Guerras entre polícias judiciárias (civil e militar) preocuparam Marcelo
O roubo de armas em Tancos foi alvo de várias tomadas de posição do Presidente da República (e uma já hoje). Numa delas referiu-se ao conflito entre a PJ e a PJ Militar (PJM).
Foi em 14 de julho passado. Numa nota de dois parágrafos apenas colocada no "site" da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa voltava a pressionar o Ministério Público para concluir as investigações ao caso: "O Presidente da República reafirma, de modo ainda mais incisivo e preocupado, a exigência de esclarecimento cabal do ocorrido com armamento em Tancos", lia-se, no primeiro parágrafo.
No segundo parágrafo, o PR admitia implicitamente que havia um problema - uma "questão" - entre as duas polícias, dizendo que isso não poderia "prejudicar o conhecimento": "[O Presidente da República] tem a certeza de que nenhuma questão envolvendo a conduta de entidades policiais encarregadas da investigação criminal, sob a direção do Ministério Público, poderá prejudicar o conhecimento, pelos portugueses, dos resultados dessa investigação. Que o mesmo é dizer o apuramento dos factos e a eventual decorrente responsabilização."
Assim, a detenção, hoje, do diretor da Polícia Judiciária Militar, coronel Luís Vieira, não deverá ter surpreendido Belém. Marcelo Rebelo de Sousa, aliás, conheceu o militar, numa sua deslocação a Tancos, em 4 de julho de 2017, poucos dias depois da notícia do desaparecimento das armas (28 de junho de 2017). Foi nesse dia, aliás, que o gabinete da procuradora-geral da República anunciou que a investigação tinha passado para a alçada do MP, através do DCIAP, porque estavam em em causa, entre outras, "suspeitas da prática dos crimes de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo internacional".
Marcelo terá então ficado preocupado com o relato que ouviu do oficial sobre supostos bloqueios da PJ civil estaria a fazer às investigações da Polícia Judiciária Militar. O coronel terá então contado também que o Ministério Público (MP) tinha recebido um alerta no princípio do ano sobre um assalto em preparação a uma instalação militar no centro do país (onde fica Tancos), mas guardando a informação para si.
CDS espera para ver
Em 28 de junho passado, dia em que passou um ano sobre o assalto, o PR fez questão de salientar novamente a necessidade de a investigação criminal ser concluída - mas fê-lo apoiando a centralidade neste processo do MP: "Volvido um ano sobre a data da ocorrência (28 de junho de 2017), que motivou a aludida nota, o Presidente da República reafirma, uma vez mais, a sua posição de querer ver apurados integralmente os factos e os seus eventuais efeitos jurídicos e criminais, para os quais é essencial o papel do Ministério Público."
Segundo a revista "Sábado", Joana Marques Vidal terá mantido o PR a par da evolução das investigações.
No Parlamento, a direita tem procurado explorar o caso de forma a colocar o Governo em apuros. Afirmações do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, especulando sobre a possibilidade de afinal nem ter havido assalto nenhum, deram gás às críticas do CDS e do PSD. O CDS, inclusivamente, já falou na hipótese de lançar um inquérito parlamentar - mas por ora essa é apenas uma hipótese em aberto. "O CDS olhará para esse assunto com a maior atenção, como tem olhado para todas as questões relacionadas com Tancos", disse hoje Assunção Cristas.