Yegor Zhukov tinha 1 ano quando, no último dia de 1999, Vladimir Putin assumiu a presidência da Rússia após a saída de Boris Ieltsin. O ex-diretor das secretas tinha sido nomeado primeiro-ministro em agosto e Zhukov faz parte da geração Putin, que nasceu e cresceu a vê-lo ora num cargo ora noutro e que agora já tem influência política..O estudante de Ciência Política, que é seguido por 143 mil pessoas no seu canal de YouTube, foi detido a 2 de agosto, acusado de motim por participar nos protestos ilegais de 27 de julho. Arrisca oito anos de prisão. Os protestos foram desencadeados pela rejeição de 13 candidaturas da oposição às eleições municipais de Moscovo, que se realizam neste domingo e que são um teste a Putin..Zhukov tornou-se um dos símbolos desta geração que começou a fazer-se ouvir nas presidenciais de 2018 - quando Alexei Navalny, o principal opositor, foi impedido de de se candidatar. O Kremlin lançou então campanhas nas redes sociais especialmente dedicadas aos mais jovens, depois de muitos estudantes do secundário terem começado a aparecer nos protestos da oposição, mas não parece estar a conseguir cativar os mais jovens..A popularidade de Putin é menor entre os mais jovens: em janeiro deste ano, uma sondagem da Fundação da Opinião Pública indicava que entre os 18 e os 30 anos a popularidade do presidente era de 32%. Entre os que têm mais de 60 anos é de 64%. O número dos que têm opinião desfavorável de Putin é também maior entre os jovens: 18 %, sendo de apenas 8% entre os mais velhos. Dos 146 milhões de russos (incluindo os da Crimeia), 63 milhões (43%) têm menos de 34 anos..A retórica de pobreza e insegurança dos anos 1990 (após a queda da União Soviética e antes de Putin chegar ao poder) contra a prosperidade e segurança da primeira década do milénio que ele trouxe não parecem ter qualquer efeito junto da nova geração, nascida entretanto. Além disso, o ataque contra um jovem mobiliza centenas de outros que, armados com as novas tecnologias, reagem em defesa de todos, gerando movimentos de solidariedade que ultrapassam as fronteiras. "Quero agradecer ao nosso governo pela enorme quantidade de trabalho que faz todos os dias para se desacreditar", disse Zhukov numa ida a tribunal, em meados de agosto. "É difícil encontrar alguém que tenha feito mais para aumentar o número de opositores do que o governo russo", acrescentou.. Putin fora em 2024?.Segundo a Constituição, o presidente está impedido de se candidatar a um novo mandato quando este acabar, em 2024. Se em 2008 passou a pasta a Dmitri Medvedev, assumindo o cargo de primeiro-ministro, para voltar quatro anos depois ao Kremlin, agora essa jogada não parece possível. Os protestos, quando regressou à presidência, continuam a ser os maiores da era Putin. Ao mesmo tempo, o presidente terá então 71 anos, ainda muito novo para uma verdadeira reforma..O futuro do seu partido, Rússia Unida, também parece complicado. Depois de resultados dececionantes nas eleições para governadores no ano passado, muitos candidatos de Putin apresentam-se a estas municipais como independentes para tentar evitar que a impopularidade do partido os atinja. E as previsões é de um descalabro nas legislativas de 2021..O argumento das autoridades eleitorais para rejeitarem 13 candidaturas em Moscovo (tribunais reverteram uma dessas decisões) é de que os candidatos não conseguiram reunir o número de assinaturas necessárias. Mas os críticos do Kremlin viram nesta decisão uma jogada de Putin. O poder a nível municipal não é muito, mas muitos candidatos da oposição que têm sido afastados da corrida a cargos mais importantes esperavam aproveitar para ganhar experiência e visibilidade..Desde a decisão da comissão eleitoral, os russos têm saído às ruas em protesto quase todos os fins de semana, apesar de as manifestações não terem sido autorizadas pelo governo. Mais de 1200 pessoas foram detidas no protesto de 27 de julho, com pelo menos dez (seis deles com menos de 30 anos) a terem de responder em tribunal neste mês. Lyubov Sobol, advogada e bloguer de 31 anos e uma das candidatas afastadas, esteve em greve de fome.."As pessoas pedem mais. É uma geração jovem e abastada que cresceu sob Putin, e temos de estar atentos a isso e entender que esta geração... eles precisam de encontrar o seu lugar aqui, na Rússia. Precisam de mobilidade social", disse à agência AP Ella Pamfilova, líder da Comissão Central de Eleições..Veterana da oposição, Pamfilova foi nomeada por Putin em 2016. Mas os elogios que então recebeu esfumaram-se perante a decisão de rejeitar mais de uma dezena de candidaturas, sendo apelidada de "cabeça falante" que defende o Kremlin por Sobol. Na sexta-feira de manhã, um homem encapuzado invadiu a sua casa e atacou-a com um taser. Pamfilova disse mais tarde às agências de notícias russas que estava bem e que iria ultrapassar o ataque.