Jornalista que protestou na TV russa libertada depois de multada em 247 euros

À saída do tribunal Marina Ovsyannikova revelou ter estado quase dois dias sem dormir, tendo sido interrogada durante 14 horas sem acesso a assistência jurídica.
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A jornalista russa Marina Ovsyannikova, que protestou em direto na televisão estatal contra a guerra na Ucrânia e foi esta terça-feira julgada por "manifestação ilegal" por um tribunal de Moscovo, foi condenada ao pagamento de uma multa de 247 euros por ter cometido "uma infração administrativa" e foi, depois, libertada.

"A minha vida mudou muito, isso é certo. Estou satisfeita por ter expressado o que pensava. Mais importante, existe agora uma nova tendência: outros jornalistas estão a seguir o meu exemplo", declarou Ovsyannikova no final da audiência.

Numa breve declaração à imprensa, a jornalista russa disse querer, primeiro que tudo, "descansar" após esta experiência "muito difícil". "Foram dias muito difíceis da minha vida, passei quase dois dias sem dormir, o interrogatório durou 14 horas", relatou.

"Não tive direito a falar com a minha família, nem tive acesso a assistência jurídica e é por isso que estava numa situação muito difícil", explicou, acrescentando: "Agora, preciso de descansar".

As imagens da sua intervenção em direto no jornal da noite do Pervy Kanal correram mundo, e muitos internautas saudaram o seu ato de uma "coragem extraordinária" num contexto de repressão impiedosa contra qualquer voz crítica na Rússia.

A jornalista, filha de pai ucraniano e mãe russa, entrou no estúdio de televisão durante o noticiário Vremya (Tempo), do Canal 1, mostrando, atrás da pivot, um cartaz com a mensagem "Não à guerra. Ponham fim à guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui, estão a mentir-vos. Russos contra a guerra". Em seguida, foi detida pela polícia.

Embora libertada hoje, ela corre ainda o risco de ser acusada de crimes puníveis com pesadas penas de prisão.

Aparentemente, a audiência de hoje não foi diretamente dedicada à ação de protesto de Ovsyannikova no noticiário do Pervy Kanal, mas a um vídeo difundido em paralelo na internet, no qual ela condenava a entrada das tropas russas na Ucrânia.

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O seu advogado, citado pela agência noticiosa francesa AFP, disse duvidar de que ela venha a ser julgada pela publicação de "informações falsas" sobre o exército russo, um crime punível com uma pena máxima de 15 anos de prisão.

A ação de protesto da jornalista foi elogiada, entre outros, pela Comissão Europeia, cuja porta-voz da Política Externa a considerou "uma tomada de posição moral corajosa", e pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que, num discurso, agradeceu a sua coragem "e a dos russos que continuam a tentar transmitir a verdade".

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