"Hoje, 23 de janeiro, juro assumir formalmente as competências do governo nacional como presidente encarregado da Venezuela para conseguir o fim da usurpação, um governo de transição e eleições livres", disse Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional venezuelana, frente a milhares de pessoas numa manifestação contra Nicolás Maduro em Chacao.."Assumo a responsabilidade ao abrigo do artigo 333 e do 350. Juro assumir o compromisso da não violência", acrescentou, citado pelo jornal El Nacional, que refere que a multidão cantou depois o hino. Antes, Guaidó tinha perguntado se contava ou não com o apoio da multidão e recebeu uma resposta positiva..O presidente Nicolás Maduro, que já recebeu o apoio da Rússia, respondeu cerca de duas horas depois. Em declarações a partir do Palácio Miraflores, sede da presidência, afirmou: "Esta é a casa do povo, da soberania popular. Aqui há um povo bolivariano a governar-se. Somos a maioria, somos a alegria, somos o povo de Hugo Chávez", afirmou. E já pediu às forças armadas que lhe sejam leais..Recusando-se a abandonar o poder - "neste palácio presidencial estamos e estaremos com o voto do povo. Só o povo põe, só o povo tira" - Maduro acusou as manifestações que saíram à rua esta quarta-feira de serem instrumentalizadas pelos Estados Unidos.."Não queremos voltar ao século XX. O povo venezuelano diz não ao golpismo, não ao imperialismo". E prometeu não desistir: "Aqui vamos ao combate. Lutar até à vitória e mais além".."Chamo os poderes de Estado a cerrarem fileiras em defesa da democracia venezuelana. Peço às Forças Armadas máxima lealdade, máxima união, máxima disciplina", disse Maduro..As forças armadas responderam com um tuíte em que ratificam "o respeito à Constituição e a "lealdade absoluta" a Maduro, "eleito pelo povo para o período 2019-2025..Maduro afirmou que o presidente turco, Recep Erdogan, lhe telefonou para o encorajar a seguir em frente. E recebeu também o apoio da Rússia - vários membros do parlamento russo criticaram Trump por reconhecer Juan Guaidó.."Penso que nesta situação, os Estados Unidos estão a tentar executar uma operação para organizar a próxima 'revolução colorida' [expressão utilizada pelos russos para caracterizar revoltas populares, como as conduzidas na Geórgia, Ucrânia e Quirguistão]", disse o vice-presidente do comité para os assuntos externos da câmara alta do parlamento russo, Andrei Klimov, à agência estatal russa RIA-Novosti..Maduro anunciou ainda o corte total de relações diplomáticas com os Estados Unidos, dando 72 horas aos diplomatas para deixarem o país..A administração Trump reconheceu já legitimidade Juan Guaidó (ler mais a baixo). O exemplo foi seguido pelo Canadá e outros países..Após chamar "traidor", "fascista" ou "nazi" a todos os que reconheceram a legitimidade a Juan Guaidó, Maduro terminou o discurso com gritos de "Chábez vive!".O que diz a Constituição.O artigo 333.º da Constituição venezuelana, prende-se com as garantias do texto legal e diz que este "não perderá a sua validade se deixar de ser observada por força de lei ou porque é revogada por qualquer outro meio que não aquele previsto nela. Em tal eventualidade, qualquer cidadão investido ou cidadão com ou sem autoridade, terá o dever de colaborar no restabelecimento da sua validade efetiva"..Já o artigo 350.º da Constituição diz que "o povo da Venezuela, fiel à sua tradição republicana, à sua luta pela independência, a paz e a liberdade, desconhecerá qualquer regime, legislação ou autoridade que contrarie os valores, princípios e garantias democráticas ou mine os direitos humanos.".Um dia após a tomada de posse de Nicolás Maduro para um segundo mandato, que não é reconhecido por parte da comunidade internacional (incluindo EUA e União Europeia), Guaidó tinha-se mostrado disponível para assumir a presidência interina do país, caso contasse com o apoio dos militares..Guaidó terá ainda dito aos apoiantes que não teme ser preso: "Não tenho medo disso, tenho medo pela nossa gente que está a passar muito mal", referiu, citado pelo El Nacional..Trump reconhece Guaidó.O presidente norte-americano, Donald Trump, já reconheceu oficialmente Guaidó como presidente interino da Venezuela. "Os cidadãos da Venezuela já sofreram demasiado nas mãos do regime ilegítimo de Maduro. Hoje, reconheci oficialmente o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como presidente interino da Venezuela", escreveu no Twitter..Os Estados Unidos fizeram entretanto saber que mantêm "todas as opções sobre a mesa" se o presidente Nicolás Maduro responder com violência ao anúncio do presidente da Assembleia Nacional. "Se Maduro e os seus amigos decidirem responder com violência, prejudicar a Assembleia Nacional ou outros eleitos temos de adotar todas as opções que estão em cima da mesa", disse um alto funcionário norte-americano numa chamada telefónica com a Reuters e a Efe..Portugal pede respeito pela legitimidade da Assembleia. Cautela europeia.O ministro dos Negócios Estrangeiros português escreveu entretanto na rede social. "Acompanhamos minuto a minuto a evolução da situação na Venezuela. A nossa preocupação principal é a segurança da comunidade portuguesa. Estamos também em contacto permanente com os nossos parceiros mais próximos, designadamente na União Europeia.".Minutos depois, Augusto Santos Silva voltou a tuitar: "Apelamos a que não haja violência na Venezuela, que seja respeitada a legitimidade da Assembleia Nacional e que seja também respeitado o direito das pessoas a manifestarem-se pacificamente.".Numa primeira declaração, o presidente do Conselho Europeu disse esperar que "toda a Europa se una em apoio às forças democráticas na Venezuela." Donald Tusk acrescentou: "Ao contrário de Maduro, a Assembleia - incluindo Juan Guaidó - tem um mandato democrático dos cidadãos venezuelanos.".Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini divulgou um comunicado em que apela à realização imediata de "eleições credíveis e transparentes". No entanto, não faz qualquer menção ao juramento de Juan Guaidó. Limita-se a pedir respeito pela "segurança e liberdade" de Guaidó e dos restantes deputados da Assembleia Nacional (que está nas mãos da oposição a Maduro)..A declaração da responsável diplomática da UE levou o ministro português a regressar ao Twitter: "Portugal apoia integralmente a declaração da Alta Representante em nome de toda a UE. Renovamos o apelo para que não haja violência e que seja plenamente respeitada a vontade inequivocamente manifestada hoje pelo povo venezuelano para a realização de eleições livres e justas.".As prudência europeia contrasta com os apoios dos latino americanos. O uruguaio Luis Almagro, secretário-geral da Organização de Estados Americanos, escreveu no Twitter uma mensagem a felicitar Guaidó. "Tem todo o nosso reconhecimento para impulsionar o regresso do país à democracia"..PSUV com Maduro.O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) reiterou nas redes sociais o apoio a Maduro, com imagens das manifestações a favor do presidente que também decorrem no país.."Junto com o povo revolucionário ratificamos o nosso apoio contundente e irrestrito ao presidente Nicolás Maduro. Venceremos!", lê-se na página de Twitter oficial..(ATUALIZADA ÀS 23:44)