José Sócrates acusa Sonae de pressão e critica PS

O ex-primeiro ministro enviou as suas respostas por escrito, às perguntas da Comissão de Inquérito, primeiro à TVI e só depois aos deputados
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José Sócrates respondeu, em 16 páginas de texto corrido - e adjetivos frequentes - às mais de 50 perguntas que os deputados da Comissão de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos lhe enviaram.

Por ter sido primeiro-ministro (entre 2005 e 2011), José Sócrates tem a possibilidade de responder por escrito aos deputados, como outros ex-governantes fizeram, no passado, em situações idênticas. O que já não é tão habitual é que o faça, primeiro, na comunicação social.

O DN confirmou com dois deputados, de partidos diferentes, que lideram as suas bancadas nesta comissão parlamentar de inquérito, que José Sócrates enviou as suas respostas primeiro à TVI. A notícia apanhou os deputados de surpresa. Confirmaram com os serviços do Parlamento e verificaram que as respostas não tinham chegado, até então, a São Bento.

Nessas respostas, que José Sócrates agrupou por "temas", há uma clara repreensão dos deputados - pelas perguntas que lhe fizeram, por seguirem a linha das acusações do Ministério Público na "Operação Marquês", sobretudo. Mas também por mostrarem uma "unanimidade" que Sócrates considera "extraordinária".

Ao falar de "unanimidade" (nas críticas dos deputados a Vítor Constâncio), Sócrates está a juntar na mesma crítica - e do mesmo modo - o PS, partido de que se desfiliou recentemente, e que liderou enquanto foi primeiro-ministro, ao alvo mais frequente das suas críticas - o PSD.

Os remoques ao PS surgem logo na primeira página, onde Sócrates nota que é o único primeiro-ministro chamado a responder na Comissão - quando no período em análise houve outros, como Durão Barroso, Santana Lopes, Passos Coelho e António Costa. "Não posso deixar de notar que esta singular distinção teve a concordância do partido que apoiou o governo que liderei."

Respondendo a temas complexos - Vale do Lobo, conflito do BCP, entre outros - Sócrates guardou uma novidade que agora revela, sobre a OPA da Sonae à PT: "Dias antes da assembleia geral o presidente do conselho de administração da Sonae, Dr. Paulo Azevedo, telefonou-me pedindo expressamente a intervenção do Governo para que a Caixa Geral de Depósitos votasse a favor da Sonae. Reafirmei, nesse telefonema, a nossa posição de neutralidade e transmiti-lhe que não via nenhuma razão de interesse público para alterar a minha posição ou a do governo. Portanto, e para responder à pergunta do PSD : sim, houve pressões sobre o governo, mas vieram da Sonae - e tenho testemunhas do que afirmo."

Garantindo que o seu Governo agiu sempre com "neutralidade" nessa OPA da Sonae à PT (em 2006), Sócrates assegura aos deputados que "o interesse do governo, desde o início, foi outro e mais importante para a política de telecomunicações: garantir que desta operação resultaria mais concorrência no sector".

Esses são, segundo afirma, os "factos" que "contradizem a história do Ministério Público, a história da Sonae e a história da direita política portuguesa". "A alegação de que o governo estaria a fingir neutralidade e em segredo a apoiar a PT, não é sustentada em evidência alguma mas em pura maledicência - ela não tem ponta por onde se pegue", escreve.

Sócrates afirma que "não deu qualquer orientação à Caixa Geral de Depósitos- nem a nenhum dos seus administradores - sobre o voto da OPA". E acrescenta: "Nunca falei com Ricardo Salgado sobre a OPA da Sonae. Nunca recebi dele nenhum pedido ou pressão sobre este assunto nem direta, nem indiretamente. Também me vejo obrigado a dizer que nunca recebi do grupo BES, nem da empresa Lena ou de qualquer outra empresa, qualquer quantia monetária ou outro qualquer bem, como vergonhosamente os deputados do PSD me perguntam, sabendo que a pergunta me ofende e sem terem nenhuma razão para o fazer que não seja seguir o que é sugerido pelo Ministério Público."

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