Como descreve estes últimos quatro anos, desde que foi detido em novembro de 2014? Foram quatro anos de pesadelo que ainda hoje não percebi porque aconteceram. O próprio tribunal reflete isso quando diz que não tem quaisquer dúvidas de que não cometi nenhum crime. Passados estes anos, não sei porque fui detido, não sei o quê ou quem esteve por detrás. É tudo tão hilariante, que não faz sentido nenhum. Primeiro fui acusado de corrupção por ter recebido duas garrafas de vinho [Pêra-Manca] em troca de favores a um empresário. Depois, quando o próprio MP recuou nessa presunção, optou por alegar que tinha acedido aos favores pedidos pelo ministro para me manter no cargo. Ora, toda a gente que me conhece, que trabalha comigo, sabe que isso não tinha qualquer sentido. Estava a meio do meu terceiro mandato e não iria fazer outro. Era público que queria sair e tinha vários convites internacionais. Estava há 14 anos na direção do SEF..E que explicação pode haver para o que aconteceu? Numa primeira análise, tendo em conta a quantidade de erros grosseiros em relação aos factos que me eram imputados e que o próprio tribunal assinalou, diria que foi incompetência. O problema é que a incompetência quando é demais já é má-fé. E por isso acho que houve mesmo má-fé e vontade de me prejudicar..E quem aponta como responsáveis diretos? O Ministério Público e a Polícia Judiciária, que conduziram a investigação. Esta investigação é uma vergonha. Enquanto polícia, que teve experiência em investigações criminais, nunca pensei que alguém pudesse investigar e acusar desta forma.Mas o trabalho do MP e da PJ foram validados por um juiz, na fase de inquérito, e depois na fase de instrução - por sinal o mesmo, o Dr. Carlos Alexandre... Este processo só teve um verdadeiro juiz no julgamento. Até aqui foi apenas um prolongamento do MP. Sou licenciado em Direito e estou a fazer doutoramento e sempre me ensinaram que o juiz de instrução era o juiz das garantias. Isso não existiu neste caso..O que perdeu ao longo destes anos, quer na sua carreira no SEF quer do ponto de vista emocional, é irrecuperável? Este processo estragou-me a vida pessoal e profissional. Tenho dois filhos adolescentes que sofreram muito e isso são consequências irreparáveis. Felizmente tenho uma situação familiar sólida e muitos, muitos amigos, que sempre me apoiaram. Esta decisão do tribunal produz em mim um misto de satisfação, porque a justiça funcionou, mas também me vinca ainda mais a pergunta: porquê? Porque é que isto me aconteceu? Quanto ao futuro, profissionalmente falando, não sei. Não espero nada. O que queria era que isto tivesse mesmo sido um pesadelo verdadeiro e acordar. Quero que me deixem agora em paz. Sou funcionário do SEF no topo da carreira, em primeiro lugar na classificação dos coordenadores superiores. Estou disponível para servir naquilo em que precisarem de mim..Para voltar à direção do SEF? Isso nem me passa pela cabeça. Estes quatro anos foram muito duros do ponto de vista emocional. Só quero que me deixem em paz.