"Haverá menos leitores mas serão melhores"
A abertura do Festival Literário da Madeira começou com uma declaração por escrito da única escritora ausente, Svetlana Alexievich. A Prémio Nobel fez três tentativas para chegar ao Funchal mas os ventos foram mais fortes, daí que na sua mensagem para os mais de duzentos de espetadores que estavam no Teatro Baltasar Dias tenha dito:"'Espero voltar a encontrar essa Madeira tão inacessíve"'.
Hoje, antes de dar por encerrado o evento, o responsável garantiu que mantém todo o interesse na presença da Prémio Nobel na próxima edição do festival. Francesco Valentini, refere, já contactou a agente da escritora para renovar o convite para a 8 edição e está confiante que "Svetlana Alexievich vai honrar a sua palavra".
Antes da última sessão de ontem subiram ao palco as escritoras Eimear Mcbride e Tatiana Salem Levy, seguindo-se o norte-americano Adam Johnson, autor de Vida Roubada, um relato sobre a Coreia do Norte que lhe valeu o prémio Pulitzer em 2013, e Miguel Sousa Tavares.
Uma dupla de autores que não ignorou o tema do festival, Literatura e Web, e fez questão de expressar opiniões sobre a questão. Para Johnson, a massificação dos smartphones está a limitar o diálogo entre pessoas em países como a Coreia do Sul ou o Japão, um futuro que é seguido por demasiados países. Para Sousa Tavares, a literatura deixou de ter como objetivo o testemunho por culpa da vulgarização e massificação da informação na Internet e nas redes sociais.
Johnson referiu que a maioria dos autores estão a escrever romances históricos para evitar o esquecimento. Uma mudança com uma grande velocidade que vivemos no presente, acrescentou Sousa Tavares, pois o leitor só chega ao romance se tiver um compromisso com um livro. No entanto, profetizou Sousa Tavares, "cada vez haverá menos leitores mas serão melhores".
Apesar de ter escrito sobre o país mais diferente no mundo, Adam Johnson considera que até os seus habitantes partilham dos mesmos valores do que o resto da humanidade. "Mas é o único país onde a mentira e a verdade estão fundidas", disse. "O que atrai qualquer escritor não é a normalidade mas a loucura", acrescentou Sousa Tavares.