Há um novo primo do T-Rex e foi descoberto na praia
Há um novo dinossauro na família do famoso T-Rex. Chama-se Vectaerovenator inopinatus, em alusão ao formato dos seus ossos, cheios de espaços vazios, e viveu no período Cretáceo, há cerca 115 milhões.
O estudo dos seus ossos fossilizados, por um grupo de investigadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, mostra que ele era um terópode (um dinossauro bípede carnívoro, que tinha uns respeitáveis quatro metros de comprimento. Mas o que sobretudo marca esta descoberta é que ela foi tudo menos banal.
A história desta nova espécie começa em 2019, numa pequena praia da ilha de Wight, no Reino Unido, quando Robin Ward, um paleontólogo amador de Stratford-upon-Avon (famosa por ter sido a terra natal de Shakespeare) ali passava férias com a família.
Na praia de Shanklin, Ward acabou por encontrar muito mais do que um aprazível areal para ir a banhos e descansar. Num dos seus passeios na zona à beira-mar encontrou dois ossos fossilizados que, percebeu logo, não eram nada comuns.
"Pensei que eram especiais, por isso levei-os comigo quando visitámos o Dinosaur Isle Museum [museu local dedicado aos dinossauros e à paleontologia] ", conta Robin Ward, citado num comunicado da Universidade de Southampton sobre o achado.
"Eles perceberam de imediato que aquilo era algo raro e perguntaram-me se poderia doar o achado para ser investigado". Foi o que fez.
Mas o tesouro ainda não estava completo. Em poucas semanas, um outro veraneante, James Lockier, de Spaldind, no Lincolnshire, e um habitante local, Paul Farrell, haveriam de descobrir mais dois ossos, completando assim o conjunto de quatro cujo estudo permitiu agora enriquecer o puzzle da evolução com uma nova espécie de dinossauro.
Conta James Lockier, que também é um amador veterano de fósseis: "Quando a encontrei numa zona pouco frequentada de Shanklin, pareceu-me diferente de todas as vértebras de réptil marinho que tinha visto antes." A sua intuição não podia estar mais certa.
Paul Farrel, o único habitante da ilha nesta história de felizes achados, pensou logo em dinossauros quando, pela mesma altura, encontrou o fóssil no areal. Afinal, a ilha de Wight é uma região conhecida pela sua riqueza paleontológica - tal como acontece na Lourinhã, em Portugal, aquela é um das regiões da Europa mais ricas em fósseis de dinossauros.
"Caminhava ao longo da praia, a olhar para as pedras, quando dei com o que parecia um osso de dinossauro", lembra Farrel. O que não podia supor na altura, porém, é que a sua descoberta iria ajudar a descobrir uma nova espécie há muito extinta. "Foi uma emoção sabê-lo", confessa.
O Vectaerovenator inopinatus foi estudado e identificado por investigadores da Universidade de Southampton, a partir dos quatro fósseis, que são vértebras do pescoço, das costas e da cauda, possivelmente pertencentes ao mesmo animal.
De acordo com os cientistas, o facto de os quatro fósseis terem sido encontrados na mesma zona, e com poucas semanas de diferença, é uma indicação forte nesse sentido.
Uma das características que impressionaram os paleontólogos nestes fósseis é que eles contêm vários espaços ocos, o que permite colocá-los na linhagem das modernas aves.
"O registo de dinossauros terópodes do Cretáceo Médio na Europa não é muito grande, por isso é fantástico termos conseguido ampliar o nosso conhecimento sobre a diversidade de espécies de dinossauros daquele período", afirmou Chris Barker, o principal autor do estudo, citado no comunicado da sua universidade.
"Embora o material fosse suficiente para determinar o tipo de dinossauro, o ideal era encontrar mais fósseis para podermos refinar a nossa análise", afirmou o mesmo investigador, sublinhando a importância da atitude das pessoas que fizeram o achado para o avanço da ciência.
"Estamos muito agradecidos pela doação destes fósseis à ciência e pelo importante papel que a ciência-cidadã pode desempenhar na paleontologia", afirmou.
Martin Munt, curador do Dinosaur Isle Museum, onde os fósseis estão a partir de agora em exposição, é da mesma opinião.
"Esta notável descoberta por três pessoas diferentes de fósseis que estão relacionados entre si vem aumentar a nossa grande coleção. É fantástico poder agora confirmar a sua importância e mostrá-los ao público."
Segundo a Universidade de Southampton, o estudo sobre os fósseis da praia de Shanklin vai, entretanto, ser publicado na revista científica Papers in Paleontology.