Helicóptero: autoridades alertadas mais de uma hora após a queda

A confirmação das quatro vítimas mortais foi dada pelo responsável das operações já depois das duas horas da madrugada. A bordo seguiam dois pilotos, um médico e um enfermeiro. As operações de busca envolveram 203 pessoas apoiados por 35 viaturas.
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"Em primeiro lugar, dizer-vos que esta demora se deve ao protocolo que normalmente é feito e para avisar as famílias antes de se dar publicamente a notícia. Enviamos os sentidos pêsames às famílias. Encontrámos os destroços do aparelho e junto deles os ocupantes sem vida, dois deles encontravam-se na cabine do aparelho e os outros dois do lado de fora. Foram encontrados a cerca de 700 metros a sul da capela de Santa Justa, na freguesia de Valongo", disse o comandante distrital da Proteção Civil, Carlos Rodrigues Alves.

O helicóptero de emergência médica foi localizado às 01:30, na Serra de Pias, informou posteriormente o INEM em comunicado,

Carlos Alves acrescentou que estão a ser atividades todas as autoridades competentes nesta matéria para a remoção dos corpos.

Os destroços do aparelho e os corpos dos ocupantes foram encontrados pouco tempo depois dos responsáveis da Proteção Civil fazerem o primeiro balanço das operações de socorro, às 01:00 deste domingo. O segundo brefieng iniciou-se às 02:10.

Receberam a informação da queda do aparelho às 20:15 de sábado e, 20 minutos depois, avançaram para o local onde terá sido o primeiro embate da aeronave, na zona de Couce, em Valongo, disse no primeiro balanço Carlos Rodrigues Alves.

O último registo do helicóptero foi às 18:30 e as autoridades apenas foram informadas do acidente uma hora e 45 minutos depois, o que levanta questões sobre a rapidez na prestação de socorro. Questionado sobre esta matéria, Carlos Alves, disse; "As operações de socorro, no que diz respeito à Autoridade da Proteção Civil, desenvolveram-se a partir do alerta que nos foi dado às 20;15, é o que posso dizer".

Presentes em Couce, Valongo, os secretário de Estado da Proteção Civil, José Neves, e da saúde, Raquel Duarte.

José Neves não quis comentar a polémica: "Logo que o comando operacional do Porto teve conhecimento desenvolveram os meios necessários para se dirigirem ao local, um terreno de difícil acesso e ainda sem indicação precisa onde estaria a aeronave".

Perante as perguntas dos jornalistas, repetiu: "O que posso dizer é o que o comandante das operações referiu, a partir das 20:15, quando a proteção civil soube de evento. deslocaram-se para o terreno". Acrescentou que "as autoridades competentes terão que investigar e avaliar o que se passou e irão ser realizadas as necessárias auditorias", um processo normal dado tratar-se de um acidente. "Tudo funcionou como devia ser", disse.

As operações envolveram "alguma complexidade, devido às dificuldades climáticas e a zona que nos foi indicada é acidentada. Temos de manter as pessoas que fazem as operações de socorro em segurança", referiu inicialmente Carlos Rodrigues Alves também responsável pelo comando em Valongo.

Explicou que no total das 203 pessoas envolvidas nas buscas estão 134 operacionais que percorrem com precaução o perímetro onde tiveram a indicação de que a aeronave caiu, sendo apoiados por 35 viaturas para as deslocações. São operacionais das corporações de bombeiros, das autoridades policiais e do INEM.

A aeronave estava a regressar à base, em Macedo de Cavaleiros. O último contacto com o helicóptero foi registado por volta das 18.30, na zona de Valongo.

Tinha realizado uma missão de emergência médica de transporte de um doente grave para o Hospital de Santo António, no Porto.

"A ocorrência de uma situação como a verificada - no exercício da missão diária das equipas do Instituto, com a qual procuram precisamente salvar vidas - é motivo de profunda tristeza e pesar. É naturalmente um momento particularmente difícil e extremamente doloroso para a Instituição e para os seus profissionais, agradecendo-se desde já as centenas de mensagens de solidariedade recebidas",referem os responsáveis do INEM.

Ocorreu "numa altura em que se verificavam condições meteorológicas bastante adversas. Caberá às autoridades competentes desenvolver um inquérito para apurar com detalhe as causas do acidente, cujos contornos não são ainda neste momento conhecidos".

O doente em questão era uma mulher com 76 anos de idade, com problemas cardíacos graves. O transporte teve início às 15:13 horas, "altura em que o helicóptero levantou voo da sua base para o Hospital de origem do doente, tendo o mesmo sido entregue aos cuidados das equipas médicas do hospital de Santo António cerca das 18h10".

O helicóptero era um Agusta A109S, operado pela empresa Babcock, na sequência de um concurso público internacional.

O serviço de helicópteros de emergência médica do INEM foi criado em 1997, tendo desde essa altura efetuado cerca de 16 370 transportes de doentes urgentes, sem que se tenha verificado qualquer incidente grave como o agora verificado.

Foi equacionado o uso de um helicóptero da Força Aérea Portuguesa, mas esta opção acabou por ser abandonada devido a condições meteorológicas "muito más".

O tenente-coronel Manuel Costa, porta-voz da FAP, referiu que o helicóptero EH-101 Merlin, que saiu da base do Montijo pelas 21.45 de sábado, chegou a estar no local onde decorrem as buscas, próximo da aldeia de Couce, em Valongo, mas teve de abandonar o local, já que as condições atmosféricas não permitiam a continuação das operações.

Em 2017, piloto morreu após queda de helicóptero de combate a incêndio

Em agosto de 2017, durante o combate a um incêndio em Castro Daire, Viseu, um helicóptero caiu na zona de Cabril. O piloto, que era o único ocupante do aparelho, não sobreviveu. Tinha 51 anos, nacionalidade portuguesa e experiência como piloto de combate a incêndios. Tinha acabado de largar no terreno uma equipa de GIPS da GNR.

O conselho de administração da Everjets, empresa para a qual trabalhava o piloto, "decidiu instaurar um inquérito às circunstâncias do acidente" .

A empresa apontava, na altura, que era "crível, pelo que se sabe, que o helicóptero tenha colidido em cabos de alta tensão, despenhando-se e incendiando-se de imediato", mas sublinha que "só após uma investigação será possível determinar com exatidão as causas e circunstâncias do acidente".

O helicóptero estava sediado no Centro de Meios Aéreos de Armamar. Tinha feito duas descargas de água antes do acidente e integrava este tipo de missões desde 2013, o mesmo ano em que a queda de um helicóptero em Monchique causou a morte a um dos passageiros da areonave. Do acidente resultaram ainda um ferido grave e um ferido ligeiro.

A hélice do helicóptero embateu num cabo de média tensão e o aparelho caiu.

A equipa que seguia a bordo do aparelho recolhia imagens para a EDP. O helicóptero era propriedade da companhia Heliportugal. Para além de filmagens aéreas, a empresa prestava serviços de combate a incêndios florestais, trabalhos em alta tensão, transporte de passageiros, heli-ambulância e operações de offshore.

Helicóptero do INEM esteve para sair de Macedo de Cavaleiros

Na fundamentação da ação judicial, os autarcas contestavam a decisão de deslocalizar o helicóptero, argumentando que o Estado e as entidades que o representavam estavam a violar os protocolos celebrados em 2007 com o Ministério da Saúde.

O meio aéreo e o reforço da rede de socorro e emergência foram as contrapartidas dadas à região pelo encerramento do serviço de atendimento permanente à noite em todos os centros de saúde.

O INEM avançou, no final de 2012, com uma reorganização da frota aérea de emergência médica que previa a retirada do helicóptero de Macedo de Cavaleiros.

A intenção foi alvo de manifestações populares e da contestação dos autarcas que conseguiram manter até hoje a aeronave na região, apesar de as decisões judiciais permitirem ao INEM deslocalizá-la quando entender.

O helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros é o que mais saídas regista entre a frota aérea de emergência médica e serve a região do país que mais afastada se encontra dos hospitais de referência.

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