Incêndio dominado. Kamov vão para Vila Real, Ferreira do Zêzere e Loulé

Em Vila de Rei o incêndio está dominado. Foram assistidas 41 pessoas desde sábado, dia em que o fogo deflagrou. Dos 17 feridos, um está em estado grave. Para quarta e quinta-feira espera-se uma subida das temperaturas o que aumenta a probabilidade de novos incêndios, avisa a Proteção Civil
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[Em atualização] A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) lançou esta terça-feira um aviso à população devido a um agravamento do risco de incêndio para quarta e quinta-feira, "face à subida gradual da temperatura máxima e à diminuição da humidade relativa".

O aviso à população da Proteção Civil também dá conta de "humidade relativa do ar com valores próximos de 10 a 20% nas regiões do interior e no sul durante a tarde, sem recuperação noturna em alguns locais do interior e sotavento algarvio".

Já para quinta-feira deverá ocorrer uma "ligeira descida das temperaturas máximas (2 a 6°C) e mínimas nas regiões do interior", sendo que a humidade relativa do ar terá valores inferiores a 35% no interior e sotavento algarvio e o vento vai soprar temporariamente forte nas terras altas a partir da tarde.

Prevê-se mesmo, a partir da tarde, "a possibilidade de ocorrência de períodos de chuva fraca nas regiões do Minho e Douro Litoral".

Perante este cenário, a Proteção Civil diz ser expectável um "aumento dos índices de risco de incêndio durante o dia de amanhã, em especial no interior Norte e Centro e na região do Algarve".

Incêndio em Vila de Rei dominado

No dia em que o incêndio que deflagrou no sábado em Vila de Rei (Castelo Branco), e que se propagou ao concelho de Mação (Santarém), foi considerado dominado pela Proteção Civil, soube-se que três helicópteros Kamov alugados pelo Estado para combate a incêndios florestais vão operar a partir de Vila Real, Ferreira do Zêzere e Loulé.

À Lusa, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) referiu que estes três Kamov alugados estão previstos no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) deste ano, que estabelece um total de 60 meios aéreos, incluindo um helicóptero para coordenação.

Contactado pela Lusa, o porta-voz da Força Aérea, que faz a gestão dos meios aéreos, referiu que os três helicópteros pesados ainda estão estacionados em Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, aguardando-se a "qualquer instante" que possam voar, mas não precisou quando.

O tenente-coronel Manuel Costa esclareceu que estes três meios pesados aguardam por "autorizações burocráticas".

Atualmente, faltam seis meios aéreos dos 60 previstos no DECIR, de acordo com a Força Aérea.

Além dos três Kamov, faltam ainda no combate aos incêndios os três helicópteros ligeiros do Estado, que estão parados "por questões técnicas", disse.

Terreno dificultou combate às chamas

No ponto de situação feito ao início da tarde, o comandante do Agrupamento Distrital do Centro Sul, Luís Belo Costa, afirmou que o incêndio em Vila de Rei estava dominado.

Mais de 900 operacionais continuam a combater as chamas nesta zona do país. Ao todo, 321 meios terrestres e seis aéreos estão envolvidos na operação.

"Nós seguimos o plano delineado [para a manhã de hoje] com todo o rigor e com os meios e os recursos previstos. Eventualmente, não com a velocidade de trabalho que gostaríamos de ter alcançado. A esta hora, o desejável era termos toda a manobra concluída e ainda não está concluída. Ainda assim, temos condições, a esta hora, de dar este incêndio como dominado", afirmou o responsável.

Segundo Belo Costa, continua a surgir uma ou outra reativação que "imediatamente são resolvidas", mantendo-se todo o "empenhamento e todo o esforço de trabalho de consolidação para extinguir totalmente todas as combustões lentas que existem e que geram estas pequenas reativações".

Para o comandante do Agrupamento Distrital do Centro Sul, a grande dificuldade no terreno foi a orografia característica deste território, não permitindo a velocidade de trabalho desejada.

Trabalhos a norte de Cardigos, concelho de Mação

Os trabalhos concentram-se a norte de Cardigos, concelho de Mação, onde a frente de incêndio parou, estando a ser empenhadas máquinas de rasto naquela zona para evitar complicações com reativações naquela zona.

As condições meteorológicas da parte da tarde "vão dificultar o trabalho", com um aumento da temperatura e da intensidade do vento e diminuição da humidade, mas as condições, vincou, "não serão tão agressivas" como foram na segunda-feira.

De acordo com Paula Neto, do Instituto Nacional de Emergência Médica, registaram-se 41 pessoas assistidas. Duas foram assisitidas na manhã de hoje fazendo aumentar para 17 o número de feridos (cinco são civis, os restantes operacionais a combater as chamas no terreno).

Um dos feridos encontra-se em estado grave e foi transferido para o Hospital de São José. "Está a recuperar favoravelmente", acrescentou Paula Neto durante o ponto de situação desta terça-feira, às 13:00.

Vários incêndios deflagraram no distrito de Castelo Branco ao início da tarde de sábado. Dois com origem na Sertã e um em Vila de Rei assumiram maiores dimensões, tendo este último alastrado, ainda no sábado, ao concelho de Mação, distrito de Santarém.

Proteção Civil queria dominar incêndio antes da tarde - e das condições atmosféricas adversas

O incêndio que deflagrou no sábado em Vila de Rei (Castelo Branco), que se estendeu até Mação (Santarém) ainda era motivo de preocupação na manhã desta terça-feira, mas já está "contido", anunciou a Proteção Civil em conferência de imprensa. "A situação está consideravelmente mais favorável relativamente ao final do dia de ontem [segunda-feira]. 90% do incêndio está em resolução", garantiu o comandante do Agrupamento Distrital do Centro-Sul, Luís Belo Costa. Apesar de já não considerarem a existência de frentes ativas, por não representarem "uma ameaça no que respeita à propagação", alertam que a zona ainda "é um braseiro".

A mesma fonte da Proteção Civil garantiu que todos os meios estão empenhados em resolver o que falta "durante o período da manhã". Até porque ao início da tarde a situação meteorológica pode complicar-se, à semelhança do que tem acontecido nos últimos dias. "O dia, no que respeita aos indicadores meteorológicos, vai ser semelhante aos últimos, com temperaturas elevadas e vento intensificado a partir da hora de almoço", anunciou.

Ao contrário do que se podia esperar, a chuva que se fez sentir no início desta semana em Castelo Branco "não teve grande impacto". Já as trovoadas registadas nesta zona provocaram novos focos de incêndio. "Só na periferia, na zona da serra da estrela, tivemos três incêndios. Um deles ficou em resolução no início da manhã", disse o comandante.

O fogo está a ser combatido maciçamente por bombeiros, Exército e Proteção Civil. Na segunda-feira, a Proteção Civil pediu o apoio das Forças Armadas para operações de vigilância e rescaldo dos fogos que estão a lavrar em Vila de Rei. Foram destacados para esta vila quatro pelotões de 20 militares cada, dois da Marinha e dois do Exército.

De acordo com o site da Proteção Civil, o incêndio está a ser combatido atualmente por mais de mil operacionais, cerca de 300 meios terrestres e dois aéreos. Durante esta segunda-feira, estiverem empenhados no combate 17 meios aéreos.

Ainda no domingo, o Comandante do Agrupamento Centro Sul da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) anunciava que ainda o incêndio tinha já "cerca de 60% da sua área dominada", mas alertava para a dificuldade em controlá-lo. O comandante Belo Costa alertava que o trabalho dos operacionais está a ser "dificultado pelo tipo de terreno".

Mão criminosa

O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, garantiu que está em curso uma investigação às causas dos incêndios que lavram em várias cidades. Uma "estranheza" que já tinha sido levantada pelo presidente da câmara de Cernache de Bonjardim.

A Polícia Judiciária (PJ) e a GNR detiveram este domingo um homem de 55 anos, suspeito de ser o autor do incêndio florestal que deflagrou junto a Castelo Branco. "O suspeito, usando chama direta, colocou um foco de incêndio em zona florestal povoada com pinheiros e mato, dentro de uma vasta mancha florestal, que teria proporções mais gravosas caso não tivesse havido uma rápida intervenção dos bombeiros de Castelo Branco", lia-se no comunicado da PJ.

Relativamente ao fogo que deflagrou na Sertã, a PJ recolheu indícios e elementos de natureza criminosa. Nomeadamente, artefactos pirotécnicos, que poderão estar na origem do incêndio.

Autarca de Vila de Rei pede mais meios

O presidente da Câmara de Vila do Rei defendeu que o reforço dos meios de combate aos incêndios no Centro do país deve ser acompanhado por uma reflexão sobre a estratégia de proteção das populações.

O autarca frisou que o que está em causa "não é a atuação deste governo ou de qualquer outro governo", mas antes uma preocupação séria com o destino da população de um pequeno concelho do interior, que tem sido devastado pelas chamas ano após ano.

"Chega", desabafou o autarca.

Ricardo Aires prefere "não alimentar polémicas" com o primeiro-ministro, António Costa, que, na segunda-feira, disse que os autarcas são os "primeiros responsáveis pela proteção civil em cada concelho", em resposta a críticas à falta de meios, feitas no terreno por autarcas de Vila de Rei e Mação.

Ministro garante "cumprimento rigoroso" das orientações estratégicas

"Houve um cumprimento rigoroso [nos incêndios que começaram no sábado na região Centro] daquelas que são as orientações estratégicas definidas no modelo de combate aos incêndios rurais: prioridade absoluta à salvaguarda da vida humana, à salvaguarda das populações, das aldeias, das zonas residenciais", afirmou Eduardo Cabrita, em Cardigos, Mação, no distrito de Santarém.

O governante, que visitou esta terça-feira o posto de comando de Cardigos, na sequência do incêndio que começou no sábado em Vila de Rei, distrito de Castelo Branco, e que depois alastrou a Mação, adiantou que a "prioridade absoluta" é a coordenação de esforços na mobilização para o combate.

Eduardo Cabrita manifestou ainda "toda a solidariedade" às populações mais diretamente atingidas nos concelhos de Sertã e de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, e de Mação.

Mais de 9500 hectares foram consumidos pelas chamas

Os dados do EFFIS mostram também que os incêndios florestais consumiram este ano 18 606 hectares de floresta, enquanto que a média da aérea ardida entre 2008 e 2018 foi de 24.622.

Os dados provisórios, disponíveis na página da internet do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), indicam que, entre 1 de janeiro e esta terça-feira, ocorreram 6091 incêndios rurais, que provocaram 11602 hectares de área ardida.

O país do Mediterrâneo com mais incêndios

Um estudo da organização não-governamental World Wide Fund for Nature revelou que Portugal é o país do Mediterrâneo mais devastado pelos incêndios, onde se regista uma média de 22 600 por ano.

"Portugal é, de longe, o país mediterrânico mais afetado pelos incêndios florestais: nos últimos 30 anos é o país que enfrentou o maior número de sinistros e teve mais hectares queimados (...) Em média, um ano, mais de 3% de sua área florestal é queimada", pode ler-se.

A seguir a Portugal surge Espanha, com cerca de 12 mil incêndios por ano, e a Grécia, com nove mil.

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