Se as europeias fossem um ranking de eurodeputados, Marinho e Pinto seria o surpreendente número um entre os cabeças-de-lista das várias candidaturas às eleições de 26 de maio. No entanto, se olharmos para a produtividade de cada deputado no Parlamento Europeu, João Ferreira é o primeiro entre os portugueses que lideram essas listas nas próximas eleições europeias..De acordo com o MEP Ranking, uma ferramenta que avalia a atividade de cada deputado do Parlamento Europeu, publicado em fevereiro, a partir de vários parâmetros de atividade e intervenção, os dez deputados mais bem cotados são o social-democrata José Manuel Fernandes (133 pontos); o comunista Miguel Viegas (98,7); António Marinho e Pinto (98,5), do PDR; João Ferreira (95,8), que se recandidata como número um do PCP; Ricardo Serrão Santos (77,4 pontos), eleito pelo PS; Paulo Rangel (73,8), que será de novo o cabeça-de-lista do PSD; como Marisa Matias (63,1) pelo BE; a socialista Maria João Rodrigues (62,3); o comunista João Pimenta Lopes (53,7); e Ana Gomes (47,6), do PS..De fora dos dez primeiros lugares - em 21 deputados que Portugal tem no Parlamento Europeu - e que se candidatam como cabeças-de-lista está Nuno Melo, do CDS, em 19.º lugar..Fora de qualquer conta fica o socialista Pedro Marques, o único número um de uma lista dos partidos já representados em Bruxelas que é candidato pela primeira vez. Também de fora num próximo Parlamento Europeu ficam os três socialistas mais bem classificados: Serrão Santos, Maria João Rodrigues e Ana Gomes (esta por opção pessoal) não constam das escolhas do PS de António Costa. Francisco Assis, que foi cabeça-de-lista em 2014, é o 18.º português, mas também fica de fora em 2019..No PCP, Miguel Viegas também já não conta no próximo hemiciclo europeu: nos cinco primeiros candidatos da CDU não está aquele que foi o segundo deputado mais bem classificado entre os portugueses e o melhor na produtividade (é o 26.º na classificação global). Viegas foi aquele que mais discursos e perguntas escritas fez entre os 21 eurodeputados portugueses. E foi o sexto nestas duas categorias entre 750 deputados dos 28 países..A organização que promove o ranking explica que o algoritmo usado"leva em consideração quatro categorias de atividades: relatórios, declarações, funções e participação" nas reuniões e nas votações. Mas cada uma destas categorias tem um peso distinto..Em Bruxelas, muitos eurodeputados têm levantado sérias objeções a este ranking, desde que o mesmo surgiu (muito à semelhança dos rankings anuais das escolas), por se limitar a uma avaliação quantitativa, deixando na sombra muito do trabalho de bastidores feito pelos deputados..Já em 2015, o site Politico dava conta do desagrado de vários parlamentares. "Haverá sempre deputados que não ficarão satisfeitos com o nosso trabalho, mas estamos apenas a mostrar informações públicas", explicava-se então Miquel Català, o engenheiro informático catalão que é o responsável desta ferramenta. "Se alguém estiver realmente interessado em conhecer esta informação pública, pode obtê-la também no site do Parlamento Europeu. Nós não estamos a inventar nada.".O MEP Ranking limita-se a compilar a informação e a ordená-la em várias classificações, estabelecendo o ranking. É possível avaliar um deputado nas questões escritas e orais, moções, relatórios (como relator e como relator-sombra), emendas a relatórios, pareceres (que também se desdobra como autor principal e autor-sombra), discursos e declarações, com cada uma destas avaliações a ter um peso diferente..Um deputado do Partido Popular Europeu (PPE) tem sempre mais hipóteses de ser relator do que um da ENF (Europa das Nações e da Liberdade), o que enviesa os números, explicam ao DN fontes parlamentares em Bruxelas. Por outro lado, os deputados de grupos minoritários podem apresentar mais emendas do que os outros..Membro da importante Comissão dos Orçamentos, José Manuel Fernandes foi relator em 28 documentos (20 como relator principal, oito como sombra). Outro exemplo dado: Maria João Rodrigues foi relatora em apenas três relatórios mas um deles é do "pilar europeu dos direitos sociais", apontado como um dos mais estruturantes para os próximos anos na Europa..Os cabeças-de-lista à lupa.No conjunto das quatro categorias de atividades, António Marinho e Pinto, do Partido Democrático Republicano, é o cabeça-de-lista mais bem classificado: é o terceiro entre os portugueses, com os seus 98,5 pontos. A alta classificação no conjunto de relatórios, declarações, funções e assiduidade, que atribui a 77.ª posição em 750 deputados do Parlamento Europeu a Marinho e Pinto, reflete-se numa presença em 255 de 275 sessões e em 9617 votações num total de 10 044 (os dados reportam-se a 8 de abril)..No entanto, avaliando à lupa outros rankings, o deputado que começou por ser eleito pelo MPT e depois saiu e fundou o PDR ocupa posições bem mais modestas: é 106.º em relatórios; 185.º em pareceres; 283.º em emendas aos relatórios; 329.º nas perguntas escritas; 387.º em declarações; 469.º em moções; e 489.º nos discursos. Também na produtividade, Marinho e Pinto ocupa a 339.ª posição..O comunista João Ferreira é aquele que apresenta a melhor posição no índice de produtividade entre os cabeças-de-lista que já são deputados no Parlamento Europeu: é o 54.º entre os 750. (Os três eurodeputados do PCP são os mais produtivos entre os portugueses: por esta ordem, Viegas, Ferreira e Pimenta Lopes.).Ferreira é dos que mais perguntam: as 483 questões escritas valeram-lhe o 12.º lugar entre todos os deputados de Bruxelas. Os 1051 discursos também ajudaram, apesar de, no conjunto, o peso de umas e outros ser inferior a moções, relatórios, pareceres e declarações..Paulo Rangel, do PSD, que com os seus 73,8 pontos é o terceiro melhor cabeça-de-lista nesta classificação, surge no ranking geral em 150.º. É a assiduidade às sessões plenárias e nas votações que estraga a prestação do social-democrata e se descontássemos os pontos obtidos com as suas funções, Rangel, vice-presidente do Parlamento Europeu, afundava-se no 19.º lugar..Entre as atividades avaliadas, Rangel ocupa o 102.º nos discursos, mas em todas as outras categorias o melhor que consegue é o 490.º lugar nos pareceres e o pior, o 733.º, nas declarações..A bloquista Marisa Matias é a cabeça-de-lista que se segue, logo depois de Paulo Rangel, mas ocupando a 200.ª posição entre os deputados europeus..Na produtividade sobe para o 175.º lugar (é sexta entre os 21 portugueses), reflexo de uma atividade muito homogénea nas várias categorias avaliadas: 59.ª nas emendas a relatórios, 111.ª nos relatórios, 187.ª nas moções e 190.ª nas declarações; a pior posição que ocupa é a 280.ª nos discursos..Por fim, Nuno Melo é o menos bem cotado entre os cabeças-de-lista: 19.º entre os portugueses e 463.º entre todos os eurodeputados, tem um índice de produtividade que o relega para 235.º - os anos de 2017 e 2018 mostram uma linha bem menos produtiva do deputado do CDS..Melo até está bem classificado nos discursos (56.º entre os 750 eurodeputados) e nas questões escritas (114.º), mas estes são pontos que têm um peso menor. Por exemplo, o centrista está em 395.º lugar nos relatórios e em 422.º nas moções..Como se mede a produtividade.O método usado para o MEP Ranking é esclarecido no site da organização MEP Software, que explica que o algoritmo foi melhorado em 2017, abrangendo todos os parâmetros públicos de atividade dos deputados. No caso da produtividade, a ferramenta estabelece o índice pelo peso que dá às diferentes atividades. As emendas (0.07), os discursos (0.28), as questões (1.00) e as moções (1.11) têm um peso inferior ao dos relatórios (4.98), pareceres (6.30) e declarações (20.47). O valor de referência é o das questões, por serem "a atividade mais simples"..Estalou o verniz entre antigos aliados.Uma notícia no jornal O Minho, que dava José Manuel Fernandes (PSD) como o mais "produtivo" entre os 21 eurodeputados portugueses, enfureceu Nuno Melo, que num "direito de resposta" ao jornal defendeu que o ranking era fraudulento e que os deputados pagavam para ficar mais bem posicionados. Estalou o verniz entre os antigos parceiros de coligação: Fernandes replicou, Melo contrapôs e Fernandes voltou a insistir. A MEP Software acusou Melo de "conduta imprópria de um eurodeputado" contra o projeto, por afirmações "falsas" e "espúrias".