"Há mais vírus a circular agora do que há três meses", diz especialista espanhola
Neste momento há em Espanha "uma maior circulação do vírus" Sars-cov-2, que causa a covid-19, em relação à que existia antes de ter sido declarado o estado de alerta naquele país, a 13 de março, quando já havia ali 4209 casos confirmados e 120 mortos. Quem o diz, numa entrevista ao El País publicada esta segunda-feira, é Margarita del Val, virologista e imunologista que coordena a plataforma nacional espanhola de investigação para a covid-19.
"É difícil estimar, mas há mais surtos do que antes [de ter sido declarado o estado de alerta] ", adianta a especialista, sublinhando que estão nesta altura a ser feitos muitos testes, nomeadamente a todas as pessoas que fazem cirurgias, pelo que está a ser detetado "um número importante de casos positivos de pessoas que não têm o mínimo sintoma, mas que são uma importante fonte de contágio".
Face a estes surtos, "o que está a impedir que ocorra neste momento uma segunda vaga" de covid-19 em Espanha, é o facto de "a maioria das pessoas estar a usar máscara, e a fazer distanciamento social,", além de que "muitas pessoas não estão a trabalhar", afirma Margarita del Val na entrevista ao diário espanhol.
"Se não fosse isso, estaria a ocorrer uma segunda vaga" de infeções pelo coronavírus, garante a especialista.
De acordo com Margarita del Val, os estudos que estão agora a ser feitos sobre a forma como a pandemia alastrou em Espanha, em março e abril, mostram que os grandes surtos ocorreram "em espaços fechados", incluindo em "lares de idosos, restaurantes, bares e locais de trabalho", bem como "em concertos" e "ensaios de coros".
Um fator decisivo para o contágio, sublinha a responsável, "é passar muito tempo perto de alguém que está infetado".
Travar a pandemia passa pelas recomendações que já conhecidas: distanciamento social, higienização das mãos e o uso das máscaras. Esta última, "é uma das principais", nota a especialista.
"A recomendação de usar máscara foi feita de imediato na Ásia, quando surgiu a doença, mas ela não foi levada a sério na Europa", admite a Margarita del Val, que vê nas consequências dessa atitude "uma lição de humildade" para a Europa.
Quanto à preparação necessária para enfrentar uma segunda vaga de covid-19, a especialista não tem dúvidas: ela terá de passar também "por uma aplicação de telemóvel", uma vez que as pessoas infectadas "podem não recordar-se de todos os contactos que tiveram".
"As pessoas dão de bom grado informações ao Facebook, não vejo porque não se pode ter uma rede destas, que cumpra todos os padrões europeus de privacidade, para se poder lidar com este rastreio de contactos. Para mim isso será vital", garante a especialista, sublinhando que "o teletrabalho também deverá ser mais alargado".