O modelo de rondas aos paióis do Exército em Tancos tinha "vulnerabilidades muito grandes", as quais continuariam a existir mesmo com o dobro dos soldados ou mais viaturas, assumiram fontes militares ouvidas pelo DN.."Era para descansar" que os militares entendiam o facto de serem escalados para fazer a segurança daquele local isolado, frisou uma das fontes com acesso à investigação ao furto de material de guerra - um "crime estritamente militar" - e que foram ouvidas sob anonimato, por não estarem autorizadas a falar do processo..Acresce que "era tão fácil, tão fácil lá entrar que as possibilidades são imensas" quanto à autoria do furto, bem como quem no Exército poderá ter dado as informações e cuja existência já foi dada como adquirida pelo próprio comandante do ramo, lamentou a mesma fonte, corroborando o dito ao DN por outras fontes que também visitaram o local nos dias seguintes à descoberta do caso..O espaço onde estão sediadas as duas dezenas de paióis e paiolins tem um perímetro aproximado de 2500 metros e uma área próxima dos 350 mil metros quadrados, para o qual era destacada "uma seção mais" (uma dezena de militares) em vez do efetivo para o qual foi construído: um pelotão (cerca de 30 soldados)..Os militares para ali enviados "não tinham a mínima noção" do que é fazer segurança a locais sensíveis - desde logo por falta de treino específico para essa missão - "e iam para os paióis descansar", lamentou a referida fonte. Testemunho disso, acrescentou este oficial entre outros exemplos, era o facto de não haver qualquer acompanhamento ou controlo dos trabalhadores civis que tinham estado a substituir parte das vedações dos paióis - que "não são suspeitos, mas se quisessem tinham levado" o que lhes apetecesse sem que alguém notasse..Nesta matéria da segurança, outra fonte evocou o exemplo da Força Aérea: todas as bases do ramo estão a cargo dos militares de uma mesma especialidade, a Polícia Aérea, e não dos que estão destacados em cada uma dessas infraestruturas (e com outras especialidades)..Acresce que, em Tancos, "mesmo com jipes as rondas eram mínimas porque o serviço era feito da mesma forma e qualquer que fosse a unidade" encarregada de o fazer, entre as cinco que partilhavam essa responsabilidade: as unidades de Apoio da Brigada de Reação Rápida (BRR) e de Apoio Geral de Material do Exército (Benavente), os regimentos de Paraquedistas, de Infantaria n.º 15 (Tomar) e de Engenharia n.º 1..Falta de jipe é uma falsa questão.Aliás, o facto de não haver uma viatura para fazer rondas motorizadas nos dias que antecederam a descoberta do furto - que as fontes do DN estimam ter ocorrido entre a noite de dia 26 e a tarde do dia 28, quando se viram os cortes na vedação - também foi qualificado como uma falsa questão..Porquê? A resposta é dada com outra pergunta: "Os militares saíam dos jipes para irem ver se os portões dos paióis estavam fechados?" É que essa é a única forma de verificar o estado dos portões e dos cadeados, dada a configuração daquele espaço e dos acessos aos paióis. Uma outra interrogação ouvida pelo DN foi a de saber como é que não foi possível arranjar outra viatura num dos vários quartéis do Exército existentes no perímetro militar de Tancos. "Não havia um jipe entre tantas unidades?", sintetizou uma das fontes..Voltando à questão do pessoal, outra dos oficiais argumentou que os efetivos empregues nas rondas podiam ser reduzidos, mas "se quisessem trabalhar faziam mais" quando se está a falar de adultos voluntários na casa dos 20 anos..A este propósito, o Exército disse ao DN que na semana em que se descobriu o furto (25 de junho a 1 de julho) "não existiu qualquer participação de militares do Regimento de Engenharia n.º 1 nas ações do Plano Lira", relativo ao apoio na prevenção e combate aos fogos florestais. Contudo, na semana anterior tinham sido empenhados cinco sargentos e 15 praças - correspondendo a cinco destacamentos de engenharia - na zona de Pedrógão Grande (onde os fogos mataram 64 pessoas)..O comandante do regimento de Engenharia proibiu a saída dos militares e civis que ali estavam, após saber do furto de material de guerra, medida que abrangeu quem lá entrou a seguir. Esse coronel abriu depois um inquérito para "determinar as condições específicas e particulares em que ocorreram os factos" no dia em que o furto foi descoberto, precisou o Exército..O ramo diferenciou a sua natureza disciplinar da dos processos de averiguações instaurados pelo chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, os quais tinham caráter técnico e visavam "aspetos mais abrangentes" ligados às condições de armazenamento do material, às cargas existentes ou ao sistema de controlo de acessos e vigilância eletrónica..Foi neste contexto que Rovisco Duarte afastou - usando a inexistente figura jurídica da "exoneração temporária" - os comandantes das cinco unidades envolvidas na segurança dos paióis, visando "única e exclusivamente a criação de garantias de que as averiguações em curso decorreriam de forma absolutamente isenta e transparente", reafirmou o Exército..Como os referidos comandantes já foram reempossados, fica por saber algo que só se avaliará mais tarde: poderá algum deles voltar a ser exonerado em função dos resultados do inquérito em curso no Regimento de Engenharia? Ou a responsabilização hierárquica ficará ao nível dos sargentos da guarda, como admitiu uma das fontes? Outra dúvida diz respeito às regras de empenhamento dos militares destacados para as rondas: estavam autorizados a disparar e em que condições?.Certo é que "o Exército mantém toda a colaboração com as autoridades, a quem fornecerá os inquéritos e as diligências já efetuadas ou quaisquer outros elementos que sejam solicitados", adiantou o ramo. Quem o pode fazer é o Ministério Público, a PJ e ainda a PJM, enquanto órgão de polícia criminal com "competência específica" para investigar "crimes estritamente militares" e ainda "competência reservada" no caso dos "crimes cometidos no interior de unidades, estabelecimentos e órgãos" das Forças Armadas.