A Galiza e o País Basco vão neste domingo a votos, numas eleições autonómicas que devem deixar tudo na mesma ou até reforçar o poder dos atuais líderes regionais: Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular da Galiza, e Iñigo Urkullu, do Partido Nacionalista Basco. Mas com as sondagens a dizer isso há meses e uma eleição em plena pandemia de coronavírus, com casos de novos focos em ambas as comunidades, o medo é que a eventual abstenção possa trazer surpresas..As autonómicas nas duas comunidades tinham de ocorrer o mais tardar em outubro de 2020, mas o anúncio do presidente da outra autonomia histórica, a Catalunha, de que iria convocar eleições antecipadas, fez soar os alarmes. Quim Torra disse que revelaria a data das eleições após ver aprovado o orçamento catalão. Temendo um contágio do debate independentista e das consequências a nível nacional, bascos e galegos anteciparam a ida às urnas para 5 de abril. O coronavírus veio alterar os planos iniciais, com a nova data, 12 de julho, a surgir após o anúncio do desconfinamento. Entretanto, fruto das divisões entre independentistas catalães, ainda não há data para se votar na Catalunha, apesar de o orçamento ter sido aprovado em abril..Galiza.Nos últimos 30 anos, só entre 2005 e 2009 o PP não governou a Galiza - o socialista Emílio Pérez Touriño esteve então à frente da Xunta numa coligação com o Bloco Nacionalista Galego (BNG), apesar de a vitória ter sido do histórico Manuel Fraga. Mas atualmente, mais valiosa do que a marca PP (quase ausente dos cartazes de campanha), é a marca Feijóo, que chegou a ser apontado como possível sucessor de Mariano Rajoy à frente do partido..Numa região onde nem Ciudadanos nem a extrema-direita do Vox conseguem ultrapassar o nível mínimo para elegerem um representante entre os 75 do Parlamento regional, Feijóo é o rosto da direita com um discurso mais de centro. Um contraste com o líder nacional, Pablo Casado, que procura uma posição mais radical para travar a ascensão do Vox. Daí que a vitória do PP galego terá um sabor amargo para Casado..Feijóo, que procura a quarta maioria absoluta para igualar o recorde de Fraga, enfrenta do outro lado a esquerda dividida entre socialistas, BNG, a marca regional do Podemos e os restos do En Marea. Essa maioria absoluta chegou a estar em risco, depois de os socialistas terem ganho as legislativa de abril de 2019 na região (pela primeira vez), perdendo pelos mínimos na repetição eleitoral de novembro..Mas Gonzalo Caballero, o candidato socialista, foi traído pelo coronavírus e pela mensagem de Feijóo de que, se perder a maioria, a Galiza será governada por "um multipartido de dez partidos". Ainda assim, deve melhorar o resultado do PSOE de 2016, num duelo com o BNG que deverá mais do que duplicar o número de deputados no Parlamento regional. O Podemos e o En Marea serão os mais prejudicados..País Basco.O Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla original, de centro-direita) está à frente dos destinos do País Basco desde o primeiro lehendakari, que governou no exílio durante a Guerra Civil, tendo a única exceção sido o curto mandato do socialista Patxi López (2009-2012). Este foi eleito com o apoio do PP, depois de umas eleições autonómicas em que a chamada esquerda abertzale (independentista) foi ilegalizada..Segundo as sondagens, Urkullu deverá reforçar a sua liderança, ficando apenas a depender de um outro partido para governar. Atualmente, a coligação com os socialistas ainda deixa Urkullu um deputado abaixo da maioria absoluta, interessando ao PSOE manter essa coligação agora reforçada - o PNV é um importante sócio do primeiro-ministro Pedro Sánchez a nível nacional. Os socialistas sobem às custas do Podemos, o mais prejudicado como na Galiza..O EH Bildu, herdeiro da esquerda abertzale, deverá ser o segundo partido mais votado, à frente dos socialistas e sempre disse estar disponível para o PNV quando este apresentar um plano tendo em vista a independência do País Basco. Quase uma década após o fim da luta armada da ETA, os dois partidos teriam maioria para avançar numa rutura unilateral, como na Catalunha, mas a aposta do PNV passa por aprofundar a autonomia..À direita, Partido Popular e Ciudadanos avançam coligados, devendo perder deputados num revés para Casado. E há sondagens que dão ao Vox um representante..Coronavírus.Em plena pandemia de coronavírus, o voto postal subiu em ambas as regiões, com os favoritos à vitória a temer o impacto de uma eventual baixa participação neste domingo. E as diferenças que esta pode trazer em relação ao que dizem as sondagens. Nas duas comunidades, quem tem infeção ativa por covid-19 (cerca de 460 pessoas) não pode ir votar, segundo as autoridades de saúde.