Jorge Jesus para "recuperar prestígio europeu", "jogar o triplo" e "arrasar"
"Vim para ganhar, estou habituado a ganhar, mas também vim para unir a nação benfiquista. É muito importante como está na águia, no símbolo do clube, um somos todos. Não vim para o Benfica reformar-me. O presidente ofereceu-me quatro anos. Eu disse 'não quero, quero um ano'. Ele disse 'não, dois pelo menos'. Então disse 'pode ser'". Estas foram as primeira palavras de Jorge Jesus como treinador do Benfica.
O técnico vai assim assumir o comando técnico dos encarnados nas próximas duas épocas (até 2022), a troco de três milhões de euros por temporada. Ao seu estilo o técnico deitou logo depois por terra os motivos financeiros para o regresso: "Vim ganhar menos que no Flamengo, vim porque acredito no projeto para dar ao prestígio internacional ao Benfica. Quando saí ganhámos tudo, vim agora com essa convicção. Não sou o salvador. Cheguei de um grande clube também. Agradeço o carinho que me deram. Para vir para o Benfica tinha de haver uma causa muito grande: voltar a ganhar, com todos os benfiquistas unidos."
Ganhar na Europa, mas sem perder o foco no "grande primeiro objetivo, o campeonato". Depois sim, "jogar na Europa à Benfica". Para isso é preciso ter um "uma equipa muito forte" e adeptos a torcer de fora pelo clube e não "pela causa Jesus". Ele promete: "Trabalho nas equipas com paixão e morro por elas."
Quando saiu do Benfica para o Sporting disse que deixou um Ferrari para alguém [Rui Vitória] que soubesse conduzir. E agora, o que encontra? "Foi um objetivo que coloquei com a qualidade desta equipa. Importante agora é falar do presente, passado é museu", respondeu, desviando o assunto sempre que os jornalistas colocaram o foco no Sporting ou Flamengo: "Estamos aqui para falar do Benfica."
O regresso não é pacífico para todos os adeptos. Alguns não esquecem como saiu e para onde saiu em 2015 (Sporting). Mas ele promete "trabalhar" para os convencer. "No outro lado do Atlântico ninguém acreditava em mim e quando saí choraram. É o que vou tentar fazer agora."
Sobre a aposta na formação, disse que "todos os clubes em Portugal têm de apostar na formação", porque são "vendedores". "Mas se vendermos os melhores portugueses, como tens uma boa equipa? Não tens. Vamos voltar à política que teve comigo. Formação e procura de novos jogadores fora de Portugal, numa união de qualidade. Foi a ideia que nos levou a êxitos", explicou Jesus, recusando "fazer revoluções" e dando uma palavra de confiança ao atual plantel: "Com o elenco que teremos não vamos jogar o dobro, vamos jogar o triplo."
Questionado sobre porque saiu do Brasil e do Flamengo, onde fez história e era idolatrado, o técnico de 66 anos, natural da Amadora, confessou que "só um clube" o podia tirar do Brasil: "Gosto de desafios difíceis. Para sair de onde saí, onde me amavam, era preciso novo desafio e foi isso. O presidente foi ao Brasil convencer-me que este era o projeto certo para eu continuar."
"Agora vou tentar conquistar outro paraíso. Estamos convictos que temos capacidade para fazer um grupo e uma equipa muito forte. Não vim para o Benfica, como vi em jornais, fazer revolução. Vou mudar conceitos e ideias com os jogadores e estrutura que estão cá. Vou tentar que possamos fazer uma equipa muito forte para no fim do ano dizer 'voltei ao paraíso'. Este novo ciclo, passados 10 anos, não sou o mesmo treinador quando saí. Acho que sou muito mais treinador do que quando saí do Benfica, com ideias mais valorizadas para o Benfica e para Portugal."
A acabar, Jesus foi confrontado com o alegado interesse das águias em Cavani. "Acreditamos que temos capacidade para entusiasmar os grandes jogadores para virem jogar no Benfica com objetivo bem definido. Não importa falar em nomes mas trabalhar para contratar. Sabemos os alvos que queremos e onde podemos chegar. Temos de estar conscientes dos jogadores que temos de contratar. Temos um leque de jogadores que vai continuar, que tem muito valor. E com outros vamos fazer uma grande equipa, vamos arrasar", respondeu o novo técnico dos encarnados.
Foi num cenário de fazer inveja a muito jogador, num relvado do Seixal, com 10 troféus que Jesus conquistou expostos (mais as finais perdidas) e com os capitães (Jardel, Pizzi e André Almeida) e ainda Samaris e Rúben Dias na primeira fila, que o Benfica deu as boas vindas a Jorge Jesus, esta segunda-feira.
Foi no Centro de Treinos do Seixal e debaixo dos holofotes que tanto gosta, que o ex-treinador do Flamengo foi apresentado pelo presidente Luís Filipe Vieira, depois de exibido um vídeo com as conquistas do técnico de águia ao peito. Afinal ele é o técnico mais titulado da história dos encarnados. "Hoje começa um ciclo novo no Benfica. Juntámos novamente os três [Vieira, Jesus e Rui Costa] Vamos fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para que a família benfiquista seja feliz nos próximos anos. Se o Benfica estiver bem a maioria do país estará feliz. Esperávamos voltar a ter a hegemonia completa em Portugal e ganhar a Europa", começou por dizer o presidente, dando as boa vindas ao "Jorge" : "Conta comigo e com todos os benfiquistas."
Depois foi Rui Costa a desejar "um bom regresso a casa" a Jesus e esperando que ele continue a somar conquistas na Luz: "Recordo as minhas palavras em 2010. O teu sucesso será o nosso e bem-vindo a casa. Que aumentes estes troféus que ganhaste. Vamos dar-te todo o apoio para no final celebrarmos."
Na Luz, Jesus vai ter Luisão como diretor técnico e ser acompanhado de uma vasta equipa técnica de dez elementos. João de Deus, Tiago Oliveira e Minervino Pietra - transita da anterior equipa técnica de Bruno Lage dos quadros do Benfica - serão os adjuntos. Mário Monteiro e Márcio Sampaio serão os preparadores físicos. Paulo Lopes vai integrar a estrutura de treino de guarda-redes, juntamente com Fernando Ferreira. Depois há ainda os analistas de vídeo (Rodrigo Araújo e Gil Henriques) e Evandro Mota, o mental coach, que já tinha trabalhado com Jesus no Benfica.