"Somos todos amigos e humoristas, costumávamos juntar-nos e falar sobre como o humor estava estagnado. Queríamos fazer algo diferente e pensámos que a internet seria um bom espaço", conta o ator, sobre o princípio do Porta dos Fundos, em agosto de 2012. A ideia era fazer um humor mais irreverente e, ao mesmo tempo, mais próximo da vida das pessoas. "É um humor mais coloquial, quase da rotina das pessoas. No humor, sobretudo na televisão, há sempre um exagero. E nós procuramos o humor naquelas coisas de todos os dias, situações com que todos se podem identificar.".Mas o Porta (eles usam o masculino 'o' para referir o grupo) marcou a diferença por outras coisas também. Por um lado, a rebeldia. "A televisão aberta ainda não é o espaço para fazer este tipo de humor", explica ao DN o ator Marcos Veras. "A televisão trabalha para as massas, é um espaço onde você tem de filtrar." Na internet os humoristas podem usar linguagem "mais pesada" e até palavrões, podem falar de tudo, seja sexo ou religião, sem constrangimentos. "O humor não serve só para fazer rir, está aí também para denunciar e colocar o dedo na ferida. O nosso lema é: é proibido proibir. E essa deveria ser a regra de todo o humor. O humor não pode ter amarras, não há temas proibidos." O único limite é o bom senso de cada um e esse, como se sabe, é muito variável. "Se for engraçado nós fazemos" - esse é o único critério. Daí que o Porta já se tenha envolvido em várias polémicas, seja porque brincar com a corrupção na polícia ou no governo, seja porque brinca com Jesus e com a fé..Veja 'Dura', um dos sketches mais polémicos do grupo, sobre a corrupção policial:.[youtube:DyPb15CHdew].Além do cuidado com os textos, desde o início ficou claro que o grupo se preocupava também com a qualidade do próprio vídeo, tendo como diretor um realizador de cinema, Ian SBF. "Normalmente, os vídeos na internet tinham muito má qualidade, eram feitos com telemóvel. E nós inovámos também aí", explica Marcos Veras. E conclui: "O Porta dos Fundos profissionalizou o humor na internet e hoje em dia é uma referência para todos. O Porta trouxe uma frescura ao humor e levou até a televisão a reagir, a se mexer, chamou a atenção para o facto de se estar a fazer um humor antigo, preguiçoso, e é bom ver que há novos programas surgindo, que o Porta foi uma influência muito positiva.".O canal Porta dos Fundos foi o primeiro no Brasil a atingir a marca de um milhão de assinantes em menos de um ano de existência. Neste momento, o Porta já publicou mais de 200 vídeos e alguns deles, como o 'Na Lata', têm mais de 15 milhões de visualizações. E também já ganhou alguns prémios..Veja 'Sobre a Mesa', um dos sketches mais populares do Porta:.[youtube:6EYmKAs7mzc].Os quatro argumentistas do Porta dos Fundos - António Tabet, Fábio Porchat, Gregorio Duvivier e Gabriel Esteves - encontram-se todas as segundas-feiras para discutir os textos. "Eles jogam textos fora, fazem textos novos, debatem muito, fazem leituras, já pensam na escalação do elenco", explica Marcos Veras. "Um dos segredos do Porta é o roteiro. Os roteiros são muito bons, os atores quase nem têm que improvisar.".O grupo começou por publicar no seu canal no You Tube dois vídeos (de 2 a 3 minutos cada) por semana, às segundas e quintas, mas há dois meses começou a publicar mais um vídeo ao sábado. Além dos 'making of'. E, de vez em quando, também fazem uns "especiais", mais longos, como no Natal ou como é o caso da série "Viral". O ritmo de trabalho chega a ser aluncinante..Todas as terças e quintas há gravações. O Porta tem um elenco mais ou menos permanente - que inclui Tabet, Porchat e Duvivier e ainda Marcos Veras, Julia Rabelo, Clarice Falcão, João Vicente, Leticia Lima, Luis Lobianco, Rafael Infante e Gabriel Totoro, entre outros. E embora todos eles tenham outros projetos, no teatro, na televisão, na stand up ou no cinema, todos trabalham em grande sintonia, dando ao Porta uma identidade muito forte. "Gravamos dois ou três sketches por dia, num processo muito bacana e divertido, e vamos sempre com um mês de avanço, não podemos correr o risco de não ter material para pôr online.".Depois de dois anos a recusar todos as propostas para ir para a televisão - porque não queriam estar sujeitos aos constrangimentos das audiências ou dos anunciantes - o grupo assinou recentemente um contrato com a Fox. Vão começar por repor alguns dos sketches que já estão na internet, mas agora no formato de programa, e, no próximo ano, querem iniciar uma série totalmente inédita. "Como é um canal fechado, por cabo, não há as restrições de um canal aberto. Além disso, o programa vai passar num horário que nos vai permitir manter o nosso humor", garante Marcos Veras. "As pessoas que nos querem ver na televisão sabem como nós trabalhamos e é isso que querem continuar vendo. E nós queremos continuar a ter toda a liberdade. Não vai haver censura nem qualquer limitação à nossa criatividade, pelo contrário, vamos ganhar uma estrutura para fazer ainda melhor.".Depois do sucesso dos espetáculos de Fábio Porchat em Portugal, no ano passado, o grupo apresenta esta semana em Lisboa o Festival Porta dos Fundos. Hoje, Porchat apresenta no Campo Pequeno o seu espetáculo de stand up comedy 'Fora do Normal', prometendo no final chamar todo o elenco para um "bate papo". .Na quinta-feira e no sábado, os humoristas (Porchat, Tabet, Duvivier, Leticia Lima, Julia Rabelo, Clarice Falcão, João Vicente, Marcos Veras e Luis Lobianco) apresentam os seus vídeos e conversam com o público em várias sessões, tendo como convidados alguns humoristas portugueses (Ricardo Araújo Pereira, César Mourão, Salvador Martinha e o guionista João Quadros).