Frente Polisário denuncia "invenções" do rei de Marrocos

A Frente Polisário qualificou neste domingo de "ilusões" e "invenções" as declarações de Mohammed VI, que afirmou num discurso que o Sara Ocidental, território disputado pelos independentistas sarauis e Rabat, "não é negociável".
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Mohammed VI declarou no sábado, num contexto de fortes tensões com a Argélia por causa da ex-colónia espanhola, que "o Sara Ocidental nunca estará na agenda de nenhuma negociação".
O monarca defendeu uma "solução pacífica para o conflito", mas reiterou a rejeição marroquina de qualquer independência do Sara Ocidental. O discurso é "um misto de sofismas, invenções e ilusões para justificar a intransigência, arrogância e aventureirismo" de Marrocos, reagiu o Ministério da Comunicação saraui.

"O povo saraui não cessará a sua luta até que Marrocos termine a sua agressão e ocupação ilegal do território da República Saraui", advertiu a Frente Polisário em comunicado.

"O rei de Marrocos sabe bem que a República Saraui, vizinha do Reino de Marrocos, é uma realidade irreversível da qual não pode fugir, visto que Marrocos está ao seu lado em acontecimentos multilaterais a nível continental e internacional", diz a nota.

Mohammed fez o alerta no seu tradicional discurso por ocasião do aniversário da Marcha Verde, uma iniciativa do falecido rei Hassan II, após a qual o país anexou o Sara Ocidental, há 46 anos.

As suas palavras vêm na sequência de o Tribunal de Justiça da União Europeia ter anulado, a 29 de setembro, os acordos de associação e de pesca UE-Marrocos, após decisão a favor da Frente Polisário, que os tinha contestado por explorarem os recursos daquele território.

Marrocos controla 80% do Sara Ocidental e propõe uma ampla autonomia sob a sua soberania, enquanto a Polisário, apoiada pela Argélia, pede um referendo sobre a autodeterminação.

O Conselho de Segurança da ONU pediu há uma semana que "as partes" no conflito do Sara Ocidental retomem as negociações "sem condições prévias e de boa-fé".

Essas negociações serão retomadas sob a égide do novo enviado da ONU, o ítalo-sueco Staffan de Mistura, "para chegar a uma solução política justa, duradoura e mutuamente aceitável" com vistas à "autodeterminação do povo do Sara Ocidental" , de acordo com a ONU.

O discurso do soberano marroquino aconteceu num momento em que as relações entre a Argélia e Marrocos estão no ponto mais baixo. Em agosto, após meses de atrito, Argel rompeu relações diplomáticas com Marrocos, acusando-o de "ações hostis". Rabat lamentou uma decisão "totalmente injustificada".

As tensões aumentaram novamente nos últimos dias depois de a Argélia se ter queixado de um atentado que matou três camionistas argelinos no Sara Ocidental - um território disputado entre o Marrocos e os combatentes pela independência saraui da Frente Polisário - que Argel atribuiu a Rabat.

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