Os mundiais de judo de Tashkent mostraram que afinal Jorge Fonseca é humano e comete erros com consequência. O judoca português ainda precisou de algumas horas para digerir e admitir o fracasso que foi o sétimo lugar e não se poupou a si próprio. Com a mesma frontalidade com que enfrentou o lugar mais alto do pódio nos últimos dois mundiais, o português explicou porque não esteve ao seu melhor nível mental, apesar de estar a 100% fisicamente..Era bicampeão do Mundo (2019 e 2021), medalha de bronze Olímpico em Tóquio 2020, líder do ranking mundial e por isso o principal favorito ao ouro em Tashkent, mas terminou fora do pódio, após duas vitórias e duas derrotas por "culpa própria", como admitiu. Primeiro, ainda nos quartos de final, perdeu com o azeri Zelym Kotsoiev, 11.º do mundo, que viria a ser medalha de bronze, e, depois, quando relegado para a repescagem, caiu diante do georgiano Ília Sulamanidze (sexto).."Foi ganância. Estava a sentir-me bem, estava bem. Já não tenho idade para cometer estes pequenos erros. Estava a ganhar por waza-ari, faltavam dois minutos, podia gerir de forma completamente diferente. Queria finalizar logo o combate, com a minha técnica forte, mas fui contra-atacado", explicou o judoca de 29 anos..Se no combate com Kotsoiev viu-se perdido na indicação da arbitragem e foi surpreendido pelo azeri, no segundo deixou escapar uma vantagem que ele próprio tinha, alcançada ainda antes do meio do combate: "Fiquei frustrado, da forma em como fui contra-atacado. Quando dei por mim ele já estava a imobilizar-me e já não tinha como sair. Foi a gota de água, não estava à espera que fosse apanhado daquele jeito e não estava à espera que ele saísse da minha técnica favorita, porque ele estava bem encaixado, não tive a explosão necessária.".A "ganância de querer despachar o combate" levou-o à derrota e a uma "enorme desilusão". O judoca confessou que ficou "um bocado perdido com as coisas que se passaram ultimamente", incluindo não ter entrado para a polícia, mas recusou usar isso "como desculpa". No entanto confessou a "grande mágoa" por ter sabido que reprovou num exame de acesso à polícia através da televisão. Ele que "queria calar isso tudo" no Campeonato do Mundo, mas não conseguiu. E não só não entrou para a PSP como não revalidou o título mundial: "É uma bola de neve que nem sei ainda muito bem como gerir, mas acredito também que tenho uma carreira brilhante no judo pela frente.".E se alguém já deu provas de superação foi Jorge Fonseca. "Já passei por tantas coisas na vida, que não me vou abaixo. Superei um cancro, a seguir fui campeão do mundo, fui abaixo muitas vezes, levantei-me, isso é a vida de um atleta, altos e baixos. Não vou desistir, não sou de desistir tão rapidamente, tenho 29 anos, tenho muito andar para levar pancada e dar pancada, agora, é saber o que correu mal, tentar corrigir pequenos erros, e chegar ao próximo campeonato do mundo e ser melhor. Com ouro ou com bronze, mas quero estar no pódio", atirou o judoca do Sporting, admitindo que gostava de fazer uma pausa antes de apostar tudo no Masters - competição anual que junta os melhores de cada categoria - para sarar o "ego ferido".