Joey Badass na Ericeira: o rapper que aos 17 anos recusou contrato com Jay-Z
Passavam cerca de vinte minutos depois da meia-noite. Estava na hora do concerto começar e o público chamava pelo seu nome artístico: "Joey, Joey, Joey..." Era, para muitos, o momento mais aguardado do segundo dia do festival no parque de campismo da Ericeira. Até que surgiu no palco, aos saltos e a puxar por todos, para largar algumas das suas "bombas".
É um rapper que, dadas as atuais tendências alternativas do hip-hop, insiste num flow old-school, com letras e vídeoclips que transmitem uma mensagem. Tanto sobre a sua vida, como alguns dos maiores problemas do seu país: a discriminação étnica dos EUA, os jovens negros mortos a tiro à queima-roupa ou a governação de Donald Trump. Joey Badass sabe que a grande maioria dos seus fãs são "brancos". Portanto, acredita na oportunidade das suas músicas educarem uma geração mais nova.
Atualmente, já é considerado um nome do hip-hop mundial e as visualizações no YouTube falam por si. Mas, acima de tudo, é elogiado pela forma como vingou, mantendo a humildade, ao seu estilo. Por vezes, um pouco rebelde - como diz o nome "Badass" -, próprio da idade e de onde cresceu.
Jo-Vaughn Virginie Scott (Joey Badass) nasceu e cresceu nas ruas de Brooklyn, em Nova Iorque. O bairro e a cidade onde muitos outros nomes se tornaram estrelas do hip-hop mundial, como The Notorious B.I.G., Nas ou 50 Cent. E também Jay-Z, de quem não aceitou uma proposta com a Roc Nation.
Era final de 2012 quando Joey Badass, ainda com 17 anos, foi conhecer as condições do contrato. E nem queria acreditar que aquele momento estava a acontecer. Estar a subir no elevador num dos arranha-céus da Broadway, em Manhattan, para conhecer pessoalmente "o Jay-Z": uma inspiração para a maioria dos artistas jovens, não por ter vendido droga nas ruas de Nova Iorque, mas como o talento e a persistência lhe deram uma "nova vida". Tornou-se não só um empresário de sucesso, como um dos três americanos mais ricos de qualquer género musical, aponta a Forbes, partilhando o pódio com Dr. Dre e Pouf Daddy.
Aquele poderia ser o momento de viragem para outro jovem de Brooklyn. Deveria ser o sonho de qualquer artista poder assinar com a produtora que gere várias estrelas, como Rihanna, Bruno Mars, Lil Wayne ou Mariah Carey.
Apenas uns meses antes tinha lançado as suas duas primeiras mixtapes: "1999" em junho e "Rejex" em setembro. Afirmou depois, em várias entrevistas, que quis manter-se um artista livre a fazer o queria. Recusou a proposta e continuou a trabalhar ao seu estilo, com a produtora independente que, em 2010, o descobriu no Youtube.
Aos 15 anos, ainda com o nome de JayOhVee, lança um vídeo a 'disparar' rimas em freestyle, com a certeza que este iria tornar-se viral entre os canais de hip-hop. Está online e veem-se quatro miúdos a partilharem um sonho, num beco escuro com paredes grafitadas, de boné e mochila às costas. Filmado, de certeza, depois das aulas da escola de artes que Joey frequentou. "Mas ninguém quis saber", disse a rir-se em entrevista ao SuperStarTV. Foi quando mudou o título do vídeo para "15 years old freestyle to world star" que a sua vida começou a mudar: as visualizações dispararam e é descoberto e contactado pelo seu atual manager Johnny Snipes, fundador da Cinematic Music Group. Aos 17 anos, acabado de terminar a escola, faz a sua primeira digressão com o rapper profissional Juicy J. E as notícias à volta de um jovem fenómeno começaram a sair: as letras impressionavam, os beats relembravam o hip-hop dos anos 1990 e no palco mostrava raça com o seu grupo Pro Era.
A partir dessa altura, Joey Badass nunca mais parou, dos concertos em clubs de Nova Iorque para palcos em festivais nos quatro cantos do mundo. Lançou a terceira mixtape, no verão de 2013, Summer Knights. O disco de estreia B4.DA.$$ (que pode ler-se Before da Money) chega em janeiro de 2015. E, apesar de a música ser tudo na vida de Joey Badass, o artista admitiu sempre que o gosto pelas artes também se estendia à representação. E a oportunidade aparece: participar na série Mr. Robot.
O segundo álbum, o mais recente, é lançado em abril de 2017 com o nome de All-Amerikkkan Bada$$, no qual está a sua música mais popular: "Devasted", premiada com Platinium, conta com mais de 25 milhões de visualizações no Youtube. A letra remete para uma altura em que o artista se sentia "arrasado", que nunca conseguiria chegar onde queria. "Mas agora estamos no caminho da grandeza, e tudo o que precisei foi paciência".
A verdade é que as suas músicas inspiram massas: as dificuldades do 'mundo' onde nasceu, a falta de interesse na escola e uma vontade de fazer aquilo de que mais gosta. Joey não quis tudo ao mesmo tempo. Foi humilde, não se perdeu pelo caminho e isso vê-se e ouve-se, seja nas letras ou na forma como é acessível com os fãs e com os amigos do bairro onde cresceu. "Apesar de estar a fazer este dinheiro todo, não me esqueço de onde vim".