Joaquín Fuentes é um dos 500 cidadãos de Espanha que vota nas legislativas
Joaquín Fuentes é um dos cerca de 500 habitantes de Olivença, cidade espanhola da raia, que podem votar nas eleições de domingo em Portugal, por terem dupla nacionalidade, noticia o Rayanos Magazine.
À caixa de correio de Joaquín chegou um envelope com as boas-vindas à democracia portuguesa. "A documentação já chegou. Primeiro uma carta a informar que pode votar e depois um boletim onde pode votar em quem quer que seja o primeiro-ministro português", explicou o "vizinho". "Eu costumo brincar com os meus colegas portugueses que será aqui que se vai decidir finalmente quem vai governar o seu país", acrescenta.
Nunca antes aconteceu, nota a plataforma digital. Este facto insólito é muito significativo para o município. "É uma maneira de formar parte de uma comunidade." Há uns sete anos começou a ser estudada a possibilidade de ser atribuída a dupla nacionalidade e hoje já há cerca de 500 habitantes também portadores do cartão de cidadão português. Outros 100 estão em processo de adquirir também a nacionalidade.
Segundo explica Joaquín Fuentes, os requisitos para conseguir essa dupla nacionalidade "são muito variáveis e podem ir desde os oliventinos nascidos em Olivença até aos descendentes de oliventinos nascidos na emigração passando por oliventinos que não são [naturais] daqui mas que atualmente residem na cidade". Para obter a cidadania, nalguns casos basta apresentar uma certidão de nascimento, enquanto noutros casos é necessário validar uma árvore genealógica.
Os habitantes deste município de Espanha - uma desavença velha de dois séculos, nunca claramente assumida pelos dois estados, cuja fronteira indefinida é mantida na cartografia do país com a mais antiga fronteira da Europa - que sejam portadores de dupla nacionalidade luso-espanhola serão os primeiros a poder exercer o seu direito de voto numas eleições legislativas em Portugal.
Era um objetivo assumido pela associação Além Guadiana, desaparecida há meses, de que fazia parte Joaquín Fuentes, e que pretendia, segundo a Rayanos, resgatar, promover e valorizar a herança cultural deixada pelos cinco séculos de domínio português. "De alguma maneira havia que contribuir para que muitos aspetos culturais e linguísticos fossem recuperados e creio que, nos 11 anos em que esta associação existiu, criámos um bom pilar, que foi criar consciencia entre as gentes de Olivença", aponta o oliventino. "Os nossos habitantes sentem-se plenamente identificados com a cultura portuguesa."
A campanha eleitoral não chegou a Olivença, ficou-se pela vizinha Elvas, os votos contam para o círculo da Europa e dificilmente as eleições se decidirão com estes 500 eleitores. Mas, para já, estes oliventinos entram para a história como os primeiros votantes da cidade numas eleições portuguesas.