física e psicológica dos instruendos..Hugo Abreu morreu logo nesse dia e vários instruendos tiveram de ser levados para o hospital, onde dias depois viria a falecer Dylan da Silva..A exemplo do caso dos paióis de Tancos (ao nível da segurança das instalações), os inquéritos que se seguiram revelaram existirem falhas sistémicas no plano do acompanhamento médico e sanitário durante a recruta, bem como no conhecimento do historial clínico dos instruendos..Daí resultaram alterações no tipo e na frequência dos exames clínicos (nomeadamente análises) antes e durante a recruta, bem como a revisão profunda dos referenciais do curso de Comandos..Intervenção da PJM.Internamente, o afastamento oficial do Exército deste caso - quando os militares têm o direito estatutário de receber apoio judiciário do ramo - gerou grande indignação entre os militares da unidade e antigos comandos..Se a posição do general Rovisco Duarte como chefe do Estado-Maior do Exército já suscitava fortes críticas, desde logo pelo seu silêncio público face aos subordinados, elas agravaram-se com a decisão - ao fim de ano e meio - de rejeitar os respetivos pedidos de apoio judiciário depois de ser conhecida a decisão do tribunal em levar os 19 militares a julgamento..Os termos do despacho que fez também inviabilizavam objetivamente que os militares pudessem voltar a requerer esse pedido de apoio judiciário a poucas semanas de se iniciar o julgamento, uma vez que a contratação de advogados por parte do Exército só ficaria concluída depois..A ação da PJ Militar (PJM) constituiu outro foco de tensão para os Comandos, tanto ao nível da investigação - que fundamentou as duras acusações do MP - como, depois, no momento da detenção de vários dos instrutores envolvidos e posterior transferência para o presídio militar de Tomar..Quem assistiu a essa situação contou ao DN que os investigadores militares da PJM chegaram ao Regimento de Comandos equipados com "coletes e armas, como se fossem intervir na Cova da Moura", criando um mal-estar de tal ordem entre as duas estruturas que o diretor nacional daquela polícia, coronel comando Luís Vieira, se tornou quase um proscrito para muitos dos militares daquela unidade.
O julgamento dos instrutores dos Comandos acusados da morte de dois recrutas foi suspenso na quinta-feira, após o Ministério Público (MP) requerer a separação entre o processo-crime e o das indemnizações pedidas pelas famílias..O coletivo de juízes deu um prazo de 48 horas para as partes se pronunciarem e, caso aceite o pedido do MP de transferir os pedidos de indemnização para a esfera dos tribunais administrativos, o julgamento prossegue na próxima quinta-feira, dia 4 de outubro..Se a decisão for no sentido pretendido pelos advogados de defesa de Hugo Abreu e Dylan da Silva, o Estado terá 20 dias para responder..Isso implicará que o julgamento seja adiado por um mês, admitiu Ricardo Sá Fernandes, advogado da família de Hugo Abreu..Na base do pedido do procurador José Nisa está o potencial conflito de interesses que decorre de o processo-crime e os pedidos de indemnização fazerem parte do mesmo julgamento: em nome do Estado, o MP acusa os instrutores dos Comandos e defende-se dos pedidos de indemnização das famílias..A família de Hugo Abreu reclama 300 mil euros do Estado, enquanto a de Dylan da Silva exige 400 mil. Há ainda um terceiro pedido de indemnização, entregue por um dos instruendos que ficou com lesões decorrentes da recruta do 127.º curso de Comandos..Com a presença no tribunal de muitos antigos comandos com a respetiva boina e usando roupa onde se liam inscrições retiradas da acusação contra os instrutores, um dos oficiais presentes explicou ao DN a recusa de separar os processos com o facto de isso representar um potencial atraso de anos na obtenção das indemnizações..Presentes estiveram ainda o então comandante operacional das Forças Terrestres, tenente-general António Menezes, o comandante do regimento na altura dos acontecimentos, coronel Dores Moreira, e o seu sucessor, coronel Pipa Amorim..Falhas do Exército.O MP acusa os 19 instrutores - todos os que tinham a especialidade Comando - da alegada prática de 539 crimes durante o 127.º curso dessa unidade de forças especiais do Exército..Para o MP, os militares - oito oficiais, oito sargentos e três praças - atuaram com "manifesto desprezo pelas consequências gravosas que provocaram" nos instruendos, pelo que "colocaram em risco a vida e a saúde dos ofendidos [...] logo no primeiro dia de formação"..A 4 de setembro de 2016, no Campo de Tiro de Alcochete e com temperaturas na ordem dos 40 graus centígrados, o curso iniciou-se com a habitual prova zero - marchas e exercícios acompanhados pela forte restrição no consumo de água para testar os limites da resistência física e psicológica dos instruendos..Hugo Abreu morreu logo nesse dia e vários instruendos tiveram de ser levados para o hospital, onde dias depois viria a falecer Dylan da Silva..A exemplo do caso dos paióis de Tancos (ao nível da segurança das instalações), os inquéritos que se seguiram revelaram existirem falhas sistémicas no plano do acompanhamento médico e sanitário durante a recruta, bem como no conhecimento do historial clínico dos instruendos..Daí resultaram alterações no tipo e na frequência dos exames clínicos (nomeadamente análises) antes e durante a recruta, bem como a revisão profunda dos referenciais do curso de Comandos..Intervenção da PJM.Internamente, o afastamento oficial do Exército deste caso - quando os militares têm o direito estatutário de receber apoio judiciário do ramo - gerou grande indignação entre os militares da unidade e antigos comandos..Se a posição do general Rovisco Duarte como chefe do Estado-Maior do Exército já suscitava fortes críticas, desde logo pelo seu silêncio público face aos subordinados, elas agravaram-se com a decisão - ao fim de ano e meio - de rejeitar os respetivos pedidos de apoio judiciário depois de ser conhecida a decisão do tribunal em levar os 19 militares a julgamento..Os termos do despacho que fez também inviabilizavam objetivamente que os militares pudessem voltar a requerer esse pedido de apoio judiciário a poucas semanas de se iniciar o julgamento, uma vez que a contratação de advogados por parte do Exército só ficaria concluída depois..A ação da PJ Militar (PJM) constituiu outro foco de tensão para os Comandos, tanto ao nível da investigação - que fundamentou as duras acusações do MP - como, depois, no momento da detenção de vários dos instrutores envolvidos e posterior transferência para o presídio militar de Tomar..Quem assistiu a essa situação contou ao DN que os investigadores militares da PJM chegaram ao Regimento de Comandos equipados com "coletes e armas, como se fossem intervir na Cova da Moura", criando um mal-estar de tal ordem entre as duas estruturas que o diretor nacional daquela polícia, coronel comando Luís Vieira, se tornou quase um proscrito para muitos dos militares daquela unidade.