Guarda prisional suspeito de agredir militantes da CDU

Trabalha na Carregueira, é da claque portista Ultra Coletivo 95. À PSP garantiu que ajudou a separar envolvidos nos distúrbios.
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Um guarda prisional está identificado no inquérito aberto às alegadas agressões a pelo menos um militante da CDU no final do comício no Coliseu dos Recreios (Lisboa), que marcou, no domingo, o arranque da campanha eleitoral para as legislativas. O militante apresentou queixa e a investigação prossegue.

O guarda é suspeito de envolvimento nos conflitos apesar de ainda não ter sido constituído arguido. Segundo soube o DN junto de fontes ligadas à investigação, a PSP já verificou o seu perfil - está em funções na cadeia da Carregueira (Sintra) -, e constatou que está referenciado por comportamentos excessivos em recintos desportivos, tendo ligações à claque do Futebol Clube do Porto Ultra Coletivo 95. Esta associação tem um subgrupo cujos elementos estão conotados com a extrema-direita, uma preferência ideológica que o guarda prisional é suspeito de ter - nomeadamente, com alegadas ligações ao partido nacionalista PNR.

Segundo fontes próximas do visado ouvidas pelo DN, este elemento do corpo da Guarda Prisional tem uma versão diferente do que aconteceu e nega qualquer participação nas agressões. No domingo passado, o guarda explicou à PSP que estava na Ginjinha do Rossio com um amigo e que apenas interveio nos incidentes à porta do Coliseu para separar as pessoas envolvidas e acalmar os ânimos. Adiantou então que ao tentar sair dali levou um encontrão e perdeu a carteira. Só percebeu que a tinha perdido no cimo da Rua das Portas de Santo Antão (onde fica o Coliseu), pelo que decidiu voltar ao local, onde foi informado pela polícia que a sua carteira tinha sido levada para a esquadra por militantes da CDU. Já na esquadra, constatou que os militantes pensavam que a carteira fosse de alguém envolvido nos distúrbios, nomeadamente de skinheads vestidos de preto que descreveram como participantes nas agressões. Alto, na faixa etária dos 30 anos, de cabeça rapada e porte atlético, o guarda prisional podia caber na referida descrição. Mas o DN sabe que negou ter agredido militantes da CDU, alegando que envergava uma T-shirt branca e que voltou ao local por causa da carteira, o que não faria se estivesse envolvido. Fontes próximas garantem que o guarda prisional até ficou como testemunha dos ofendidos (militantes da CDU agredidos) mas o DN sabe que a investigação segue a pista de ser um dos alegados autores das agressões.

O profissional da cadeia da Carregueira, residente em Mem Martins (Sintra), nunca foi alvo de processos disciplinares, sendo considerado um bom profissional nos estabelecimentos de Sintra por onde passou: Linhó e Carregueira. É filiado no Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional (SICGP), que tem algumas centenas de associados, na maioria guardas da Carregueira. Júlio Rebelo, presidente do SICGP, garante que os únicos problemas que o colega enfrentou na cadeia "foi pela participação em vigílias e greves, como todos nós". O profissional em causa está há cinco anos no Corpo da Guarda Prisional, tendo-se estreado em funções no difícil Estabelecimento Prisional do Linhó, em Sintra, para onde são enviados os jovens gangsters dos subúrbios. Foi transferido em maio de 2013 para a Carregueira, também em Sintra.

Ferrenho da claque

A grande paixão do guarda prisional é o FC Porto, tendo sido avisado por colegas do Linhó para ter cuidado, uma vez que apareceu numa foto pública em que se vê empoleirado num autocarro da claque portista a que pertence depois de o Porto ter perdido por 3-0 com o Benfica, no Algarve, em 2010, no final da Taça da Liga. No Linhó, o profissional fazia até muitas trocas de turnos para poder acompanhar a claque, segundo fontes prisionais. Mas esta paixão futebolística nunca se traduziu em comportamentos violentos com os colegas com quem conviveu nem com os reclusos.

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