Que mensagem as Testemunhas de Jeová têm para 2021? A mensagem da Bíblia. A mesma mensagem que, ao longo do tempo, nós temos transmitido aos nossos vizinhos, às pessoas na comunidade. Neste caso, uma mensagem, particularmente nesta ocasião, de esperança e, ao mesmo tempo, de consolo. Consolo por tudo aquilo que estamos a passar, precisamos de consolo, precisamos de compreensão, de empatia, e uma mensagem de esperança de que um futuro melhor, de acordo com aquilo que na Bíblia nós encontramos, haverá para a humanidade..Como têm chegado às pessoas nestes tipos de confinamento? Nós, desde o dia 13 de março de 2020, deixámos de ter reuniões presenciais. Sejam grandes ajuntamentos, como são conhecidas as nossas assembleias e congressos feitos três vezes no ano com pelo menos 1000 a 1200 pessoas ou vários milhares, seja nas comunidades locais, a que chamamos congregações, que são locais como este onde nos encontramos agora, que denominamos de Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. Deixámos de as ter presenciais, como dizia, e passámos a fazer as nossas reuniões por videoconferência. E dessa forma salvaguardamos a saúde de cada uma das pessoas que normalmente frequentam as nossas reuniões, sejam fiéis ou simpatizantes, mas ao mesmo tempo mantemos aquilo que consideramos importante: a proximidade emocional e espiritual. Porque distanciamento físico não significa distanciamento emocional nem espiritual, e nesse sentido temos procurado fazer todos os esforços para que todos os fiéis e todas as pessoas que queiram estar connosco possam desfrutar das nossas reuniões, e essa partilha tem resultado muito bem..Como é que se consegue manter os fiéis nestes tempos de pandemia? Nós estamos estruturados localmente em congregações e nas congregações há uma preocupação de contactar semanalmente, por telefone, às vezes por videochamada, os fiéis. E dessa forma, através desse contacto, nós procuramos saber do seu bem-estar, não apenas espiritual, não há uma relação meramente formal pelo facto de sermos da mesma religião, mas há sobretudo uma relação afetiva. Se, de modo prático, necessitam de colaboração, de ajuda prática, por exemplo para a aquisição de compras, de medicamentos, no caso dos que possam ser de mais idade e tenham alguma dificuldade de os obter, então de maneira prática nós tratamos disso localmente, e assim procuramos que todos se sintam apoiados, se sintam próximos, apesar de fisicamente distantes. Também muitas pessoas têm estabelecido contacto connosco porque nos conheciam de há muito tempo, estavam habituadas às nossas visitas regulares às suas casas, ou estavam habituadas a encontrar-se connosco em zonas de grande circulação de pessoas, onde tínhamos pequenos carrinhos de exposição de publicações, que elas adquiriam com regularidade e conversavam, e agora contactam-nos espontaneamente, ou através do site ou de um contacto pessoal que tenham com alguma Testemunha de Jeová, para conversarmos, para lhes transmitirmos algum pensamento bíblico que elas consideram positivo no seu caso. Ou simplesmente para desabafarem como se sentem. E nós temos todo o prazer em conversar com as pessoas. Dar-lhes aquilo que são os nossos sentimentos com base no estudo que continuamos a fazer da Bíblia. E incentivamo-las a fazer da leitura da Bíblia um projeto pessoal. Algumas Testemunhas de Jeová, inclusivamente, salvaguardando o distanciamento, tomam a iniciativa de escrever cartas aos seus vizinhos e colocá-las na caixa do correio, indicando-lhe o seu contacto, pois eles sabem que num edifício grande com muitos apartamentos as pessoas não se conhecem tanto por nome, mas identificam-se claramente. E muitas pessoas têm agradecido, porque há muito que não recebiam uma carta..Que desafios a pandemia vos colocou enquanto Igreja? O desafio imediato, a seguir ao início do confinamento, foi todos poderem ligar-se sem perda de reuniões. Os mais idosos ou aqueles que estão menos familiarizados com os meios tecnológicos sentiam alguma apreensão, é natural, mas com o auxílio, e o auxílio muitas vezes remoto, de algumas pessoas, sobretudo os mais jovens, com a facilidade de ajudar os mais idosos a fazer a ligação, isso foi possível. Com bondade, com paciência. E esse foi um desafio grande. Outro desafio era o desafio de partilhar estas verdades bíblicas com os nossos vizinhos na comunidade em geral porque deixámos de ter as nossas visitas regulares, aquela que é uma ação habitual das Testemunhas de Jeová, pela qual são muito conhecidas, ir de casa em casa, em locais públicos, disponibilizar matéria bíblica impressa e conversar com as pessoas e partilhar. Deixámos de poder fazê-lo. Mas não deixámos de fazê-lo de todo, porque presencialmente deixaram de nos ver nos locais públicos onde passa muita gente, por exemplo nas grandes cidades diariamente, mas à distância começámos a partilhar, de forma muito mais intensa, matéria bíblica com os nossos contactos, com os nossos vizinhos, familiares, amigos, colegas de trabalho, colegas de escola, enfim, tentando chegar à comunidade por outros meios, sempre respeitando as recomendações das autoridades competentes na área da saúde, e, ao mesmo tempo, salvaguardando quer a nossa saúde individual quer a comunitária..Como é que se transmite esperança em tempos como este? Através de um contacto telefónico, através do envio de um link para, por exemplo, os artigos do site oficial das Testemunhas de Jeová, que tem, neste período de pandemia, publicado muita matéria sobre como lidar com a pandemia, os desafios que lhe estão associados. Recordo-me, por exemplo, de um artigo que li e que partilhei já com algumas pessoas sobre como os jovens em casa estão a lidar com a pandemia, por um lado, porque têm o ensino escolar à distância, e isso é um desafio e tanto, por outro lado, no caso das crianças, o facto de estarem em casa, com mais tempo disponível, poder haver o risco de elas estarem expostas a notícias constantes sobre a evolução da pandemia, e o efeito que pode ter nelas. Que cuidados é que nós, enquanto pais ou encarregados de educação, adultos, devemos exercer para a proteção, sobretudo emocional, das nossas crianças? Essa matéria, que temos vindo a publicar no site, acreditamos que atinge de uma forma mais rápida uma maior quantidade de leitores que consultam esse site e que não são Testemunhas de Jeová, mas que beneficiam..O número de pedidos de ajuda tem aumentado desde março? E que pedidos de ajuda têm recebido? É natural que nesta altura haja mais pedidos de ajuda. Ajuda em concreto, quer de bens essenciais quer, sobretudo, de ajuda emocional. E essa ajuda nós temos procurado dá-la muitas vezes através de uma videochamada, ou em videoconferência se a pessoa tiver facilidade na utilização de plataformas que o permitem, então procuramos dar consolo, não apenas um consolo bíblico, mas também procurar que a pessoa fale, que sinta que não está tão isolada. É verdade que está isolada fisicamente, mas essa aproximação faz que a pessoa sinta menos o isolamento. Dou-lhe um exemplo: há pessoas, Testemunhas de Jeová, que devido à sua idade avançada estão em lares, mas mantemos o contacto com elas, apesar de remotamente, para que sintam que, apesar do confinamento a que estão sujeitas, todas as limitações a que estão sujeitas, ainda são parte da nossa família, chamemos-lhe assim. E que sintam que, por esse contacto ser feito de uma forma muito regular, nalguns casos diariamente, a pessoa sinta que aquele isolamento não a afete tanto emocionalmente quanto se estivesse completamente isolada..Como será a relação com os fiéis num mundo pós-covid? As coisas vão voltar a ser o que eram? Penso que será uma continuidade do que já existia, mas será melhor. Penso que será com todas as pessoas, não só as Testemunhas de Jeová. O regresso a uma proximidade física, já que nós humanos somos criaturas gregárias, não somos criaturas solitárias, gostamos de estar com outros, gostamos de afetos, e por natureza, e até por formação cultural, nós enquanto latinos gostamos de afetos, do toque, do abraço, do sorriso próximo, e o comunicar não apenas com os olhos e uma máscara à frente, que é um tanto difícil, e será muito bom esse reencontro pessoal. Penso que emocionalmente será bom para todas as pessoas em geral. Acho que para todos os cidadãos será muito bom esse reencontro. É importante a prudência e o resguardo até lá. Não podemos, e os dados estatísticos já o provam, esquecer a prudência por momentos agora. Não podemos esquecer o distanciamento, porque isso pode-nos sair caro, muito caro em termos de saúde e, nalguns casos, até de sobrevivência. Mas acreditamos que depois será um reencontro bastante agradável, quer para nós, Testemunhas de Jeová, quer para aqueles que nos quiserem visitar..ana.meireles@vdigital.pt